Por Rafael Melo, publicado em Razões para Acreditar –
Boa parte das conquistas dos nossos paratletas no Parapan de Lima não seria possível sem a colaboração valiosa dos guias, chamadores ou Calheiros, dependendo da modalidade.
Os Jogos Parapan-Americanos de Lima 2019 foram a edição mais vitoriosa da história brasileira. Nosso país ficou em primeiro lugar no quadro geral de medalhas, com 308 medalhas, sendo 124 ouros, 99 pratas e 85 bronzes. Contudo, boa parte dessas conquistas dos nossos paratletas não seria possível sem a colaboração valiosa das suas equipes e, principalmente, daqueles que auxiliam diretamente nas provas, que são chamados de guias, chamadores ou Calheiros, dependendo da modalidade.
Ele deixou de ser atleta olímpico para ser guia
Newton Vieira já foi um velocista olímpico, alcançou a marca abaixo dos 11 segundos nos 100m rasos. Mas uma contusão o afastou das pistas e depois de sair do Exército, ele virou motoboy, mototaxista e lavador de carros. Voltou a praticar esportes treinando rugby, mas foi chamado novamente para correr, agora como guia da paratleta Viviane Soares.
“Quando virei guia da Viviane, ela era a 11ª no ranking, e chegamos à primeira posição. Tem que motivar. Mesmo a gente estando mal, tem que passar que está bem. É companheirismo, ser companheiro o tempo todo. Se um erra, todos erram. Se um correr mal, os dois correram mal”, explica Newton.
Com a ajuda de Newton, Viviane conquistou quatro medalhas nesse Parapan. Ela foi Prata nos 100m, prata e Bronze nos 200m e prata no revezamento 4×100. “Minha função é ajudar outra pessoa a ter direção. Somos amigo um do outro. Agora somos irmãos, acaba criando um vínculo”, finalizou Newton.
O pai que virou calheiro do filho
Na bocha olímpica, os competidores com paralisia cerebral precisam posicionar a bocha com a cabeça e soltá-la por uma calha em direção ao alvo. Os calheiros são os posicionadores do equipamento. É isso o que faz Oscar Carvalho, pai do atleta Mateus Rodrigues. Os dois conquistaram a medalha de bronze na classe BC3 deste Parapan.
Mateus migrou para a bocha depois de passar pela natação e desenvolver uma alergia ao cloro. O pai, e apoiador, também teve que se adaptar à nova função.
“O meu papel é de grande relevância para que o atleta possa competir, pois devido ao grau de comprometimento das limitações físicas do jogador não há a possibilidade de que ele possa executar os movimentos necessários para realizar o jogo. O mais importante na minha relação com o atleta é a sinergia que desenvolvemos durante o nosso tempo de treinamentos e competições ao longo destes anos”, avalia.
E a relação de treinador e atleta é superada pela ligação de pai e filho. “O momento mais importante para mim foi na nossa primeira competição, pois ali vi que éramos competitivos e que com dedicação e esforço iríamos alcançar objetivos nunca antes imaginados. Tenho vários acontecimentos que marcaram a nossa relação, pois o respeito e o carinho que ele dispensa a todos faz com que seja admirado por aqueles que fazem parte da família da bocha paralímpica”, finalizou.
O chamador que diz quando é hora de fazer o gol
No Futebol de 5, modalidade em que os jogadores são cegos, o chamador tem a função de orientar os atacantes sobre o posicionamento da defesa, quais caminhos deve seguir na quadra e quando é a hora de chutar a bola a gol. É essa a função de Eduardo Ugioni, que ajudou a levar a Seleção Brasileira ao tetracampeonato no Parapan.
“O mais importante na relação é a confiança. Eles precisam confiar em mim. Cada atleta tem uma característica individual. Os atletas paralímpicos devem ser tratados normalmente. São muito independentes. A gente vai conhecendo o atleta como pessoa e como profissional e vai conhecendo a história de vida de cada um. A superação e a garra que esses atletas têm é uma coisa imensurável”, avalia.
Eduardo vibra pelas conquistas tanto quanto os atletas. “Você precisa fazer o que está fazendo, se dedicar ao máximo, eu faço com amor, e os resultados vão vir. É um trabalho em equipe. Representar o seu país é marcante, ainda mais conquistando título. Cada título que conquistei defendendo as cores do Brasil marca bastante. É o ápice”, disse.
Foto destacada: Ale Cabral/CPB