Por Flavio Aguiar, publicado na RBA
O mais grave deles aconteceu no Café Bataclan, onde havia um concerto de rock. Nesse local, de dois a quatro terroristas atiraram a esmo nos presentes, matando pelo menos 79 pessoas
A França está (mais uma vez) em estado de choque – e desta vez também de sítio. As fronteiras foram fechadas, o que significa que foi estabelecido um controle de identificação para entradas e saídas do país.
Na sexta-feira (13), os ataques terroristas começaram às 21h20, com três explosões suicidas nas proximidades do Stade de France, onde jogavam as seleções francesa e alemã. Estavam presentes o presidente François Hollande e o ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Franz-Walter Steinmeier, que foram imediatamente retirados do local. É possível que os atacantes quisessem entrar no estádio.
As explosões provocaram uma morte a mais. Houve um princípio de pânico no estádio, com uma parte da plateia invadindo o gramado logo depois do fim do jogo.
Enquanto isso, novos ataques aconteciam, em outros cinco lugares, visando bares e cafés. O mais grave deles aconteceu no Café Bataclan, onde havia um concerto de rock. Nesse local, de dois a quatro terroristas (segundo diferentes testemunhas) atiraram a esmo nos presentes, matando pelo menos 79 pessoas. Também foi o último local a ter a ação encerrada, por volta da uma da manhã, quando agentes de um esquadrão especial antiterror invadiram o recinto. Nos outros locais, os atacantes disparavam de carros ou a pé, da rua. É possível que alguns destes tenham participado de mais de um destes ataques.
Até o momento a contagem oficial de mortos entre a população atingida é de 128, com 250 feridos, 99 deles em estado considerado muito grave. Por isso, a contagem das vítimas pode ainda aumentar.
No total, oito atacantes morreram, sete deles explodindo cintos ou coletes que usavam, ao se verem cercados. Um foi morto pela polícia.
A maioria dos analistas aponta o ISIS (Estado Islâmico) como o provável responsável pelos ataques. Alguns aventaram a hipótese de ser a Al-Qaeda, porém, muitos comentários afirmam que o estilo corresponde mais ao ISIS. Também há referências de alguns sobreviventes afirmando que alguns dos assaltantes falavam que o ataque se devia ao que estava acontecendo “na Síria e no Iraque”, onde o ISIS mantém territórios sob controle. Também há o fato de que imediatamente antes destes ataques o ISIS sofrera dois reveses graves, o primeiro na cidade de Sinjar, no Iraque, que foi retomada pelo Peshmerga, o exército curdo, e o segundo em Raqqa, na Síria, num bombardeio por drone norte-americano, em que teria morrido (quase certamente) “Jihadi John”, tido como o carrasco das execuções de prisioneiros filmadas e com vídeos postados na internet. Ainda antes destes acontecimentos o ISIS assumira a responsabilidade por um duplo ataque suicida no Líbano, que deixara 43 mortos e 239 feridos num subúrbio populoso de Beirute.
Não se sabe ainda se os atacantes vieram de fora da França ou se já estavam no país. Ainda não foi divulgada sua identidade. Paris está praticamente bloqueada, com locais públicos fechados, controles nas ruas e nos transportes. É possível que haja ainda outros atacantes ou cúmplices em liberdade. As buscas continuam.
Num outro desenvolvimento, a polícia alemã apreendeu um caminhão que se dirigia para a França carregado com armamento pesado e explosivos. O motorista, um montenegrino, está detido.
Uma coisa é certa: estes ataques jogam água no moinho da direita ou da extrema-direita não só na França, mas em toda a Europa. Também dificultam a situação dos refugiados, vistos com suspeição por um grande número de pessoas em quase todos os países na União Europeia. Vários países fecharam ou estão fechando suas fronteiras. Na Alemanha os ataques noturnos aos abrigos de refugiados continuam.
O clima é de muito medo, insegurança e apreensão, inclusive aqui em Berlim. Muitos analistas apontam que ações como esta, ou o possível atentado contra o avião russo que caiu no Sinai, mostram uma grande escalada das ações do grupo ISIS, em alcance mundial.