Entre Algoritmos e Narrativas: A Mudança no Comportamento Eleitoral Brasileiro e os Desafios de 2026

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Como as Big Techs, os algoritmos e a polarização mudaram o comportamento eleitoral no Brasil, moldando o futuro das eleições de 2026

Por Reynaldo José Aragon Gonçalves, compartilhado de Brasil 247




foto: População e urna eletrônica (Foto: REUTERS/Amanda Perobelli | Fábio Pozzebom/Agência Brasil)

Desde a eleição presidencial de 2014, o Brasil passou por transformações profundas no comportamento de seus eleitores, impulsionadas por uma confluência de fatores políticos, econômicos e tecnológicos. A crise econômica de 2014, com inflação em alta e crescimento em queda, gerou um cenário de desconfiança nas instituições políticas tradicionais, dando espaço para o crescimento de movimentos populistas e polarizados. Em paralelo, a ascensão das redes sociais e das Big Techs criou novos meios de comunicação que moldaram o fluxo de informações políticas, ao mesmo tempo, em que amplificaram a polarização ideológica e a disseminação de desinformação.

Em 2018, essa dinâmica se consolidou. A eleição de Jair Bolsonaro foi impulsionada por um sentimento generalizado de frustração com denúncias de corrupção, as elites políticas e os partidos tradicionais. Nesse contexto, a desinformação e o uso estratégico das plataformas digitais, como WhatsApp, Facebook e Twitter, desempenharam um papel crucial. A manipulação de dados pessoais por meio de algoritmos de microtargeting e o aumento das fake news transformaram o processo eleitoral, criando uma nova forma de engajamento político.Play Video

O cenário eleitoral de 2022, por sua vez, consolidou a polarização extrema, com a luta entre os projetos representados por Bolsonaro e Lula se tornando uma disputa não apenas política, mas ideológica, cultural e até existencial. O uso das Big Techs para segmentação de eleitores e o fortalecimento de narrativas extremistas na internet fizeram com que a eleição fosse decidida não só pela economia ou pela política tradicional, mas pela dinâmica digital, onde as campanhas nas redes sociais se tornaram tão ou mais relevantes que as discussões nos meios de comunicação tradicionais.

À medida que avançamos para 2026, a tecnologia continua a ser o fator mais disruptivo no processo eleitoral. A influência da inteligência artificial, dos algoritmos de recomendação e da manipulação de dados pessoais tende a crescer, criando novas formas de interação entre candidatos e eleitores. Ao mesmo tempo, a polarização ideológica, alimentada pelas redes sociais e pela fragmentação da mídia, deve continuar a definir o rumo das eleições no país.

O objetivo deste artigo é analisar a evolução do comportamento eleitoral no Brasil, partindo de 2014 até 2022, e projetando as tendências para 2026. Para isso, exploraremos os principais fatores que moldaram essas mudanças: a crise econômica, a ascensão da polarização política, o impacto das Big Techs e dos algoritmos, além da desinformação. A análise será conduzida com base em dados e fontes verificáveis, para entender o impacto dessas forças na dinâmica eleitoral e prever como elas afetarão o futuro da política brasileira.

Fatores que Moldaram o Comportamento Eleitoral: Uma Análise Dialética.

A Crise Econômica de 2014 e Seus Reflexos nas Eleições: a eleição de 2014 foi marcada por um cenário econômico tenso. O Brasil vivenciava uma desaceleração econômica significativa, com uma inflação crescente e uma taxa de crescimento do PIB negativa. O governo de Dilma Rousseff, reeleita naquele ano, não conseguiu evitar os efeitos da crise econômica, o que resultou em uma queda de popularidade entre os eleitores. A inflação, a desvalorização do real e a falta de perspectivas de crescimento foram determinantes na mudança de percepção da população sobre a administração do PT.

