Debate promovido pelo CEBDS discute cenários para 2050 e ações do setor para garantir acesso, segurança e sustentabilidade
Por Agostinho Vieira, compartilhado de Projeto Colabora
Turbinas eólicas no distrito de Taiba, no município de São Gonçalo do Amarante, no Ceará. Foto Aziz Ary Neto / Image Source/AFP
O 7 de abril de 2020 entrará para a história como o dia em que o mundo presenciou a maior redução nas emissões de carbono do planeta desde a Revolução Industrial. Nessa data, em plena pandemia do coronavírus, a China estava nos seus últimos dias de lockdown, os Estados Unidos iniciavam o isolamento social e a Europa ainda tentava se acostumar com a quarentena forçada. Dados do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) indicam que neste 7 de abril as emissões de gases de efeito estufa caíram 17% em relação à média dos últimos anos. Uma vitória, sem dúvida. Mas ainda assim muito distante da meta. O Acordo de Paris prevê que as emissões de CO2 sejam zeradas até 2050. Logo, mesmo considerando o recorde de abril, ainda faltariam 83 pontos percentuais para alcançar o objetivo.
Apesar disso, representantes das empresas de energia reunidos ontem no webinar da série (Re)Visão 2050, promovido pelo CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) estão otimistas. Para eles, a meta não só é factível como o Brasil tem tudo para se destacar nesse cenário. O presidente da Siemens Energy Brasil, André Clark, acredita que, apesar dos desafios, o país tem um potencial enorme para assumir uma posição de liderança neste novo mundo: “O negócio verde é um excelente negócio. Estamos diante de uma oportunidade singular, para as empresas, para os engenheiros, para os trabalhadores de um modo geral…A Eletrobras, por exemplo, tem tudo para se transformar em uma nova Embraer”, explicou.
No início do debate, a presidente do CEBDS, Marina Grossi, lembrou que a demanda por energia, até 2050, deve crescer mais de 60% e que existe uma tendência de a população mundial se concentre ainda mais nas grandes cidades. Para ela, o desafio é brutal e as ações em direção a uma economia carbono zero são urgentes: “O cenário está dado, não há como fugir dessa realidade. Precisamos construir uma sociedade que ofereça educação, saúde e prosperidade sem deixar de respeitar os limites do planeta”. O presidente da Shell Brasil, André Araújo, reforçou o papel da sociedade nesse processo: “A produção de um celular hoje representa a emissão de 81 kg de CO2. Imaginem o impacto da produção de um bilhão de celulares? As pessoas precisam fazer escolhas. Não dá para trocar de celular duas ou três vezes por ano. Estamos todos no mesmo barco”.
A presidente adjunta da Neoenergia, Solange Ribeiro, contou que a empresa já assumiu um compromisso público de ser neutra em carbono até 2050 e que ainda este ano alcançará a meta de ter 90% da energia produzida vindo de fontes renováveis, especialmente dos parques eólicos espalhados por vários estados do país. Para ela, um dos desafios dos próximos anos é o investimento em educação, para evitar o desperdício e garantir o uso sustentável da energia.
Tiago Alves, CEO da Sunew, uma empresa especializada na produção de equipamentos para a energia solar, também reforçou o papel do cidadão para alcançar esse desafio: “São as pessoas que consomem e que elegem. Elas têm o poder de construir esses cenários de futuro, influenciar na regulação e na política de impostos. As empresas são compostas por pessoas e elas têm o dever de dar o exemplo”, argumentou.
A diretora de Petróleo, Gás e Biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Heloísa Borges, reforçou o clima de otimismo da mesa. Ela acredita que as empresas do setor já estão assumindo posturas ambiciosas em direção a uma transição energética: “A pandemia nos mostrou que não temos como prever tudo. Os chamados “cisnes negros” vão continuar aparecendo e temos que seguir em frente, com cautela, mas acelerando o acesso a uma energia sustentável, segura e com preços competitivos”.
Ao longo do debate, Marina Grossi, provocou os convidados a elencar medidas ou elementos que seriam fundamentais para garantir esse futuro de energia limpa. Solange Ribeiro citou a importância de políticas públicas: “Não estou falando de subsídios, mas de regras claras e instrumentos regulatórios que garantam a remuneração do investimento”. André Araújo, da Shell, lembrou a carta, divulgada esta semana, de alguns dos maiores investidores do planeta preocupados com o desmatamento no Brasil. Para ele, a Amazônia é um patrimônio e uma enorme oportunidade, por isso o país precisa de regras claras de preservação. Já Tiago Alves, da Sunew, disse que a hora é de fazer a coisa certa e que o futuro não será mais da energia, mas do carbono: “O aquecimento global vai fazer a pandemia parecer uma gripezinha”, concluiu, citando uma frase de um acionista da empresa. A série (Re)Visão 2050 é uma realização do Cebds, com patrocínio do Itaú, da Vale, apoio da ERM, da KPMG, da SITAWI e apoio de mídia do Projeto #Colabora.