Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado
Viver é muito perigoso… Porque aprender a viver é que é o viver mesmo… Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa… O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra (Guimarães Rosa)
Da mesma forma do que houve no passado, a casca de banana do medo tem sido jogada na frente de muitos nesta eleição. À esquerda e à direita. Vou me ater aqui ao calo que me aperta: o pavor disseminado na esquerda. A fumaça nos olhos é a de que Fernando Haddad não teria fibra suficiente para enfrentar o golpismo caso ganhe as eleições.
Alardeiam este medo. Mas, pelo menos da minha parte, este tipo de ameaça não prospera.
Relendo a ótima biografia do dramaturgo e ator Plínio Marcos, escrita por Oswaldo Mendes , li que o artista nunca se escondeu debaixo da cama com medo do ranger da dentuça da ditadura militar. Plínio foi censurado e preso á beça. Nem liam suas peças e já censuravam e prendiam. Foi censurado até quando interpretou São Francisco num teleteatro para a TV.
Bastava se chamar Plínio Marcos. E nem por isso, deixou de criar trabalhos memoráveis como “Dois Perdidos numa Noite Suja”, “Navalha na Carne” e “Abajur Lilás”. Dizia Plínio: “Estão enganados se pensam que vão me cansar. Se eu me cansasse, seria uma profunda vergonha diante dos meus filhos”. E dá-lhe censura e prisão.
Seria um profundo desrespeito a Plínio Marcos e tantos outros artistas, aos inúmeros ativistas políticos que combateram a ditadura militar, muitos deles tendo sido brutalmente torturados e até mortos, se ficássemos procurando um atalho confortável para não enfrentarmos o golpismo, a truculência, o racismo, o preconceito, a homofobia, a xenofobia.
Desrespeito ao preso político Luiz Inácio Lula da silva, que está nas masmorras por ter enfrentado a desigualdade, a injustiça social. Que ironia, não?
A hora é do embate Experimentamos um projeto de país que combateu a desigualdade na prática, que abriu as portas das universidades para os pobres, que proporcionou trabalho com remuneração digna a todos, que combateu o preconceito.
Ou seja, fomos tão a frente que não podemos agora recuar com medo dos trogloditas que saíram dos esgotos para nos atormentar.
Para falar em outro grande nome das artes, vejam o que encontrei na Internet: “Bob Marley acreditava que podia curar o racismo e o ódio, literalmente injetando apenas música e amor na vida das pessoas. Um dia ele estava programando um comício pela paz e foram à sua casa e atiraram nele. Dois dias depois, ele foi até o palco e cantou. Ai alguém perguntou: Por quê? E ele disse “As pessoas que tentam tornar esse mundo pior não tiram um dia de folga. Como eu vou tirar?”
Se viver é muito perigoso, como acentuou Guimarães Rosa, morar debaixo da cama é seguro, mas deve ser muito desconfortável, constrangedor e patético.
#HaddaManu13
Ouçam aqui uma música que tem a muito ver com este combate perene à repressão: várias interpretações de “Pesadelo”, de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós.
Foto: Plínio Marcos, da família.