Dados de 2014: A inflação em 2014 fechou em 6,29%, acima da meta do governo, e o PIB cresceu apenas 0,1%, o que refletiu diretamente na insatisfação popular (Fonte: IBGE).

Pesquisas eleitorais: De acordo com pesquisas do Datafolha e Ibope, o crescimento da insatisfação popular com a economia influenciou diretamente o voto de muitos brasileiros. Embora Dilma tenha sido reeleita, a vitória foi apertada, refletindo uma divisão clara entre os eleitores que ainda acreditavam nas promessas de continuidade e os que estavam frustrados com a gestão econômica do PT. Essa crise econômica gerou um ambiente propício para o surgimento de críticas à administração federal e abriu caminho para movimentos de oposição. A desilusão com a economia foi, portanto, um dos motores fundamentais da mudança no comportamento eleitoral.

A Corrupção e a Operação Lava Jato: Catalisadores da Insatisfação Popular

A Operação Lava Jato, que se iniciou em 2014, expôs escândalos de corrupção envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras e partidos políticos. Esse escândalo teve um impacto devastador na imagem do governo e levou a um aprofundamento da crise política e institucional no Brasil.

Impacto da Lava Jato: A operação afetou diretamente a popularidade de Dilma Rousseff e, mais tarde, a imagem de Lula, o ex-presidente condenado e preso em 2017. O enfraquecimento da figura de Lula, uma das maiores lideranças políticas do Brasil, foi fundamental para o enfraquecimento do Partido dos Trabalhadores (PT) e a ascensão de figuras de oposição.

A ascensão de Jair Bolsonaro: A Lava Jato teve um efeito indireto na eleição de 2018, quando Jair Bolsonaro, com sua retórica anti-corrupção e seu discurso contra as elites políticas tradicionais, se tornou um dos principais candidatos. Ele soube explorar esse sentimento de indignação com a corrupção para se apresentar como uma alternativa à velha política.

A Influência das Big Techs e o Impacto das Redes Sociais.

A transformação na maneira como os brasileiros consomem informações políticas também teve um papel fundamental nas eleições de 2018 e 2022. O uso crescente das Big Techs, como Facebook, WhatsApp, Twitter e Instagram, foi um fator-chave na modulação do debate político. A desintermediação das informações – ou seja, a eliminação da mídia tradicional como intermediária entre o eleitor e as fontes de informação – favoreceu a disseminação de conteúdos sem a mediação dos filtros jornalísticos.

O caso do WhatsApp: Em 2018, o uso de WhatsApp para disseminação de informações políticas se mostrou particularmente eficaz. Estudos apontam que mais de 70% dos eleitores estavam sendo alcançados por mensagens políticas no WhatsApp, muitas vezes contendo fake news ou informações manipuladas.

O papel dos algoritmos de microtargeting: A ascensão das Big Techs também trouxe a questão do microtargeting, onde campanhas eleitorais começaram a segmentar de forma minuciosa os eleitores, utilizando algoritmos para personalizar a comunicação de acordo com o perfil de cada usuário. Esse processo foi crucial para campanhas como a de Jair Bolsonaro, que utilizou esses recursos para alcançar seu eleitorado e consolidar seu apoio.

Estudo da USP sobre o impacto das redes sociais: segundo uma pesquisa da USP, 66% dos eleitores afirmaram que as redes sociais influenciaram suas decisões de voto em 2018. A internet e as redes sociais não só ampliaram o alcance das campanhas, mas também criaram um novo espaço para a polarização política.

Desinformação e Polarização: O Impacto na Dinâmica Eleitoral.

A desinformação se tornou um fator preponderante nas eleições de 2018 e 2022, intensificando a polarização ideológica no Brasil. O uso de fake news e narrativas distorcidas nas campanhas eleitorais fez com que a informação deixasse de ser um campo de debate democrático para se transformar em uma arena de manipulação política.

