Do site Brasil 247
No seu balanço da disputa eleitoral de 2014, a jornalista Tereza Cruvinel, colunista do 247, afirma que a disputa deste ano, entre Dilma Rousseff, Aécio Neves e Marina Silva, foi melhor em conteúdo do que as anteriores; “Políticas públicas e princípios administrativos como combate à inflação, independência do Banco Central, saúde, habitação e saneamento, programas de transferência de renda, aborto, união homoafetiva e segurança ganharam mais espaço e ressonância”, diz ela; “Isso foi bom, embora a política externa tenha sido completamente ignorada, mais uma vez”; segunda ela, ainda não foi desta vez que a terceira via conseguirá se impor
247 – A jornalista Tereza Cruvinel, colunista do 247, produziu um balanço da disputa presidencial até aqui. Segundo ela, a terceira via à polarização PT-PSDB ainda não conseguirá se impor e o debate de ideiais foi melhor do que em disputas anteriores.
Eis alguns pontos destacados por ela:
1. Terceira via – A única derrota insuperável para o ser humano é perder a vida. Eduardo Campos era um politico promissor embora estivesse chapinhando nas pesquisas. Morreu em agosto e já não se fala mais nele. Nenhum candidato, nem mesmo Marina Silva, lembrou-se de falar seu nome no último debate, por exemplo. É a vida. Sua morte alterou completamente o quadro eleitoral, produziu um furacão mas no final a disputa voltou ao leito original, com Aécio Neves se recuperando. Não porque seja melhor do que Marina mas porque encarna, juntamente com Dilma, os projetos polares e antagônicos que ainda pontuam a política brasileira. A terceira via ainda não encontrou sua hora mas pela primeira vez a polaridade PT-PSDB foi posta em cheque por Marina Silva, chegue ela ou não ao segundo turno.
2. Agressividadde – Tem se dito que a campanha de 2014 foi muito agressiva. O adjetivo é impróprio. A partir do crescimento de Marina Silva, tanto Dilma como Aécio Neves adotaram campanhas negativas contra a ex-senadora. Entretanto, nenhum deles avançou para a além do que é próprio das disputas, dentro do marco civilizado e democrático. Tudo o que disseram de Marina foi baseado no que ela disse, escreveu ou praticou em sua trajetória. O mesmo vale para Marina, que também deu caneladas contundentes nos outros dois. Nenhum candidato – afora Levy Fidelix no penúltimo debate, com suas declarações bizarras contra os gays – explorou a vida pessoal do outro, como gostam tanto de fazer os norte-americanos. A meu ver, neste sentido a campanha foi melhor que as do passado recente: o confronto ofereceu mais elementos ao eleitor para comparar, refletir e tirar conclusões. Agressividade não é baixaria.
3. Conteúdo – Na disputa presidencial, houve uma diferença de conteúdo importante em relação a 2010. Aquela foi uma campanha pontuada por denúncias de corrupção que dominaram inteiramente o debate. Afora a campanha dos setores religiosos fundamentalistas contra Dilma acusando-a de apoiar o aborto, o tema da corrupção praticamente dominou o debate. Na deste ano tivemos também um grande escândalo de corrupção, o da Petrobrás, e ele foi tema recorrente dos debates e da cobertura da mídia. Mas outros assuntos também pontuaram o discurso dos candidatos e disputaram a atenção do eleitor. Políticas públicas e princípios administrativos como combate à inflação, independência do Banco Central, saúde, habitação e saneamento, programas de transferência de renda, aborto, união homoafetiva e segurança ganharam mais espaço e ressonância. Isso foi bom, embora a política externa tenha sido completamente ignorada, mais uma vez.
3. Seleção – Foi a primeira eleição nacional sob a vigência da Lei da Ficha Limpa. Mais de 250 candidatos foram barrados em todo o pais e isso teoricamente deve resultar em maior qualidade da representação parlamentar e dos governantes. O tempo dirá.
4. Esferas – . As eleições para presidente e para os governos estaduais não foram inteiramente “casadas”, ficando as disputas estaduais bastante “soltas” em relação ä corrida presidencial. Isso aconteceu por conta das natureza pragmática e pouco ideológica de nossos partidos. Alianças nacionais nem sempre se reproduziram no plano estadual. Houve também estados, como o Rio de Janeiro, onde a candidata Dilma teve quatro candidatos a governador aliados, ao passo que Marina Silva e Aécio Neves não tinham candidato próprio. As coligações não têm que ser verticais, como quis em 2002 o TSE. Seria bom que fosse, mas por força do alinhamento natural entre partidos com afinidades.
5. Financiamento – Mais uma vez as campanhas foram caríssimas e bancadas pelos grandes conglomerados econômicos. As contribuições individuais de pessoas físicas foram irrisórias. Em breve, teremos um escândalo que terá origem no financiamento da campanha deste ano. Assim será, enquanto não alterarmos este sistema, adotando o financiamento público e limites bastante rígidos para as doações privadas. Ou as duas coisas racionalmente combinadas.
Leia a íntegra da análise de Tereza Cruvinel em seu blog no 247.