Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
Há uma inegável euforia no campo progressista depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve de volta os direitos políticos e, consequentemente, a possibilidade de concorrer como favorito à eleição presidencial de 2022. E a pesquisa presencial do DataFolha só reforçou o otimismo ao apontar a dianteira folgada diante do genocida. Como diziam os comunistas das antigas, as condições objetivas, todas, para a vitória estão dadas, mas o caminho até outubro do ano que vem não será fácil. É necessário muito trabalho, mais do que festa antecipada, até chegar lá.
Muito da labuta já está sendo feita pelo próprio Lula. O líder popular é, antes de qualquer outra definição, um animal político único no Brasil. Seus encontros e conversas não têm sido restritos aos aliados de sempre das esquerdas. Lula sabe que sozinho o campo popular terá mais dificuldade para enterrar politicamente de vez os fascistas que venceram em 2018 uma disputa fraudulenta desde que lhe trancaram em Curitiba com a prisão injusta.
Meio que sem despertar atenção dos analistas da mídia hegemônica, Lula está priorizando na atual etapa a montagem de palanques estaduais sólidos para 2022. O objetivo é evitar o drama da eleição passada, quando Fernando Haddad foi para o segundo turno sem contar com a estrutura de ninguém que concorria na volta final em quase todos os principais colégios eleitorais do País.
É essa armação política que, paradoxalmente, dará mais solidez ainda à candidatura presidencial de Lula, mas despertará oposição na ultra-esquerda nacional. Não se dê de barato que o PSOL, por exemplo, aceitará facilmente as alianças que estão sendo costuradas pelo ex-presidente da Repúbica.
Mesmo que eventualmente prevaleça a ala do PSOL que quer marchar com a única candidatura popular viável, haverá resistência e até mesmo boicote de setores minoritários daquela agremiação.
Para muitos do PSOL, que podem ser personificados pelos liderados por Luciana Genro, por exemplo, combater PT, Lula e o genocida têm a mesma relevância.
Em termos de penetração popular, os psolistas que não engolem Lula de maneira alguma são desprezíveis. Se persistirem na candidatura própria ‘revolucionária”, dificilmente sairão das urnas com a adesão de 2% dos brasileiros. Mas farão barulho em redes sociais. E só ali.
O grande perigo, falando-se na perspectiva de vitória eleitoral e política em 2022, é menosprezar a capacidade de manipulação da direita.
É lógico que agora o momento não é propício para a volta com tudo da campanha suja contra Lula. O homem vem de uma vitória espetacular mesmo na Justiça injusta, lidera as pesquisas etc. Mas será um tremendo equívoco acreditar que a elite econômica, detentora do dinheiro e dos meios hegemônicos de comunicação, aceitará sem luta a volta do ex-presidente ao Poder.
A direita tradicional tentará, nos próximos meses, criar artificialmente algum candidato. Depois que, muito provavelmente, a proveta fracassar, pode até apelar para a hipótese Ciro Gomes, que sonha com isso.
Se mais uma vez provavelmente o casamento espúrio se revelar estéril em votos, toda a gritaria contra aspectos laterais do governo genocida desaparecerá. Afinal, a política econômica criminosa de Paulo Guedes é a mesma que a elite de sempre desejou. Se não tem tu, vai com tu mesmo.
Ou seja, se a definição final ficar entre Lula e o genocida, a atrasada elite brasileira vai fingir que tampa o nariz e votará no fascista. O fundamental, o $, une os dois.
Portanto, a hora é de sonhar com o olho aberto. A tarefa de reconstrução do Brasil em País decente para seu povo miserável não é fava contada. O genocida conta ainda com uma parcela considerável de apoio cego mesmo diante das atrocidades que comete ao matar milhões de compatriotas na pandemia e pela volta da fome.
Deixem Lula construir os caminhos para a redenção brasileira. Infeliz e realisticamente, não é hora de revolução socialista na estrita aplicação histórica.
Revolução no nosso País devastado em todas as áreas é restituir dignidade aos miseráveis, assegurar alimentação e empregos para essa gente que quer trabalhar e não encontra ocupação, é assegurar a sobrevivência do SUS, é terminar com a farra que está destroçando nossas florestas e os indígenas, é combater preconceitos, é assegurar o respeito à Ciência e ao Conhecimento, é reinserir o Brasil como ator respeitado no meio das Nações, é… tanta coisa que foi destruída desde o golpe que destituiu Dilma.
Temos que reconstruir o Brasil. Até lá, é olho vivo, inconformismo e luta.