Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
O lançamento da provável candidatura presidencial de Fernando Haddad, estimulada por Luiz Inácio Lula da Silva, lançou uma luz mais clara sobre as dificuldades no cenário para o PT e, secundariamente, na disputa que ocorrerá no interior do partido caso se confirme o probabilíssimo impedimento, via tapetão, de incluir Lula entre os concorrentes de 2022.
Vamos primeiro ao principal. Bastou o PT explicitar o óbvio, ou seja, que como maior partido do campo de oposição pensa em disputar a Presidência da República, que irrompeu um tsunami de críticas ao partido. “Hegemonismo, não é hora disso, antes é preciso falar de programas” e outras pérolas da hipocrisia política foram oferecidas ao distinto público. À direita e à esquerda, passando pelo centro.
Queriam o que exatamente? Que uma legenda que venceu quatro dos últimos pleitos presidenciais (e foi finalista no outro) simplesmente anunciasse que estava desistindo? Ora, vamos ser sérios. O que a direita não aceita é que o PT concorra. Simples assim.
Querem excluir a agremiação do jogo político, como tentam desde sempre, principalmente depois da Lava Jato.
No campo da centro-esquerda (PDT e, vá lá, PSB) a coisa passa pelo cinismo. Desde que viajou para Paris em 2018, Ciro Gomes é candidato para 2022, o que, aliás, é direito legítimo dele e dos seus. O que Ciro queria é que o PT, com duas vezes e meia mais votos em 2018, renunciasse a tudo e o apoiasse? Mesmo diante dos reiterados insultos ao partido e a Lula? Menos, bem menos, por favor.
Houve tanta, ou mesmo alguma, manifestação de indignação da ou na mídia diante da candidatura já lançada de Ciro, que já corria o Brasil, antes da pandemia, defendendo suas teses? Não, não houve.
A única novidade, nos últimos dias, é que Ciro já deixou claro que tentará surfar na onda do antipetismo para entrar na faixa da direita convencional.
A aposta é arriscada e do ponto de vista político dá razão aos que enxergam no antipetismo o sinônimo de combate a políticas sociais inclusivas de esquerda. Mas é o caminho que Ciro escolheu.
Os problemas para Haddad e Lula, reiteramos aqui que o patrocinador da ideia é o ex-presidente da República, não se resumem aos adversários de fora.
A preferência de Lula por Haddad aflorou, ainda que dissimuladamente, a oposição de setores do petismo que não gostam de Haddad. Direto assim: não gostam de Haddad.
O argumento mais usado pela turma é malandro, dado que falta coragem para enfrentar o ex-presidente: dar mais visibilidade a Haddad agora esvaziaria a campanha pela anulação dos processos que condenaram Lula. Ora, o próprio Lula é quem deu o start para Haddad…
Lula, mais do que os espertalhões, sabe que o STF pode até aceitar a suspeição de Moro, mas que só um milagre estenderia uma eventual decisão nesse sentido para a outra ação (sítio em Atibaia) que sofreu.
E cabe aí ainda uma dúvida: se o milagre ocorresse, aos 75 anos Lula estaria disposto a concorrer novamente? É bom ressaltar que a última dúvida só cabe em exercício generoso de futurologia, pois no mundo da política não existem milagres e o veto a Lula na urna corre da direita à esquerda, tamanho o receio de enfrentar o homem.
Ninguém sabe o que acontecerá no Brasil até 2022. Estamos sofrendo um genocídio sanitário e social e não sabemos o que restará de Nação quando e se o pesadelo acabar.
O Brasil mais do que nunca não é para amadores. Mas o PT tem direito e obrigação de colocar, sim, seu bloco na rua para 2022. Tem o que mostrar.
E as críticas que sofre por anunciar que quer voltar só reforçam sua importância na luta popular.