Geralmente eu reclamo quando a distribuidora brasileira traduz o título original de um filme para uma patacoada qualquer em português, apenas para efeito de bilheteria. Os casos são inúmeros. Desta vez, porém, acredito ser positiva a manutenção por aqui do título internacional de “Dying” (“Sterben” no original alemão).
Por Celso Sabadin, compartilhado de Planeta Tela
A tradução literal seria “Morrendo”, mas não estamos diante de um filme literal.
Vencedor de três prêmios no Festival de Berlim, incluindo o de Roteiro, “Dying” se inicia mostrando o triste estado de degeneração humana e social em que vive o casal de idosos Lissy (Corinna Harfoulch) e Gerd (Hans-Uwe Bauer). Num primeiro momento, imagina-se que Gerd, bastante doente, seria a personagem que justificaria o título do filme. Porém, na medida em que a trama se desenvolve e outros personagens vão se incorporando, amplifica-se o conceito de “dying”, com a morte extrapolando a mera questão física e corpórea para contaminar os mais diversos tipos de relações humanas, sejam profissionais, familiares ou afetivas. Há muita morte em vida.
Afinal, como diz a canção de Caetano Veloso, “está provado que só é possível filosofar em alemão”, o idioma original desta produção roteirizada e dirigida pelo hamburguês Matthias Glasner.
Se a intenção de Glasner era perturbar, ele conseguiu. O filme destila um dos mais angustiantes diálogos entre mãe e filho já estampados na tela, não hesita em recorrer a recursos extremos para potencializar seu incômodo (vômito e fezes, por exemplo), ao mesmo tempo em que também consegue chocar através da passividade e do niilismo de alguns de seus protagonistas.
A mistura emocional de sensações que “Dying” provoca durante suas 3 horas de exibição o coloca entre os bons filmes deste ano que chegam ao cinema bastante dispostos a tirar o espectador de sua zona mercadológica de conforto.
Manter o título internacional original foi bem vindo. Já o subtítulo “A Última Sinfonia” me pareceu bem dispensável. Coisas do mercado.