Por Luís Barrucho, da BBC Brasil, publicado no Jornal GGN –
“A carne mais barata do mercado é a carne negra”. Foi cantando o refrão da canção A Carne a plenos pulmões que a cantora Elza Soares desabafou, há cerca de três semanas, sobre o caso dos cinco jovens assassinados por policiais militares em Costa Barros, no Rio de Janeiro. O vídeo da apresentação se espalhou nas redes sociais.
“Até quanto negros serão mortos nesse país?”, pergunta ela, em entrevista, à BBC Brasil. “Negro é gente. Precisamos de uma vacina contra essa doença incurável chamada racismo”, vaticina.
“Se não tivesse tido oportunidade, poderia ser eu no lugar daqueles meninos”, acrescenta.
Aos 78 anos, Elza fala do assunto com conhecimento de causa. Nascida em uma favela no subúrbio do Rio de Janeiro, filha de uma lavadeira e de um operário, ela conseguiu contornar o futuro sombrio reservado a quem é, em suas palavras, “pobre e negro”.
Elza cantou para mudar de vida. Sem dinheiro para alimentar os filhos pequenos, decidiu tentar a sorte no programa de rádio de Ary Barroso. Usando um vestido da mãe vários números acima e remendado por alfinetes, ela arrancou risos da plateia poucos antes de soltar a voz rouca que se tornaria sua marca registrada. Barroso lhe perguntou: “De que planeta você veio, minha filha”. Elza respondeu: “Do planeta fome, seu Ary”.
A denúncia social nunca deixou de estar presente nas letras das canções interpretadas por Elza. É o caso de seu novo disco, Mulher do Fim do Mundo, o primeiro só de inéditas de sua carreira, em que faz referência não só ao racismo, mas também à violência contra as mulheres e à homofobia.
De sua casa, no Rio de Janeiro, Elza falou por telefone à BBC Brasil. Veja os principais trechosaqui.