Fenômeno resulta em impactos severos que, isoladamente, eventos extremos não causariam

Por Raony Salvador, compartilhado da Revista Fórum

na foto: Incêndio na Califórnia. Créditos: Redes sociais/Reprodução

A oscilação drástica entre períodos de seca e chuvas intensas, fenômeno conhecido como “efeito chicote” (que vem do inglês, whiplash), tem se intensificado globalmente devido ao aquecimento do planeta. Este comportamento climático extremo, que tem provocado incêndios devastadores em Los Angeles, é apontado por cientistas como uma das consequências mais preocupantes das mudanças climáticas.

O whiplash climático consiste em uma transição rápida entre condições extremas de seca e umidade, resultando em impactos severos que, isoladamente, eventos extremos não causariam. Exemplos recentes incluem inundações no Paquistão, no leste da África e na Austrália, além de ondas de calor históricas na Europa e na China.

Estudos indicam que esses eventos aumentaram entre 31% e 66% desde meados do século XX, impulsionados pelo aquecimento global resultante da queima de combustíveis fósseis. A tendência é de que a frequência e a gravidade dessas oscilações continuem crescendo de forma exponencial, podendo dobrar caso o planeta atinja um aumento de temperatura de 3°C. Atualmente, as projeções apontam para um aquecimento de 2,7°C.

O mecanismo por trás do fenômeno está relacionado à capacidade ampliada da atmosfera aquecida de reter vapor de água. Durante períodos de chuva, isso resulta em tempestades mais intensas, enquanto em momentos de seca, a atmosfera seca mais rapidamente o solo e a vegetação, criando condições extremas em ambas as direções. Cientistas comparam esse efeito ao funcionamento de uma esponja, que absorve água rapidamente e a libera com intensidade.

“O aumento da volatilidade hídrica pode ser uma das marcas mais claras da mudança climática em escala global”, afirma o Dr. Daniel Swain, do Instituto de Recursos Hídricos da Califórnia. Ele alerta que os impactos climáticos estão se acelerando, em parte devido à intensificação desse “efeito esponja”.

O problema já causa estragos graves. No leste da África, entre 2020 e 2023, uma severa seca deixou 20 milhões de pessoas sem alimentos. No final de 2023, chuvas torrenciais agravaram a crise, destruindo plantações e deslocando mais de 2 milhões de pessoas. Em Los Angeles, anos de seca severa, seguidos por chuvas recordes e um verão extremamente quente, criaram condições ideais para incêndios florestais de grandes proporções.

Essas oscilações não apenas potencializam enchentes — pois solos secos têm baixa capacidade de absorção — como também desencadeiam deslizamentos de terra e aumentam o risco de doenças relacionadas à proliferação de mosquitos e outros vetores.

A análise, publicada na revista Nature Reviews Earth and Environment, reforça a necessidade de políticas públicas urgentes para adaptar as infraestruturas às novas condições climáticas. Especialistas sugerem, por exemplo, ampliar o acesso dos rios às suas planícies de inundação naturais e tornar as cidades mais permeáveis, reduzindo áreas asfaltadas e utilizando materiais que absorvam melhor a água da chuva.

A situação é especialmente crítica em regiões como África Central, Oriente Médio e Sul da Ásia, onde os riscos climáticos encontram alta densidade populacional e vulnerabilidades socioeconômicas.

“Não podemos mais planejar como se os padrões climáticos fossem fixos. É essencial desenvolver abordagens sistêmicas para viver em um mundo em constante transformação climática”, afirma o Dr. Kevin Collins, da Open University. Sir Brian Hoskins, do Imperial College London, alerta ainda que, mesmo subestimadas, as previsões apontam para uma duplicação da volatilidade climática com um aquecimento de 3°C — um cenário cada vez mais provável.

*Com informações de The Guardian