Editorialista do Estadão mente sobre Lula e é desmentido pelo próprio… Estadão

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Jornal porta-voz da elite financeira paulista joga palavras ao vento sem qualquer base fática para atacar o presidente da República

Por Ivan Longo, compartilhado de Fórum




Editorial do Estadão traz informação falsa sobre governo Lula.Créditos: Reprodução/Ricardo Stuckert

Estadão, jornal que publicou um dos mais infames artigos da história recente da política brasileira, o famigerado “Uma escolha muito difícil”, às vésperas do segundo turno entre Fernando Haddad e Jair Bolsonaro em 2018, voltou a produzir um editorial digno de nota.

Intitulado “O jogo de perde-perde de Lula”, o texto, sem assinatura e marcado como “opinião do Estadão”, divulgado nesta segunda-feira (12), é uma miscelânea de ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva construída por meio de contorcionismos textuais sem base fática. O editorial cita as eleições na Venezuela e o recente atrito diplomático entre o Brasil e a Nicarágua para vender a ideia de que, sob o governo Lula, o país perdeu o protagonismo que tinha no cenário internacional e sua liderança regional.

Segundo o jornal, Lula “jogou no lixo” a tradição diplomática exitosa do Brasil, chamando a política externa do governo de “deplorável”. O periódico, que desde sua fundação atua como porta-voz da elite financeira paulista, ainda afirma que “esse sempre foi o padrão” de Lula – como se não tivesse sido justamente nos dois primeiros governos do petista que o Brasil se tornou um ator de peso no cenário mundial, feito que faz com que Lula, ainda hoje, seja recebido com pompas e tapetes vermelhos em qualquer país do globo, independentemente da orientação política do governo de ocasião.

Ao afirmar que Lula, utilizando como base o caso venezuelano e nicaraguense, não tem mais qualquer peso na América Latina, o jornal da família Mesquita ignora solenemente o fato de que, se não fosse a ponderação de Lula em relação às recentes crises políticas no continente, a região estaria à beira de uma guerra civil. Isso, claro, sem mencionar a grandeza diplomática do governo brasileiro ao assumir o comando da Embaixada da Argentina em Caracas, a despeito de Milei, após a representação argentina na Venezuela ser expulsa por Maduro.

Foi a Lula que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, telefonou para discutir o impasse venezuelano, sabendo que o mandatário brasileiro é respeitado tanto pela oposição quanto pelo governo de Caracas. Também foi a Lula que o presidente francês, Emmanuel Macron, ligou na mesma semana, fazendo questão de elogiar a posição do Brasil que, junto à Colômbia e ao México, divulgou uma nota cobrando transparência na divulgação dos resultados das eleições na Venezuela e concordando com o fato de que é preciso evitar um “novo Guaidó” – ou seja, não se apressar em reconhecer a pretensa vitória do opositor Edmundo Gonzáles.

Para o Estadão, entretanto, Lula, apesar de ser peça central nos diálogos internacionais sobre fatos políticos recentes, não tem mais peso regional ou global e faz um jogo de “perde-perde”. Quem perde, afinal, com a posição ponderada que o Brasil vem expressando? O povo brasileiro? Maduro? Gonzáles? Biden? Macron? Eis um mistério…

Não menos importante e ainda mais grave: o Estadão mente. No texto em questão, o editorialista, para endossar seus argumentos vazios contra o presidente brasileiro, afirma que “ninguém escolhe o Brasil como destino de investimentos em razão do palavrório supostamente humanitário de Lula sobre a guerra na Ucrânia ou em Gaza”. Só faltou combinar com o próprio Estadão.

Em 30 de abril deste ano, o jornal publicou uma matéria com o seguinte título: “Brasil é um dos países que mais recebeu investimento estrangeiro em 2023”. Assinada por Maria Ligia Barros, o texto desmente totalmente a informação do editorial de que “ninguém escolhe o Brasil” para investir. O dado repercutido anteriormente pelo periódico paulista é da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que apontou US$ 64 bilhões entrando no Brasil em 2023 através de investimento estrangeiro direto.

Esses números colocaram o Brasil na segunda posição entre os países que mais recebem investimentos estrangeiros, atrás apenas dos Estados Unidos e à frente do Canadá. Uma semana antes do balanço da OCDE, o mesmo Estadão já havia noticiado que o Brasil voltou ao ranking dos 25 países mais atrativos para o investimento estrangeiro.

Não é uma questão de opinião. O editorialista do Estadão mente. E pior: diz o contrário das notícias que seu próprio jornal divulga. Ou não lê seu veículo, ou não acertou os ponteiros com a chefia. Seja qual for a hipótese, esta sim é uma situação “deplorável” e um jogo de “perde-perde”: perde a informação, perde o leitor.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum

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