No Dia dos Jornalistas, celebrado nesta segunda-feira (07/04/2025), entidades representativas da categoria intensificam a cobrança por condições dignas de trabalho, diante da crescente precarização do setor, da estagnação salarial e do avanço da desinformação no ambiente digital.
Por Carlos Augusto,compartilhado do Jornal Grande Bahia
na foto: No Dia dos Jornalistas, representantes da categoria intensificam cobranças por direitos trabalhistas, combate à desinformação e valorizacão profissional diante da perda de empregos e baixos pisos salariais.
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), sindicatos estaduais e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) divulgaram posicionamentos em defesa de salários justos, fortalecimento das mídias regionais e regulamentação das plataformas digitais.
Segundo levantamento da Fenaj, o setor perdeu cerca de 18% dos empregos formais entre 2013 e 2023, refletindo um cenário de desestruturação dos modelos tradicionais de financiamento do jornalismo, avanço das formas precárias de contratação e redução drástica da proteção social dos trabalhadores da imprensa.
Samira de Castro, presidente da Fenaj, defende a retomada da obrigatoriedade do diploma para o exercício profissional, revogada por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2009. Para ela, a profissionalização do setor é essencial para a qualidade da informação e a proteção da democracia.
“Defender o jornalismo é defender a democracia. Isso exige liberdade de imprensa, condições dignas de trabalho e compromisso inegociável com a verdade”, afirmou Samira de Castro, presidente da Fenaj, ao destacar a centralidade da profissão para o funcionamento das instituições democráticas.
Credibilidade como diferencial
Para Samira de Castro, o diferencial do jornalismo profissional está na apuração séria, na escuta plural e no compromisso com a verdade. Segundo ela, é essa credibilidade, construída com ética e consistência, que pode superar o ruído provocado pelas informações falsas.
A ABI também se manifestou a favor da regulamentação das big techs, do combate ao assédio judicial a jornalistas e da valorização das mídias populares e comunitárias.
Piso salarial e desigualdades regionais
O quadro de baixa remuneração agrava a crise. Em Belém, cidade-sede da COP-30, os jornalistas recebem um dos piores pisos salariais do país: R$ 1.985 na capital e R$ 1.800 no interior, valores que mal superam o salário mínimo nacional de R$ 1.500.
“As verbas de publicidade pública circulam — inclusive via governos — mas não se revertem em melhores condições para os jornalistas”, denuncia Vito Gemaque, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor-PA). A categoria pleiteia reajuste de 10% e elevação do piso para dois salários mínimos, mas não houve contraproposta patronal. Nova rodada de negociação está prevista para 1º de maio.
Diploma obrigatório, combate à pejotização e piso nacional
Entre os pleitos históricos reafirmados está a retomada da obrigatoriedade do diploma de jornalismo, medida derrubada por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2009. A PEC 206/2012, que restabelece a exigência de formação específica, aguarda votação em plenário desde 2014. Para a Fenaj, a aprovação é crucial para moralizar o acesso à profissão e combater a banalização do exercício jornalístico.
Outro tema crítico é o enfrentamento à pejotização: a contratação de jornalistas como pessoas jurídicas, embora submetidos a jornadas regulares e obrigações típicas de vínculo empregatício. Embora considerada fraude trabalhista, a prática vem sendo legitimada pelo STF, colocando em risco direitos como férias, 13º salário e previdência.
A Fenaj também propõe a criação de um Piso Salarial Nacional para unificar e proteger minimamente a remuneração da categoria, diante das disparidades entre estados. O PL 2.960/2011, que tratava do tema, foi arquivado em 2019. A federação cobra que o Congresso Nacional retome o debate.
Combate à desinformação e alfabetização midiática
O enfrentamento à desinformação permanece entre as principais bandeiras das entidades. Diante do crescimento exponencial de conteúdos manipulados nas redes sociais, o jornalismo profissional precisa disputar a atenção do público com estratégias mais eficazes de comunicação.
A pesquisadora Sílvia Dal Ben, doutoranda na Universidade do Texas, propõe o uso de formatos multiplataforma e atrativos, sem abrir mão da qualidade e da veracidade. Para ela, é preciso superar o modelo simplificado de produção de conteúdo e apostar em narrativas engajadoras e fundamentadas.
A professora Fabiana Moraes (UFPE) defende o uso consciente de estéticas semelhantes às das fake news, com rigor técnico, para atrair públicos. Já Josenildo Guerra (UFS) destaca que é fundamental equilibrar apelo narrativo e profundidade jornalística, como forma de reconstruir a confiança e conquistar corações e mentes num cenário dominado por informações falsas, truncadas e emocionalmente carregadas.
Mobilização em Brasília: Ocupa Semana do Jornalista
De 7 a 11 de abril de 2025, uma comitiva de jornalistas está em Brasília para uma série de encontros com representantes dos Três Poderes — Executivo, Legislativo e Judiciário — com o objetivo de avançar nas demandas da categoria. A mobilização nacional, intitulada “Ocupa Brasília na Semana do Jornalista”, busca sensibilizar as autoridades sobre a importância estratégica da profissão.
Além das pautas já mencionadas, a agenda inclui o enfrentamento à violência contra jornalistas — física, digital e judicial — e a criação de um fundo público para financiamento do jornalismo, sustentado pela taxação das big techs. A proposta visa garantir que empresas como Google e Meta, que se beneficiam economicamente do conteúdo jornalístico, paguem pelo uso do material produzido por profissionais de imprensa.
Resumo da pauta de reivindicações dos jornalistas brasileiros em 2025:
- Regulamentação das big techs e taxação para financiar o jornalismo
- Retomada da exigência do diploma de jornalismo (PEC 206/2012)
- Combate à pejotização e fraude trabalhista
- Criação de Piso Salarial Nacional para jornalistas
- Fortalecimento das mídias regionais, populares e comunitárias
- Políticas públicas de valorização da profissão
- Combate à violência, intimidações e assédio judicial
- Alfabetização midiática e enfrentamento da desinformação