Cunha sabia que estava envolvido com o Lava Jato e que seria chamado mais cedo ou mais tarde.  Desde  início de sua gestão, usou a estratégia de atacar o governo e o PT, procurando assim ser poupado pela direita, especialmente a grande mídia, quiçá se tornar um líder de verdade, candidato a presidente da República. Na entrevista dada a Revista Veja, alguns meses atrás, por exemplo, a reportagem termina insinuando que apesar de seu passado, estava se redimindo, na medida em que agia pelo bem da sociedade. Renan segue o mesmo caminho, tenta se salvar, em conduta que não se diferencia dos delatores.

Não obstante, a estratégia parece não ter dado certo até agora. Cunha pode estar pensando que fez pouco e então está preparando ações ainda mais radicais, entre as quais a tentativa de impeachment. Certamente não se reuniu com Paulinho da Força e Gilmar Mendes, dois dos maiores desafetos do governo, para trocar figurinhas.

Isto fica evidente quando ele procura acusar o governo de estar por trás de quem o delatou. Nem o mais desinformado dos brasileiros alfabetizados acreditam nisso, a  afirmação é totalmente incoerente com tudo que vem acontecendo. O governo perdeu o controle da economia para a banca, da política para o PMDB e também da Policia Federal, devido ao vácuo criado. Da procuradoria nunca teve.  Depois, ninguém mais que os petistas, Vacari está aí para confirmar, tem sido visados. A procuradoria, aliás, pelo menos a sediada  no Distrito Federal, entrou de cabeça no embate partidário, ao acusar o ex-presidente Lula de ir ao exterior vender serviços de empresas brasileiras, fato corriqueiro até para presidentes em exercício. Aconteceu com todos os presidentes americanos que nos visitaram, ou recentemente como o da França, que quer vender aviões militares fabricados em seu  país ao Brasil. Uma estupidez, pois a Procuradoria independente, ética, neutra, respeitada é fundamental num momento como este.

Enfim, o governo federal não pode a essa altura das denúncias fazer mudanças na polícia ou evitar envolvimentos. Sem o fazer, já tem sido denunciado. Não consegue sequer punir policiais que vazam para a mídia informações que deveriam correr em segredo de justiça. Tirar o mais secundário dos delegados seria tudo que a oposição e a mídia gostariam que acontecesse.

Cunha não sabe mais para que lado atirar. Tem que achar um pretexto e optou pelo que lhe parece receber maior audiência. Deu um tiro no pé. Não obstante não faltar pilantras e anões a seu lado, nenhum quer ser candidato a cego em tiroteio. Cunha é líder enquanto lhes obter mamatas, emendas, cargos e conseguir passar para o público a aparente tese de que sua conduta visa resgatar o legislativo. Muitos acham que é hora do executivo jogar mais milho para as galinhas. Mas seria  bem melhor que Dilma aproveitasse o momento e exigisse definições dos oportunistas do PMDB e de outros partidos, cortando benesses, em vez de apenas oferecer outras, o que desgasta ainda mais sua imagem. Com o desmanche da frente formada por Cunha, haveria correria para salvar os apadrinhados. O PMDB tem seis Ministérios e a vice presidência. Haja hipocrisia ao pretender passar perante a população como oposição. De qualquer modo, o foco da mídia em Cunha e logo mais, a crise do PMDB, pode permitir a Dilma respirar por alguns dias, a não ser que alguém puxe do colete mais uma denúncia, o que não é difícil. O estoque parece ser inesgotável e programado para vir como capítulos de uma novela.