Fake News e Polarização: Estudos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) indicam que a polarização ideológica foi intensificada por meio das fake news que circulavam rapidamente nas redes sociais. Durante as eleições de 2018, a disseminação de desinformação sobre os candidatos, principalmente via WhatsApp, foi amplificada por bots e contas falsas.

A estratégia de Bolsonaro: Jair Bolsonaro utilizou de forma eficaz as narrativas polarizadoras, focando em temas como anti-esquerda, defesa da moralidade tradicional e anti-corrupção, criando um ambiente de guerra cultural que atraiu muitos eleitores desiludidos com o status quo.

Gráfico: A Influência das Redes Sociais nas Eleições de 2018
Gráfico: A Influência das Redes Sociais nas Eleições de 2018

A Consolidação da Polarização em 2022 e o Papel da Tecnologia

As eleições de 2022 no Brasil representaram o auge da polarização política e ideológica que vinha se acentuando desde 2018. O confronto entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva não foi apenas uma disputa sobre propostas econômicas ou políticas, mas tornou-se uma luta cultural e identitária, com um forte componente de guerra psicológica e desinformação.

A Intensificação da Polarização Política e Ideológica

A polarização política em 2022 atingiu níveis extremos, com o país dividido entre dois blocos antagônicos: de um lado, o Bolsonarismo, que representava um projeto de direita radical, nacionalista e anti-esquerda; de outro, o campo progressista, que via em Lula a possibilidade de restaurar a democracia e combater as desigualdades sociais. O clima de tensão entre os dois campos não apenas dividiu a sociedade, mas também aprofundou as fissuras nas instituições democráticas.

Dados de polarização: Conforme a pesquisa do Datafolha (2022), 75% dos brasileiros afirmaram que a eleição de 2022 seria decisiva para o futuro da democracia no Brasil, refletindo o grau de tensão e a importância do pleito para os eleitores. A eleição tornou-se, assim, um divisor de águas, com o voto não sendo apenas sobre política econômica, mas sobre valores, cultura e identidade.

O Papel das Big Techs e da Tecnologia nas Campanhas Eleitorais.

O uso das Big Techs nas campanhas eleitorais de 2022 foi, de longe, mais sofisticado do que nas eleições anteriores. A manipulação de dados pessoais por meio de algoritmos de microtargeting e o uso de inteligência artificial para segmentação de mensagens políticas se tornaram as principais estratégias de engajamento com os eleitores. As redes sociais continuaram a ser os principais veículos de informação, mas com uma configuração ainda mais segmentada e personalizável, graças ao avanço da tecnologia.

Microtargeting e IA: A estratégia de microtargeting foi amplificada, com campanhas usando algoritmos de IA para identificar eleitores indecisos e enviar mensagens direcionadas. Isso permitiu que as campanhas de Lula e Bolsonaro personalizassem seus discursos, tocando em pontos sensíveis de diferentes grupos eleitorais. A segmentação de conteúdo foi feita com base em dados como localização, histórico de interações e comportamento online dos eleitores.

A disseminação de fake news: O WhatsApp continuou sendo a principal plataforma para disseminação de fake news e desinformação. Estima-se que mais de 50% das mensagens políticas compartilhadas no aplicativo durante a eleição de 2022 estavam relacionadas a informações falsas ou distorcidas. De acordo com estudo do Observatório de Fake News da PUC-SP, 80% dos eleitores que receberam informações políticas via WhatsApp afirmaram que essas mensagens influenciaram seu voto.

O gráfico abaixo, baseado em pesquisas do Datafolha (2022), mostra a influência das principais plataformas digitais na decisão de voto dos eleitores.

Gráfico de influência das plataformas digitais (2022)
Gráfico de influência das plataformas digitais (2022)

Impacto da Polarização e da Desinformação no Processo Eleitoral.

