Por Claudio Lovato, jornalista e escritor
Ela reza. Pelo menino. Seu menino joga bola, seu menino é jogador. Ela não entende de futebol. Nada. Quase nada. Mas ele está lá, metido naquilo, e é disso que ela entende, entende de seu menino.
Ela reza para que ele não se machuque. Para que o técnico não o persiga. Reza para que ele não faça inimigos, e, se os fizer, para que eles se tornem pó, poeira no vento, antes que consigam agredir-lhe o corpo e, principalmente, a alma. Reza para que ele não caia na conversa dos falsos amigos, e, se falsos amigos um dia conseguirem se aproximar dele, que sejam como os morcegos, que fogem ao ver a luz, a luz do seu menino, que é forte, que vem de cima, que vem do lugar mais alto que pode existir.
Ela reza, todos os dias, várias vezes por dia, segurando, com suas mãos de jovem-velha, o terço que carrega no pescoço. Assim ela reza. E, por vezes, sempre que o menino consegue um grande feito – um gol, ou mais de um, ou uma atuação elogiada na TV, na rádio e no jornal–, ela sente que o medo, mesmo que por instantes, abandona-lhe a alma e é substituído pela alegria, pelo orgulho e pela gratidão, sobretudo pela gratidão.
Ela reza porque seu amor pelo menino é tão grande que só pode ser manifestado assim, em oração. Ela reza como se a insistência de seus pedidos fosse a garantia de que Deus jamais se esquecerá dele, do seu menino. Ela reza porque ama, e seu amor é uma oração, a oração mais forte que já existiu, a oração fadada a ser aquela que nenhuma outra pode superar, a oração das orações.
E ela, mais uma vez, segura firme o terço, enquanto o homem da TV diz que que seu menino acabou de dominar a bola no meio-campo, e então ela sente o coração e o mundo pararem de repente, e ela apenas olha para a tela, pensando, em uma fração de segundos, que tudo o que ela podia fazer, está feito.