Eles não estão a passeio

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado – 

A tentativa, fracassada em sua primeira versão, de votar escondida a anistia a caixa 2 em campanhas eleitorais mostra apenas mais um ponto do que a atual composição da Câmara dos Deputados é capaz. Em tempos ditos democráticos, nunca houve tamanha desfaçatez e tantos probos de araque envolvidos em truques como o da noite de segunda-feira.




Mas, como se sabe, nada é tão ruim que não possa ser piorado. Vem mais por aí. E a imoralidade maior é reservada ao ataque virá aos direitos mínimos assegurados pela Constituição de 88. Quem teve a coragem de enfiar emenda de contrabando para anistiar-se e livrar-se da famosa lista da Odebrecht não terá o menor pudor de tratorar Saúde, Educação e Previdência.

Temer não tem saída. Pode adiar, mas terá que entregar a mercadoria encomendada pelos patrocinadores do golpe. Será depois, obviamente, das eleições municipais. Se não fizer a chacina social pedida por “mercado” e seus porta-vozes na imprensa, Gilmar Mendes está aí para, em 2017, cassar a chapa Dilma-Temer e provocar uma eleição indireta que dará o poder formal a alguém do PSDB. É o dá ou dá.

Alguém duvida que a retirada de direitos terá maioria na Câmara? A perda de recato é tão grande que se tenta votar uma anistia em causa própria em ritmo de Bolt, e na calada da noite, enquanto posterga-se para depois do palanque eleitoral o golpe nos direitos. Não por misericórdia, insista-se, mas por malandragem, por medo de enfrentar a urna dizendo que vai surrupiar a qualidade de vida do eleitor.

Como enfrentar a tempestade que está preparada para os mais pobres? A conjuntura é adversa e vai se agravar nos próximos dias para as forças progressistas. A eleição municipal com certeza vai trazer resultados muito adversos, na conta nacional, para os partidos que se opõem à ordem estabelecida pelo golpe. É no embalo desse revés que o governo Temer vai empurrar o ajuste fiscal.

É paradoxalmente aí que reside, no entanto, a grande possibilidade de impor uma derrota política ao governo. Quando os trabalhadores começarem a sentir, nas filas do SUS e na perda maior na Educação, os efeitos da perversidade ainda em gestação que haverá um inevitável confronto social. Os papéis ficarão claros para os atingidos. Não há manipulação de informação que iluda o cidadão que percebe que perdeu o que tinha, ainda mais quando se mexe com um bem definitivo como Saúde.

Se existe esse campo imenso para a contestação dos efeitos do golpe, cabe à esquerda, se quiser ter papel nas lutas que virão, fazer uma autocrítica profunda. Qual a razão da letargia do movimento sindical diante do avanço em cima de direitos? Existem teses e explicações, é  claro, que dariam um tratado de ótimo tamanho, mas o fato é que não está havendo mobilização suficiente, ao menos por enquanto, para questionar a atrocidade que está sendo preparada.

É tempo de balanços e corrigir rotas. Luta sem direção política, ao contrário dos que sonham com o “pós tudo”, é o convite ao desastre. Não há possibilidade de a chacina social ser entubada sem resistência. E, sabe-se, no outro lado tem uma turma que deixou o limite de lado faz tempo.

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