Em 2022, a polarização e a desinformação tornaram-se as grandes protagonistas do processo eleitoral. Com o crescimento da manipulação de informações por meio de algoritmos e o aumento da fragmentação da mídia, o debate político no Brasil se tornou cada vez mais restrito a bolhas ideológicas. Isso criou um ambiente onde a verdade perdeu seu valor, e as narrativas ideológicas dominaram o campo político.

A guerra cultural: A eleição de 2022 também foi marcada pela guerra cultural, com um ataque constante a instituições democráticas, como o Supremo Tribunal Federal (STF), e a disseminação de narrativas que buscavam deslegitimar o processo eleitoral, especialmente por parte de Bolsonaro e seus aliados. O uso de desinformação sobre a legitimidade do voto eletrônico e a fraude eleitoral alimentou um clima de desconfiança e polarização entre os eleitores.

O uso da retórica ideológica: As campanhas eleitorais, principalmente de Bolsonaro, passaram a usar uma retórica altamente ideológica, buscando conquistar o eleitorado conservador, baseado em temas como a família tradicional, valores cristãos e a ameaça do comunismo. Essa narrativa foi amplificada nas redes sociais, onde os algoritmos ajudaram a reforçar essas mensagens.

Projeções para 2026: O Futuro das Eleições Brasileiras.

A tendência de crescente polarização e o uso das Big Techs nas campanhas eleitorais deve continuar até 2026. A inteligência artificial será ainda mais crucial para personalizar mensagens eleitorais e aumentar a segmentação de conteúdo. Espera-se também um aumento na regulação das plataformas digitais, com foco na transparência dos algoritmos e no combate à desinformação, uma vez que a pressão por mudanças nas políticas de dados tende a aumentar.

Previsão de crescimento da IA: Estudos da Fundação Getúlio Vargas (2022) indicam que a inteligência artificial será a principal ferramenta nas campanhas eleitorais de 2026, com a capacidade de analisar comportamentos de eleitores em tempo real e enviar mensagens mais personalizadas e eficazes.

O papel das fake news: A disseminação de fake news e a manipulação de informações eleitorais não devem diminuir. Ao contrário, a tendência é que se intensifique, com novas formas de desinformação sendo utilizadas para polarizar ainda mais o eleitorado e fragilizar a confiança nas eleições.

Projeções para 2026: O Futuro das Eleições Brasileiras

As eleições de 2026 no Brasil são uma incógnita, mas algumas tendências atuais, como a polarização ideológica, o crescimento do uso das Big Techs, e a desinformação, devem ter um impacto ainda mais profundo no processo eleitoral. Além disso, as novas tecnologias, como a inteligência artificial (IA) e os algoritmos de microtargeting, provavelmente serão mais sofisticadas, tornando as campanhas eleitorais ainda mais direcionadas e manipuladoras.

O Crescimento da Inteligência Artificial nas Campanhas Eleitorais

inteligência artificial se tornou uma ferramenta essencial nas campanhas eleitorais, especialmente no que diz respeito ao microtargeting e à personalização de mensagens políticas. Em 2026, espera-se que a IA tenha um papel ainda mais preponderante no direcionamento de conteúdo, criando campanhas mais eficazes e segmentadas.

  • Previsões sobre o uso de IA: Estima-se que, até 2026, o uso de algoritmos preditivos será capaz de identificar não apenas as preferências políticas dos eleitores, mas também suas emoçõesmedos e dúvidas mais íntimas. Isso permitirá que as campanhas eleitorais atinjam os eleitores em um nível mais profundo, explorando suas vulnerabilidades emocionais.
  • Estudo de Tendências em IA: De acordo com um estudo da Fundação Getúlio Vargas (2022), a IA será utilizada para analisar em tempo real os sentimentos dos eleitores, ajustando automaticamente as campanhas conforme as reações do público nas redes sociais. A análise de dados comportamentais será mais precisa e será aplicada para moldar o discurso eleitoral em tempo real.

