Eleições na ABI-Nota da chapa 2: Omissão de Meirelles deixa ABI fora do jogo democrático

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Via Laurindo Lalo Leal Filho, jornalista, professor, escritor

No dia 03/04, um grupo de representantes de 200 instituições da sociedade civil organizada compareceu no Supremo Tribunal, em Brasília, para ler um manifesto em defesa do Estado Democrático de Direito. O evento coordenado pelo presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, mobilizou as mais variadas lideranças do Brasil, desde a poderosa Federação das Indústrias de São Paulo até a União Nacional dos Estudantes Secundaristas do Brasil.




Foi uma das mais vigorosas e abrangentes manifestações de proteção das instituições brasileiras que se tem conhecimento. Entre as 200 assinaturas não aparecem os nomes da ABI e tampouco o do seu presidente na época.

De fato, o atual interventor da ABI, Domingos Meirelles não deu as caras naquele dia, no STF. A ABI, que sempre liderou as manifestações da sociedade civil organizada ao lado da CNBB e da OAB, desta vez, foi simplesmente escanteada.

Até hoje, os associados da Casa não receberam qualquer explicação para essa ausência. Muito embora, dois dias antes da leitura do manifesto no plenário do STF, o atual interventor Domingos Meirelles tenha mandado publicar, no site oficial da Casa, uma série de fotos em que aparece sorridente ao lado de Felipe Santa Cruz e de Luciano Bandeira, presidente da OAB-RJ.

Qual a razão para tal sumiço? Teria Meirelles se recusado a assinar o documento por conta de suas posições políticas? Ou, os anfitriões o consideraram tão descartável que não merecia estar ao lado de tão importantes lideranças nacionais? Comparando com um time de futebol é o mesmo que rebaixar a ABI à terceira divisão das associações que representam a sociedade civil organizada brasileira. Não se posicionou nem entre as 200 mais ativas.

Se tivesse ido a Brasília, naquela quarta-feira (03/04), Meirelles, talvez, desfrutaria de uma preciosa lição dada aos presentes pelo então secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Leonardo Steiner.

Disse o prelado no abarrotado plenário do Supremo: “… agredir as instituições coloca a sociedade sob risco “enorme” de desiquilíbrio. Uma ameaça para voltar ao passado e não ter futuro. Todos entendem quando estou me referindo voltar ao passado? Lembro o golpe militar de 1964”.

Lembrar deste episódio tem tudo a ver com o momento lamentável em que a ABI está vivendo. Meirelles e o presidente do Conselho Deliberativo da Casa, Luiz Carlos Azêdo volta e meia vociferam: “a ABI é uma instituição plural”. Trata-se de uma entre os milhares de sofismas que habitam as mentes dessa dupla .

É com essa doutrina enviesada que a parelha Meirelles/Azêdo justifica a participação na chapa deles de um contingente significativo de seguidores do capitão Bolsonaro, o mais incompetente e confuso dos presidentes que já passaram pela história da República.

A verdade é que o tal do “pluralismo” que norteia a chapa 1 tem causado contratempos a Meirelles e ao seu lugar-tenente. Duas defecções já aconteceram em suas hostes, justamente por conta dessa multiplicidade de alianças heterodoxas que a compõem. E, pelo visto, não serão as únicas.

Em cinco meses de gestão, Bolsonaro já conseguiu fazer com que os direitos sociais, políticos, econômicos, ambientais, humanos, trabalhistas, educacionais e culturais retrocedessem dez anos. Como alertou Dom Leonardo Steiner “desse jeito, corremos o risco de voltar aos anos de chumbo”. Tempos terríveis. Época em que o País era sacudido por torturas, censura, arrocho salarial e recessão econômica crônica.

No “clube de lordes” em que Domingos sonha em transformar a ABI não há espaço para esse tipo de preocupação. Ele mesmo já disse, várias vezes, que isso é coisa de partidos políticos. Não admite, em hipótese alguma, o papel que a sociedade civil organizada tem na defesa de valores preciosos como a Liberdade de Imprensa e a Democracia.

As revelações feitas pelo site “The Intercept”, no último dia 9, sacudiram a política nacional. Mas, também serviram para reforçar o quanto é frágil a jovem democracia brasileira. O quanto é débil o nosso Estado Democrático de Direito. O quanto temos que estar unidos para defendê-los.

A confusão que atormenta a secular ABI, nos dias de hoje, é fruto de um embate político. De um lado, Meirelles e seus acólitos tentando se perpetuarem no comando da Casa. É poder pelo poder. Na outra ponta, um grupo de cerca de 200 jornalistas progressistas se esforçam para resgatar o passado fulgurante da instituição.
Um passado, é bom ressaltar, de luta pela Democracia.

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