Enquanto caminho

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Por Claudio Lovato, jornalista e escritor – 

Ando pensando muito sobre a rapidez com que a ira surge. A forma como ela irrompe. Os estragos que ela faz. E a maneira com ela se recolhe.




A ira. A raiva. A cólera. O ódio.

Onde ficam guardados? Como pode um tipo de sentimento assim ser escamoteado com tanta eficácia (em alguns casos)?

Tenho asistido a transformações inverossímeis. Bizarras.

Há pessoas que estou desconhecendo. E que não sei se voltarei a reconhecer.

Intolerância. Aversão ao diferente. Desprezo ao diverso. Horror ao contraditório.

“O horror, o horror”, escreveu Joseph Conrad (e continua escrevendo).

Estou chegando à conclusão de que o antônimo de ódio não é amor, mas compaixão. (Porque o amor não tem antônimos, e, se os tivesse, o ódio não estaria à altura do papel. Nem por isso, contudo, acho que a compaixão desempenhe um papel lateral, já que o ódio não é pouca coisa, como temos visto, e seu oponente não haveria de ser um sentimento menor. )

Compaixão, sim. Escrúpulo. E, finalmente, grandeza.

Grandeza para compreender que há quem pense diferente de você, de nós, e que esse pensamento merece (precisa, essencialmente) ser respeitado, porque o pensamento é a pessoa que o elabora, abriga e revela.

A intolerância a um pensamento é a intolerância à pessoa que o expõe; é a recusa ao diferente, ao divergente; é a recusa ao próximo – o que, por fim, será a recusa do intolerante a si próprio e ao grupo do qual faz parte, um grande e fascinante grupo chamado Humanidade.

Dizem que as pessoas dentro de um estádio de futebol viram animais. Dizem que as pessoas se transformam em bestas homicidas quando estão dirigindo seus carros. Dizem que as pessoas em reuniões de condomínio são capazes de partir para a agressão física. Dizem que as pessoas – em casa, no bar ou nas redes sociais – , para fazer prevalecer seu ponto de vista, sacrificam amizades. Sim, tudo isso pode acontecer, e acontece, como temos visto.

E por quê?

Talvez a resposta esteja em nossa (in)capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. Falta empatia. É o que dizem.

Talvez, porém, a principal resposta esteja naquilo que sentimos  –  naquilo que realmente sentimos – no exato instante em que olhamos para o nosso rosto no espelho.

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