A Intensificação da Polarização Política

O uso das Big Techs e das redes sociais terá um papel determinante na continuidade e intensificação da polarização política. As campanhas eleitorais de 2026 provavelmente serão mais radicalizadas, com discursos extremistas sendo amplificados por meio de algoritmos que priorizam conteúdos que geram emoção e engajamento.

  • O impacto das fake news: A desinformação provavelmente se tornará mais sofisticada. Com o crescimento da inteligência artificial, será possível criar conteúdos falsificados mais difíceis de detectar. Isso tornará ainda mais difícil para os eleitores distinguir entre informação verdadeira e falsa, aprofundando a polarização e fragmentando ainda mais o debate público.
  • Fontes: Segundo pesquisa da USP (2022)80% dos eleitores afirmam que o aumento da desinformação nas últimas eleições contribuiu diretamente para a radicalização de seus pontos de vista. Este fenômeno não deve desaparecer até 2026, e as redes sociais provavelmente continuarão a ser o terreno fértil para a disseminação de conteúdo polarizador.

Regulação das Plataformas Digitais: Necessidade de Ação

Com o crescente poder das Big Techs e o uso intensivo de dados pessoais nas campanhas eleitorais, a necessidade de uma regulação mais rígida das plataformas digitais será crucial para garantir a integridade democrática.

  • Projetos de regulação: Diversos especialistas apontam que, até 2026, será necessário estabelecer um quadro regulatório claro sobre como as Big Techs podem operar durante o processo eleitoral. Isso inclui restrições no uso de dados pessoais, maior transparência nos algoritmos que selecionam e distribuem conteúdo, e a criação de mecanismos para combater a desinformação de forma mais eficaz.
  • A regulação internacional: Além das discussões nacionais, as organizações internacionais já estão se movimentando para estabelecer diretrizes globais sobre o uso de plataformas digitais em contextos eleitorais. A União Europeia já avançou com a Lei dos Serviços Digitais (DSA), que pode servir como modelo para o Brasil nos próximos anos.

O Futuro do Voto Digital e a Soberania Informacional

Uma tendência importante que deve se consolidar até 2026 é a digitalização do voto. A implementação de sistemas eletrônicos de votação mais seguros, provavelmente com o uso de blockchain, será discutida mais intensamente, mas os desafios de soberania informacional ainda serão grandes.

Voto eletrônico e blockchain: A tecnologia blockchain tem sido mencionada como uma possível solução para garantir segurança e transparência nas eleições. No entanto, a soberania informacional será uma preocupação crescente, já que muitas dessas tecnologias podem ser controladas por grandes empresas multinacionais. A autonomia do Brasil na regulamentação e implementação de sistemas eleitorais seguros será essencial para garantir que a democracia não seja minada por interesses externos.

Gráfico[: Projeções de Uso de IA e Big Data nas Eleições de 2026
Gráfico[: Projeções de Uso de IA e Big Data nas Eleições de 2026

Conclusão

As eleições presidenciais no Brasil, de 2014 a 2022, revelaram mudanças significativas no comportamento dos eleitores, influenciadas por uma série de fatores econômicos, políticos e tecnológicos. A partir da crise econômica de 2014, a desilusão popular com o governo de Dilma Rousseff e o aumento da insatisfação com a corrupção abriram caminho para um novo cenário político, que culminou com a ascensão de Jair Bolsonaro em 2018, um reflexo de um crescente movimento anti-establishment. Esse movimento foi alimentado não só pela crise econômica e pela Operação Lava Jato, mas também por uma crescente polarização ideológica e pela intensificação das redes sociais como meios de comunicação e mobilização política.

O uso das Big Techs e dos algoritmos de microtargeting teve um papel central na eleição de 2018, quando as fake news e a desinformação começaram a moldar o debate público e afetar diretamente a percepção dos eleitores sobre os candidatos e suas propostas. A polarização ideológica se acentuou, e a tecnologia se tornou uma ferramenta poderosa tanto para mobilizar eleitores quanto para fragmentar ainda mais a sociedade.

