Por Miguel do Rosário, publicado em O Cafezinho –
É curioso.
Enquanto todos os grandes meios de comunicação repetem, dia e noite, que Lula, Dilma e o PT estão destruídos, o que a gente vê, nas ruas, é o contrário.
Ontem, quinta-feira à noite, a Cinelândia estava lotada. Milhares de pessoas compareceram ao ato de campanha de Jandira Feghali à prefeitura do Rio, com presença da presidenta eleita Dilma Rousseff.
O site Conexão Jornalismo informou que, segundo cálculo da PM, haveria 70 mil pessoas.
A praça estava tomada de gente, lembrando os melhores momentos da campanha vitoriosa de Dilma no segundo turno de 2014.
O Brasil vive uma época decididamente esquizofrênica, em que há dois mundos paralelos. O mundo da mídia e o mundo da realidade.
A Globo divulgou que o ato tinha “centenas” de pessoas. Sim, dezenas de centenas, o que em português também se diz milhares.
Simultaneamente, Lula discursava em Crato, Ceará, com a presença de também milhares de pessoas.
Aí eu pensei: e onde estão os golpistas?
Temer não consegue andar sequer nas ruas de Nova York, que dirá do Brasil.
Serra, ministro das relações exteriores, é vaiado até mesmo em casas de show em Manhattan.
Os líderes do PSDB, como Aécio Neves, não aparecem nas ruas: eles se limita a retuitar matérias da Globo sobre o último espetáculo da Lava Jato.
Na última vez que Aécio tentou participar de uma manifestação, foi quase linchado. E olha que era uma manifestação que ele próprio havia convocado!
Enquanto isso, Dilma anda no meio do povo, sem segurança, como vimos ontem no Rio de Janeiro. A presidenta foi a uma das áreas mais pobres do Rio, na zona oeste, que recebeu projetos do Minha Casa Minha Vida.
(Foto: reprodução Facebook)
Que mistério é esse?
É importante salientar que isso acontece justamente no momento em que a mídia chega ao auge de sua campanha de massacre de reputação contra o PT, com ajuda dos setores autoritários e golpistas do Estado.
Conversando com amigos, na Cinelândia, a gente chegou a conclusão que o ódio ao PT precisa ser alimentado diuturnamente pela mídia, porque, em caso contrário, ele reflui rapidamente. A prova disso é a reeleição de Lula em 2006, a eleição de Dilma em 2010 e sua reeleição em 2014.
Outra coisa importante a se ressaltar é a repetição do modus operandi da máquina golpista, que trabalha desde 2005 tentando derrotar o projeto popular e só o conseguiu este ano, através de um artifício incrivelmente desonesto, que foi o impeachment sem provas: em toda eleição, a máquina golpista incrustrada no Estado tenta intervir nas eleições através de espetáculos midiáticos de violência judicial.
Se você entrar no site do PSDB, verá que o partido se reduziu a ser apenas o braço político da Globo, que por sua vez também controla a Lava Jato: suas lideranças não estão nas ruas, não interagem com a população.
Existe uma curiosa semelhança neste sentido entre Globo, Temer e lideranças da direita golpista: nenhum deles estão na rua. Os repórteres da Globo há tempos precisam se esconder de manifestações ou, o que é ainda mais intrigante, em se tratando de jornalismo, precisam frequentemente esconder manifestações.
Se tudo isso acontece no ano do golpe, ou seja, no momento em que a esquerda deveria se encontrar mais fragilizada, é porque a história já está dando o troco nos golpistas. Os arbítrios contra Lula e contra petistas em geral já estão se voltando contra os próprios golpistas, de maneira que a direita brasileira se vê agora numa situação extremamente perigosa, pois está novamente se associando ao autoritarismo, ao golpe, às forças antidemocráticas que apelam à truculência para implementar medidas que beneficiam os ricos e prejudicam os pobres.
A direita golpista está cavando o próprio buraco onde será enterrada.