Para conhecer um pouco da trajetória de Ednaldo Rodrigues, que, apesar de ser um ilustre desconhecido no mundo do futebol, chegou à presidência da CBF, recorri ao Wikipédia.
Por Bepe Damasco, compartilhado de seu BLog
Descobri que o baiano de Vitória da Conquista, de 71 anos, que chegou a ser jogador de futebol amador nas décadas de 1970 e 1980, é formado em Ciências Contábeis e presidiu a Federação Baiana de Futebol até ser vice-presidente de Rogério Caboclo, na direção da CBF.
Com a renúncia de Caboclo, ele assume interinamente a presidência da entidade em 2021. Em março de 2023, Ednaldo é eleito presidente, mas depois de suspeitas de irregularidades no pleito, acaba afastado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Reconduzido ao cargo por decisão liminar do ministro Gilmar Mendes, consegue a proeza de ser reeleito, agora em março de 2025, com 100% dos votos de um colégio eleitoral formado pelos times das séries A e B e pelas federações.
É de cair o queixo imaginar como os grandes clubes brasileiros, objetos da paixão dos torcedores e responsáveis diretos pelo grande prestígio popular do esporte, podem estar satisfeitos, ou melhor, plenamente satisfeitos com uma gestão caótica, que coleciona fracassos e vexames, dentro e fora do campo. Vale lembrar que o ex-jogador Ronaldo, que se colocara como pré-candidato a presidente, desistiu porque sequer conseguiu o apoio mínimo necessário para lançar a candidatura. Que moral tem os cartolas dos clubes para reclamar do quadro de descalabro atual?
Apenas alguns exemplos:
1) Pior campanha da história da seleção em eliminatórias de Copa do Mundo (que o Brasil não ganha há 24 anos), culminando com a humilhação sofrida há duas semanas, na goleada de 4 x 1 contra a Argentina, com direito a olé desde os primeiros minutos de jogo.
2) A CBF assiste passivamente, sem sequer esboçar alguma reação, a partidas de suas competições disputadas em gramados esburacados, desnivelados e carecas, onde mal poderiam ser jogadas partidas de várzea. Contam-se nos dedos de uma das mãos os campos em boas condições de jogo em todo o país.
3) O nível das arbitragens beira a calamidade. Rodada após rodada do Campeonato Brasileiro o que se vê é um festival de erros grosseiros e desastrosos. O VAR, que chegou como uma ferramenta importante para reduzir os erros de juízes e bandeirinhas, se transformou em parte do problema no Brasil, na medida em que, com frequência, se omite ou confirma graves equívocos cometidos pelos árbitros de campo. É importante destacar que a CBF, de uns tempos para cá, suspendeu os treinamentos presenciais da arbitragem, substituindo-os por instruções virtuais. O resultado está aí.
Reportagem da última edição da Revista Piauí desnuda a vida nababesca de Ednaldo como mandatário da CBF, incluindo salário de R$ 1 milhão, moradia prolongada em hotel cinco estrelas da Barra da Tijuca, no Rio, junto com seus familiares; trem da alegria para a Copa do Qatar, ofertando a cerca de 50 apaniguados voos na primeira classe, hotel de luxo e diária; aumento astronômico dos salários dos presidentes de federações de R$ 50 mil para R$ 212 mil. Alguém sabia que a CBF paga os vencimentos dos presidentes de federações?
Nem Ednaldo nem a CBF responderam à matéria da Piauí. É um caso clássico de “quem cala consente”. Com poucas exceções, a mídia esportiva também silenciou a respeito da vida de príncipe levada pelo presidente da CBF.
Embora seja uma entidade privada, o faturamento milionário da CBF só é possível devido à paixão dos brasileiros por futebol, que neste sentido é um bem público. Trocando em miúdos, a gastança pode ser até legal, mas não é legítima e viola preceitos éticos elementares.
Por fim, fica a pergunta?
Qual a mágica feita por Ednaldo para contar com o apoio unânime de clubes e federações e se manter intocável, mesmo esbanjando incompetência administrativa, colecionando fracassos esportivos e torrando dinheiro do futebol brasileiro?