Enquanto a água do São Francisco não vem, agricultor investe em reaproveitamento de recursos

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Por Marco Zero Conteúdo, compartilhado de Projeto Colabora – 

Morador de vila produtiva rural no Ceará quer estar preparado para o futuro: ‘Um dia auxílio do governo vai acabar e quem não tiver começado a plantar vai ter dificuldades’, diz

(Por Inês Campelo e Sérgio Miguel Buarque) Josué Raimundo dos Santos mora, com a mulher Maricleide e os dois filhos, em uma das trinta propriedades da Vila Produtiva Rural Retiro, no município de Penaforte/CE, uma das 18 do mesmo tipo para onde foram remanejadas famílias desalojadas pelas obras de transposição do Rio São Francisco, a partir de 2010, e nas quais a falta de infraestrutura, como abastecimento de água, tem sido um obstáculo. Desde que chegou a Retiro, em 5 de agosto de 2015, Josué tem uma preocupação: como se manter depois que o auxílio do governo acabar.




O “auxílio”, que garante a sobrevivência das famílias enquanto esperam pelos lotes irrigados, na opinião de Josué, pode ser uma armadilha. Ele vê com preocupação muitos vizinhos que vivem exclusivamente do “dinheiro do governo” e não buscam alternativas para o futuro. “Um dia vai acabar e quem não tiver começado a plantar vai ter dificuldades”, prevê. A questão levantada por Josué é um problema que afeta os moradores de todas as dezoito vilas produtivas rurais.O que ele chama de “auxílio” está previsto no plano estratégico de implementação do Programa de Reassentamento de Populações, que estabelece uma ajuda técnica para a produção (começou com 1,5 salário-mínimo e, em 2017, foi reduzido para um) até a entrega dos terrenos irrigados, com uma carência de seis meses até a primeira colheita.

Poço comunitário

A solução de Josué para fugir da armadilha foi buscar capacitação técnica e ideias criativas para conviver com a escassez de água. Participou das capacitações da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf), procurou ideias na internet com a ajuda do filho e, aos poucos, foi criando um sistema integrado em seu quintal, onde tudo se aproveita.

O primeiro desafio, claro, é a água. Em Retiro tem um poço com capacidade para 28 mil litros/hora que é administrado pela própria comunidade. Josué paga R$ 14,50 por 10 mil litros de água que usa para irrigar o que planta no quintal e para o consumo da casa. Planeja ter o próprio poço que, a longo prazo, representaria uma economia. Mas já fez as contas e, para perfurar, gastaria algo em torno de R$ 20 mil, mas uns R$ 300 mensais de energia para bombear a água. Ainda não dá.

Para minimizar os custos, Josué e a família reaproveitam a água do banho. O sistema faz parte de um projeto da Univasf e utiliza a água que seria jogada fora para irrigar a plantação de palma e milho no quintal da casa. O sistema é simples e engenhoso, podendo ser implantado com baixo custo.

Josué Raimundo dos Santos e sua família vivem na VPR Retiro, em Penaforte (CE): reaproveitamento de recursos (Foto: Inês Campelo/MZ Conteúdo)

Com a água do poço a família de Josué vive uma situação bem diferente do que estava acostumada na antiga casa, em Quixaba, distrito de Salgueiro/PE. “A gente precisava andar uns oito quilômetros. Pegava um jumentinho, colocava uma cangaia e ia no açude pegar a água”, lembra. “A gente só vive através da água”.

A água está no centro de todos os outros pequenos projetos que Josué desenvolve no quintal de casa, uma área de meio hectare. Também com o apoio da Univasf, ele cultivou milho hidropônico que serviu para a alimentação das galinhas, porcos e gado que cria para subsistência. O gado também se alimenta da palma produzida com o aproveitamento da água do banho.

Josué também está apostando na criação de peixes. Em uma caixa d’água de 500 litros ele cria cerca de 100 carpas e tilápias. Para oxigenar a água, ele utiliza um motor adaptado de uma máquina de lavar roupas. Os peixes chegam a pesar entre 300 e 400 gramas. Com ajuda dos filhos já cavou no fundo do quintal um barreiro com capacidade para mais de mil peixes. Josué imagina que a piscicultura possa ser um negócio bem rentável.

“Nós vamos buscando mais, inventando os projetos, até chegar água”. Josué explica que os projetos servem de teste para saber o que é mais viável economicamente para desenvolver em uma escala maior quando receber os lotes irrigados.

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