Eduardo Bolsonaro, não agradar a você não é falta de higiene – pelo contrário

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Por Nathalí Macedo publicado no DCM – 

A falácia de que “mulheres de direita são mais bonitas e higiênicas” não foi inventada por Eduardo Bolsonaro: ele apenas reproduziu a insanidade (aliás, reproduzir insanidades é a especialidade desta família, que nunca inventa nada, nem mesmo os insultos).

Eduardo Bolsonaro. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agencia Brasil

“As mulheres de direita são mais bonitas que as da esquerda. Elas não mostram os peitos nas ruas e nem defecam nas ruas. As mulheres de direita têm mais higiene”, disse Eduardo Bolsonaro no protesto em apoio ao pai dele.




O fato mais marcante na vida pública de Eduardo, vale mencionar, é ter sido trocado por um médico cubano. A mulher responsável pelo pé-na-bunda histórico foi Patrícia Lélis, que acusa de estupro o pastor-deputado Marco Feliciano. Patrícia costumava ser uma higiênica mulher de direita e rendeu-se à sensatez e virou à esquerda (entrevistei-a em Brasília e ela cheirava a xampu e perfume importado).

Reluto em acreditar que o ano é 2018 e ainda precisamos colocar que posição política e hábitos de higiene não têm qualquer relação de causalidade – para a extrema direita, é sempre necessário explicar o óbvio – mas é certo que associar mulheres revolucionárias à falta de higiene é um golpe baixo o suficiente pra ser usado pela família Bolsonaro, desesperada, a esta altura, por já saber que será derrotada nas urnas pelas mulheres (ou não, afinal capacidade cognitiva não é o forte deles).

“Você é fascista!”, dizem as mulheres. “E você, que não toma banho?”, responde a turma que ainda não saiu da quinta série.

Embora infantil, essa associação tem raízes mais profundas do que se pode imaginar: quando protestamos, com nossos corpos, contra a ditadura estética que nos é imposta, associam-nos a porcas. Quando não estamos com as axilas milimetricamente depiladas com cera quente (aquilo é uma verdadeira sessão de tortura!), eles dizem que não somos higiênicas, e dizem isso com seus pelos escapando de suas orelhas nojentas. Quando não usamos salto alto – porque prezamos mais pelos nossos joelhos do que pelos elogios de homens limitados -, nos chamam de desarrumadas. Quando não frequentamos salões de beleza porque são verdadeiros infernos de fofoca e futilidade, nos taxam de desleixadas.

O fato de não correspondermos às expectativas patriarcais de mulheres belas, depiladas e do lar não nos torna anti-higiênicas: caso pelos fossem anti-higiênicos, os Bolsonaro, que parecem verdadeiros bichos de pelúcia, seriam os primeiros a provocarem a interdição do Congresso para dedetização de pulgas.

Pelos não causam odor, sujeira causa odor – e nós tomamos banho bem direitinho e lavamos todos os nossos pelos antes de irmos às ruas derrubar fascistas.

Aliás, qualquer homem deveria ter vergonha de se referir pejorativamente à higiene das mulheres: é a falta de higiene íntima dos homens o principal fator causador de câncer de próstata. Não sou eu quem estou dizendo, são as estatísticas.

Dito isto, importa dizer também que nossa resistência está em todas as esferas, inclusive na esfera estética: nossos corpos não são bibelôs. Eles nos pertencem. Eles podem ter pelos quando quisermos que tenham. Eles podem não ser trabalhados em academias de ginástica se não quisermos que sejam – e continuarão sendo lindos.

Isso não significa que deixamos de cuidar de nós mesmas, muito pelo contrário: a nossa revolução tem raízes no auto amor. Cuidamos de nossos corpos para nós mesmas, de modo que nos seja confortável, e não em tentativas patéticas de agradarmos ao voyeurismo masculino. Nós não precisamos da aprovação estética dos homens sórdidos da direita – aliás, não precisamos de nenhuma espécie de aprovação vinda de nenhum homem.

“Você subiu no meu conceito”, eles dizem, como se ganhar pontos com eles fosse nosso maior objetivo. Amados, nós não damos a mínima para a aprovação de vocês. Estamos ocupadas mudando o país, já que a história vem provando que essa tarefa é nossa.

Derrotaremos o fascismo nas urnas e nas ruas, com nossos pelos limpinhos cheirando a sabonete natural vegano.

Mulheres: bebam água, conheçam seu ciclo menstrual e destruam o patriarcado. Homens: aceitem a derrota e lavem o pinto.

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