Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem blogado
Qualquer análise séria das eleições municipais recém-encerradas deve partir do princípio de que as três legendas de esquerda (PT, PSOL e PCdoB) foram derrotadas. Em graus diferentes, mas derrotadas. E também é necessário repetir que ao menos no Brasil não há relação direta entre as disputas nas cidades e o pleito presidencial.
Houve, no frigir dos ovos, um avanço da direita convencional (MDB, DEM, PSD etc), que no Congresso se aglutina no chamado Centrão e que atualmente é base de sustentação de Jair Bolsonaro. Por isso, é errado dizer que o bolsonarismo foi jogado à lona nas municipais.
Foi sim varrido das grandes capitais, mas manteve alguma força nos centros médios e nas pequenas cidades por meio daquelas legendas fisiológicas.
Antes de entrar na derrota das esquerdas, um intervalo para a revolta: quem os comentaristas da grande mídia, GloboNews à frente, pensam que enganam quando classificam, por exemplo, DEM e PSD como “centro político”? A velha direita reside aí mesmo que não ouse dizer seu rótulo honesto.
Vamos agora ao que interessa de fato. O PT não pode negar que sofreu derrotas dolorosas. A mais triste talvez tenha ocorrido em Recife. Lá, Marília Arraes viveu mais uma vez o desafio de encarar a hegemonia do PSB e, com ela, uma campanha sórdida dos adversários, que reuniram os piores métodos da velha política e Silas Malafaia, entre outros.
O PT não morreu, como dizem há 15 anos, mas sai avariado. De bom, a conquista simbólica de voltar a governar Diadema e chegar ao poder em Mauá. O ABC resiste. Em Minas, não é pouca coisa vencer pela primeira vez em Juiz de Fora e ser referendado novamente em Contagem. Mas é insuficiente.
O PSOL é um caso à parte. Foi extraordinário o palanque que reuniu no segundo turno paulistano. Boulos inegavelmente sai muito maior do que entrou na campanha e ouso dizer que maior que o próprio PSOL.
Lembremo-nos de que o líder (ex?) do MTST é quadro recente da legenda. Em Belém, com o PT de vice, o PSOL elegeu Edmison Rodrigues.
A mais nova das agremiações das esquerdas virou o estuário maior das pautas identitárias e cresceu em capitais importantes.
Seu desempenho nacional, porém, é no final das contas muito sofrível. Em muitas cidades, inexistente. O PSOL ainda não tem cacife relevante, com exceção da marca Boulos.
E chegamos ao velho PCdoB, que esteve muito perto da vitória em Porto Alegre com a valorosa e combativa Manuela. Também sucumbiu a uma campanha inimaginável de baixarias e fake news.
Marília e Manuela são as duas grandes tristezas das esquerdas nas eleições. O PCdoB, obrigado pela primeira vez a disputar eleições proporcionais de vereadores sem coligações, terminou com um resultado desastroso. Muitos bons candidatos comunistas a vereador sucumbiram ao coeficiente eleitoral.
Enfim, são resultados que servem de alerta para as esquerdas. Não dourar a pílula é o único caminho razoável. Um revés dramático? Não pela desvinculação da disputa maior que vem em 2022.
Mas exige atenção no Brasil que vai, infelizmente, começar 2021, a julgar pelos que prenunciam os dados econômicos, em profunda crise e em desemprego altíssimo.
Os pobres vão pagar a conta da crueldade neoliberal de Paulo Guedes. É preciso resistir e impedir o massacre social.
A travessia até 2022 será longa e o mais importante é unir a batalha pelos pobres com as articulações para eleições. Primeiro, lutar até fim contra a economia cada vez mais excludente.