Via Jamir Kinoshita, jornalista
CD resgata parceria de uma década do Breque Sincopado, dupla que animou casas, festas e bares tradicionais da noite paulistana
Obra organizada pelo músico Mauro Amorim é homenagem póstuma à alma boêmia de Roque da Vila, cantor e compositor de sambas e marchinhas; trabalho conta ainda com composição de domínio público resgatada por Maria Prestes (mulher do líder comunista Luiz Carlos Prestes) e de Carlos Henry (letrista de samba gravado pelo MPB 4)
A noite paulistana reúne uma infinidade de artistas que registram momentos memoráveis em suas apresentações por casas e bares tradicionais da cidade. Este é o caso do Breque Sincopado, dupla formada pelo músico Mauro Amorim e o cantor e compositor de sambas e marchinhas Luiz Carlos Roque, mais conhecido por Roque da Vila, falecido em 2020.
Juntos (dez anos de carreira) e em apresentações solo, eles frequentaram os principais espaços musicais da Vila Madalena, Butantã, Pinheiros e regiões vizinhas. É o caso do Paróquia Bar, Reserva Pinheiros, Ó do Borogodó e Bar do Alemão (que era do compositor Eduardo Gudin) e de outros pontos tradicionais que já não existem mais (Bar do Bilu, Café Paris, Bar da Meirinha e Tupi or not Tupi).
“O Roque já estava em estágio avançado com o câncer e eu me senti na obrigação de registrar algumas músicas dele para mostrar o seu talento. O detalhe é que nessa época ele não tinha interesse em gravar suas composições. Então, eu propus que gravássemos um CD em conjunto, dividindo os custos, alegando que eu não tinha como arcar financeiramente sozinho. Ele topou na hora, na intenção de me ajudar, e isso me deixou muito feliz”, conta Mauro Amorim, que cuidou de todos os arranjos e da direção artística.
DESTAQUES – Com o nome “O tempo”, a obra, que começou a ser gravada no começo de 2019, com finalização em janeiro último, traz seis músicas – três de autoria de cada um –, além de uma faixa conjunta, chamada “Vou te abraçar”, que se tornou uma das marcas registradas da dupla, especialmente em festas.
Mauro Amorim, que continua presente na noite paulistana, lembra que a elaboração do CD teve um contratempo bastante complicado, que foi a perda de parte das gravações já realizadas em estúdio. Mas a persistência e todo o zelo empregado na tarefa de recuperar o material foram essenciais para levar o projeto adiante.
O trabalho conta ainda com duas participações especiais. Em “Ouro de Moscou”, a composição é uma parceria do músico com Maria Prestes, que foi mulher do líder comunista Luiz Carlos Prestes e que faleceu recentemente aos 92 anos, dias antes da finalização do material. Em “Samba do amor fugaz”, o médico e compositor Carlos Henry (autor do samba “Anjo torto”, gravado pelo MPB 4) canta a letra de sua autoria junto com Mauro Amorim.
“Tenho a intenção de realizar um lançamento, que será uma grande homenagem ao meu amigo e eterno parceiro, que infelizmente fez a passagem sem ver o CD pronto. Eu menti para ele dizendo que estava tudo encaminhado à época, quando na verdade havia se perdido boa parte do material já gravado. Não tenho pretensão alguma com esse trabalho, a não ser fazer o que havia prometido ao Roque”, diz.
Enquanto não há definição sobre o lançamento físico do CD “O tempo”, que vai depender da situação da pandemia de Covid-19, é possível ouvir cada uma das faixas, disponível nas mais diversas plataformas, no link https://cd-otempo.comunidades.net/index.php.
DESCRIÇÃO DAS FAIXAS – A seguir, Mauro Amorim faz breve comentário sobre cada uma das sete canções do CD “O tempo”.
• “O tempo”: Para mim, a canção que dá título ao trabalho é a melhor música do Roque. Quando ele me mostrou, disse que era para jogar fora, pois já tinha muita música falando sobre o tempo… Eu ignorei e trabalhei nela. Mudamos algumas palavras, fiz a harmonia e o arranjo para acordeon e trombone, que era o instrumento de sopro que ele mais gostava. Acredito que é também a melhor música do CD. Eu, como pai afetivo, sou suspeito para falar.
• “Ouro de Moscou” (música de domínio público) : Foi uma surpresa que ganhei do fotojornalista Samuel Iavelberg [irmão de Iara Iavelberg, mulher de Carlos Lamarca] e que transformei em um samba de breque. Na ocasião, fui até o Rio de Janeiro para me encontrar com a Dona Maria Prestes, que ouviu a música e a aprovou. No segundo solo instrumental, eu faço uma referência à marcha “Deixa passar o trabalhador”.
• “Convicção”: Foi uma letra que eu recebi da amiga Lena Masquetti, mas que não tinha métrica para musicar. Chamei meu parceiro e filho Murilo, que toca flauta, e lapidamos até que conseguimos um resultado musical, sem mudar a mensagem. Nessa gravação eu tive o prazer de ser acompanhado do meu filho e dos meus sobrinhos Rafael Kasteckas, no baixo, e Felipe Kasteckas, na bateria.
• “Rosas ao mar”: Outra pérola do Roque. Fiz um arranjo com direito a solo de bandolin com flauta e palmas.
• “Samba do amor fugaz”: Eu era fã do Carlos Henry sem conhecê-lo, por causa do samba “Anjo torto”, gravado pelo MPB 4. Por conta de amigos músicos em comum, acabamos nos conhecendo e foi amizade à primeira vista. Ele me deu seus CDs e eu mandei o meu – “Dia de Jogo”. Ele me respondeu com observações de cada faixa e pontuando as poesias que mais lhe agradaram. Foi o melhor retorno que eu tive daquele trabalho. Depois disso, me pediu uma melodia e acabamos virando parceiros com essa linda letra que ele fez. Uma grande honra para mim.
• “Das vilas”: Uma linda marchinha do Roque que eu transformei em marcha-rancho, ou seja, mais lenta. Essa foi a música em que eu mais trabalhei nos arranjos, criando introdução e, através dos metais, lembrando os solos de cada música de Noel Rosa citada pelo Roque. Para mim, foi o melhor arranjo do CD.
• “Vou te abraçar”: Depois da morte do Roque, nossos amigos ficaram me cobrando se tínhamos gravado essa vinheta que cantávamos em aniversários, algo que não havia sido feito. Quando aconteceu a passagem dele, eu decidi salvar todos os áudios de WhatsApp com ele. Aí, procurando no meio desse material, encontrei uma gravação de 2016, somente com a sua voz, cantando como teste para mim. A partir disso é que montei cada parte da vinheta, colocando o som do meu violão, minha voz e um tamborim – praticamente da mesma maneira como ele tocava. Acho que o resultado final ficou “bunicto”, como ele dizia.
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