Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado

O que querem, em nome do tal “ajuste fiscal”, é que Lula caia na armadilha e jogue a conta para a base social que o elegeu, ferindo de morte a popularidade do presidente da República.

Nada surpreendente, mas mais cedo do que se esperava, a grande maioria da elite econômica, principalmente o capital financeiro, decidiu “peitar” o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Só pode alegar novidade quem insiste em negar o óbvio: Lula nunca será assimilado ou aceito por quem quer perpetuar o atraso social brasileiro.

A atual tentativa de desestabilizar o governo só é surpreendente pelo momento. O Brasil apresenta índices econômicos que não autorizariam uma escalada de boicote como a que a elite está promovendo: a inflação está sob controle, o PIB está em alta desde o início do terceiro mandato de Lula, sempre desmentindo os pessimistas, o desemprego cai sempre, não há sinal algum de aceleração da inadimplência de pessoas ou empresas etc. Enfim, sem mágicas malandras ou gritos, os dados todos sugerem que o Brasil está indo bem no mundo cada vez mais complicado no plano externo.

Mas… Do nada, aparentemente, há a escalada do setor financeiro em forma de cobrança de um ajuste fiscal a ser feito, como sempre, às custas dos mais pobres. Fim do aumento real do salário mínimo, desvinculação da Previdência da remuneração mínima, sepultamento do teto constitucional para Saúde e Educação…

A velha receita dos vampiros volta à cena. A ameaça toma corpo com o ataque especulativo ao dólar, que ameaça respingar na inflação. Taxação de lucros de milionários, combate às desonerações criminosas socialmente e fim de privilégios tributários de toda ordem não entram jamais na agenda desses predadores insaciáveis.

Se, num exercício Poliana, procurarmos o “lado bom” dessa tragédia protagonizada pelos indecentemente barões do dinheiro, podemos encontrar o fim das ilusões de quem acha ser possível conciliar com essa gente.

Há algum político progressista mais “cordato” do que Lula? A fama de negociador oriunda do sindicalismo sempre o acompanhou. No entanto, aceitem ingênuos de esquerda, Lula, mais do que qualquer outro político de esquerda, jamais será aceito pela elite brasileira.

Questão que começa por sua origem social e geográfica e passa por representar o anseio de resgatar da vida indigna os milhões de brasileiros que sempre ficaram de fora dos banquetes patrocinados pelo Estado a seus poucos comensais.

No auge do atual ataque especulativo contra a economia brasileira, um dirigente do agro ogro teve a ousadia de dizer em público um “basta” ao governo eleito legitimamente. O medieval, em estado de petulância pura, acrescentou que não tem interesse algum em dialogar com Lula.

É o pessoal que se enriquece sempre com favores tributários e anistias de dívidas que quer mais suor e sangue dos que já não têm nada. Não há mesa de negociação possível com esses estandartes das trevas, usurpadores.

O que querem, em nome do tal “ajuste fiscal”, é que Lula caia na armadilha e jogue a conta para a base social que o elegeu, ferindo de morte a popularidade do presidente da República.

É isso que está em jogo no plano dos que sonham com um bolsonarismo com o próprio genocida ou alguém que saiba pelo menos usar talheres como o governador de São Paulo. A criminosa privatização da Sabesp é o exemplo sonhado pelos vampiros.

Lula não cairá na armadilha, mas é preciso dizer que ele está quase solitário nessa batalha. O campo progressista em sua maioria não percebeu o que está em questão. Houve inação absoluta quando, recentemente, Lula e Haddad perderam a batalha contra as famosas desonerações tributárias para 17 setores da economia, medida que seria temporária, mas que se perenizou de forma imoral, fazendo os barões embolsarem mais dinheiro, dificultando ainda mais ou até mesmo inviabilizando a criação de políticas públicas para diminuir o fosso social entre brasileiros.

Não se iludam. Há em marcha um plano para, já que não há, pelo menos por enquanto, condições políticas para um novo golpe, fazer com que Lula chegue ao próximo pleito presidencial como um pato manco, sem força.

Eles já jogam 2026. Fim das ilusões para quem acreditou que um bom governo acalmaria o tal mercado. O Brasil é sinônimo sempre de batalha. E os vampiros querem sempre mais da maioria explorada.