Publicado em Brasil 247 –
Transmitido pela TV franco-alemã ARTE nessa terça-feira 18, o documentário “Brasil: O grande salto para trás”, das francesas Frédérique Zingaro e Mathilde Bonnassieux, mostra quem foram os políticos que, há um ano, votaram pela abertura do processo de impeachment na Câmara dos Deputados e mudaram o destino da então presidente Dilma Rousseff e de todo o País – homens ligados a empresas, grandes fazendeiros, conservadores e corruptos; o filme coloca a pergunta “Como será o futuro agora?” e foca em uma perspectiva de um triste destino para a esquerda nacional, a exemplo do que ocorreu em diversos países da América Latina
Um ano depois da votação que deu início ao processo de impeachment e mudou o rumo do País – e o destino da então presidente Dilma Rousseff – o documentário “Brasil: O grande salto para trás”, das francesas Frédérique Zingaro e Mathilde Bonnassieux, traz um relato de quem foram aqueles políticos que participaram da votação e a opinião de personagens envolvidos no cenário.
O filme foi transmitido pela TV franco-alemã ARTE nessa terça-feira 18. Logo de início, mostra quem foram os políticos que votaram pela abertura do processo de impeachment na Câmara dos Deputados: homens ligados a empresas, grandes fazendeiros, conservadores e muitos corruptos, como destaca o humorista e escritor Gregório Duvivier, responsável por boa parte da narrativa e entrevistas.
As diretoras colocam a pergunta “Como será o futuro agora?” e focam em uma perspectiva de um triste destino para a esquerda nacional, a exemplo do que ocorreu em diversos países da América Latina. Nesta segunda-feira 17, o jornal francês Le Monde publicou um artigo sobre o documentário. Confira abaixo o texto da agência francesa RFI sobre ele:
Francesas fazem documentário sobre impeachment de Dilma, sob o ângulo do humor
Com o título “Crise brasileira e humor negro”, o jornal francês Le Monde publica um artigo sobre o documentário “Brasil: o grande salto para trás”, das francesas Frédérique Zingaro e Mathilde Bonnassieux, que será transmitido pela TV franco-alemã ARTE nessa terça-feira (18).
A correspondente do jornal Le Monde no Brasil, Claire Gatinois, escreve que em uma certa segunda-feira, no dia 17 de abril de 2016, o Brasil descobriu o rosto dos políticos que representavam a população na Câmara dos Deputados: conservadores, grandes fazendeiros, evangélicos loucos por Deus, homens apegados aos valores tradicionais e até saudosistas dos tempos da ditadura militar. Na maioria, pessoas corrompidas.
O artigo informa que durante a sessão de votação, que entrou madrugada adentro, esses deputados selariam o destino da então presidente Dilma Rousseff, reeleita em 2014, desencadeando o impeachment.
Este é o momento histórico do documentário “Brasil: o grande salto para trás”, um momento-chave em que nosso país, numa crise vertiginosa, viu o seu futuro balançar. “É como o fim de um parênteses encantado aberto por Lula da Silva em 2003, legando prosperidade e permitindo que milhares de brasileiros saíssem da miséria, sem falar na projeção na cena diplomática internacional, tornando-se um ator relevante dos BRICS”, escreve a jornalista, explicando que a indignação popular diante da corrupção de um Partido dos Trabalhadores desgastado pelo poder – corrupção que se alastra pelos partidos da direita e da esquerda – serviu de pano de fundo para o impeachment. “Desse instante nascerá o confronto, muitas vezes maniqueísta, entre os pró e os contra a destituição, opondo uma esquerda progressista e uma direita agarrada aos seus privilégios”, analisa Claire Gatinois.
O documentário das cineastas francesas optou pela descrição desta fratura, centrando a narrativa em Gregório Duvivier, jovem humorista da esquerda, que fez a maioria das entrevistas, incluindo a própria ex-presidente Dilma.
Le Monde analisa que o telespectador é levado a seguir a interpretação muito pessoal do cômico, que serve de referência para se compreender a complexidade do Brasil. O percurso é revelador do sentimento de uma parte dos brasileiros: depois do impeachment, os militantes e simpatizantes da esquerda denunciam um complô anti-PT por parte de uma justiça enviezada e das mídias mais fortes, dando à destituição de Dilma ares de “um golpe de Estado parlamentar.”
Como será o futuro agora? – indaga o documentário, colocando em foco a perspectiva de um triste destino para a esquerda nacional, a exemplo do que ocorreu em diversos países da América Latina. Le Monde constata que a conclusão do documentário é que, sem negar os erros do PT, a atual política de Michel Temer, marcada pelo rigor e pelas reformas que seduzem os mercados financeiros, compromete, com seus cortes, as despesas destinadas à saúde, educação e ajuda aos desfavorecidos.