Em 2022, essa dinâmica foi consolidada, com a eleição de Lula e Bolsonaro não representando apenas disputas políticas, mas uma verdadeira guerra ideológica. As redes sociais e a desinformação continuaram a ser usadas para intensificar a polarização e mobilizar eleitores, refletindo a transformação do cenário eleitoral em uma verdadeira batalha de narrativas, onde a verdade tornou-se secundária e a emoção prevaleceu.

As previsões para as eleições de 2026 indicam que essas tendências não só continuarão, mas se intensificarão. A inteligência artificial e as Big Techs terão um papel ainda mais central, com campanhas mais personalizadas e segmentadas, utilizando dados pessoais e algoritmos preditivos para moldar o comportamento dos eleitores. A polarização política deverá continuar em alta, impulsionada pela disseminação de fake news e pelo aumento da manipulação das percepções eleitorais por meio de narrativas extremistas.

Porém, esse cenário também exige uma reflexão sobre o futuro da soberania informacional e da democracia no Brasil. O papel das Big Techs e o controle das informações precisam ser discutidos de forma mais profunda, com reformas regulatórias que protejam os cidadãos e as instituições democráticas contra a manipulação digital. A transparência nos algoritmos, a proteção dos dados pessoais e o combate à desinformação serão desafios cruciais para garantir que as futuras eleições sejam verdadeiramente representativas da vontade popular, sem serem distorcidas pela manipulação tecnológica.

Ações necessárias:

  1. Regulação das Big Techs: É essencial criar um marco regulatório que estabeleça limites claros para o uso de dados pessoais e algoritmos durante as campanhas eleitorais.
  2. Combate à desinformação: A educação midiática deve ser uma prioridade para capacitar os eleitores a identificar fontes confiáveis e distinguir a verdade das fake news.
  3. Transparência nos processos eleitorais: O Brasil deve garantir a integridade de seus sistemas eleitorais, investindo em tecnologias seguras, como o blockchain, para assegurar a transparência e a segurança no processo de votação.
  4. Promoção do debate democrático: as redes sociais devem ser utilizadas para promover o debate saudável e a diversidade de opiniões, em vez de ser um terreno de polarização e manipulação.

A mudança no comportamento eleitoral no Brasil reflete uma transformação mais ampla na sociedade, onde a política é cada vez mais influenciada por fatores tecnológicos e ideológicos. Para que o Brasil preserve sua democracia e continue avançando, será essencial encontrar um equilíbrio entre a liberdade digital e a proteção dos valores democráticos, garantindo que o uso das tecnologias não comprometa o processo eleitoral e o futuro da nação.

Referências:

FUNDÇÃO GETÚLIO VARGAS (FGV). O impacto da inteligência artificial e do microtargeting nas campanhas eleitorais brasileiras: Tendências para 2026. Estudo realizado pelo Centro de Estudos de Tecnologia Política da FGV, disponível em: www.fgv.br.

IBOPE. O impacto das plataformas digitais e a polarização política nas eleições de 2022. Pesquisa Ibope, disponível em: www.ibope.com.br.

INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE MASSACHUSETTS (MIT). Big Data e a manipulação eleitoral: O futuro das eleições no Brasil. Pesquisa do Laboratório de Política Digital do MIT, disponível em: www.mit.edu.

PESQUISAS DATAFOLHA. A influência das redes sociais nas eleições de 2018: WhatsApp, Facebook, Instagram e Twitter nas decisões de voto. Pesquisa Datafolha, disponível em: www.datafolha.folha.uol.com.br.

PESQUISA USP. A guerra das informações: como as fake news e as redes sociais influenciaram as eleições de 2022. Pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos sobre Desinformação da USP, disponível em: www.usp.br.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP). Polarização política e desinformação nas eleições de 2018. Pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos sobre Desinformação da USP, disponível em: www.usp.br.

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