Por Ulisses Capozzoli, jornalista, Facebook
Não soa ligeiramente despropositado que a empresa responsável pela distribuição de energia elétrica em São Paulo (a Enel, que substituiu a Eletropaulo) seja italiana? Por que os italianos, por meio de sua gigante de energia, se interessariam pela revenda de energia por aqui? Os italianos têm um coração de ouro e estão determinados a nos ajudar a ser mais felizes? Como fizeram os espanhóis, quando compraram o antigo Banespa, para integrá-lo ao grupo Santander?
Quando passaram pela primeira vez pela América, os espanhóis deixaram atrás de si um fio de sangue desenhado pela lâmina afiada da espada. Mudaram os espanhóis e também integram um consórcio internacional para fazer de nós, brasileiros, um povo mais feliz? Ou não é nada disso e, neste caso, tanto italianos quanto espanhóis, na distribuição de energia e no negócio do dinheiro, viram uma oportunidade de ouro que nós, idiotas cada vez mais, não enxergamos? Minhas fichas todas estão apostadas na segunda hipótese e claro que não sou o único a enxergar essa obviedade.
Agora, o desgoverno do paraquedista, expulso do exército por indisciplina, anuncia que fará mais um conjunto de vendas, a “desestatização” que faz o coração de idiotas de todos os naipes acelerar de emoção. O paraquedista decidiu que mais nove estatais serão oferecidas para a “privatização”, como se essa fosse a solução real dos nossos problemas.
O governo está sem caixa por queda na arrecadação e busca convencer que essas vendas (tradicionalmente a preço de banana) trazem os recursos necessários para a saúde perfeita da economia. Quando é exatamente o contrário.
Essa gente canta o hino nacional com a mãozinha no peito, mas entrega o país vergonhosamente e isso inclui militares, especialistas em falar de patriotismo. Quando estão entre os que entregam, num movimento que parece não ter fim, as riquezas nacionais.
Os espanhóis são espertos, como antigos saqueadores coloniais, e mantem, no topo do antigo edifício sede do Banespa, a bandeira do Estado de São Paulo, como se ele ainda pertencesse à sociedade nacional. E os idiotas olham, mas não enxergam a realidade.
Entre as empresas que os idiotas pretendem entregar, sob justificativa de maior eficiência, estão a Eletrobrás, os Correios, a Codesp, na área portuária (saqueada pelo ex-presidente, o refinado cultor de mesóclises, que, diziam, seria preso ao final do mandato, mas voa com a liberdade de um beija-flor) a Casa da Moeda (a que imprime a moeda nacional, esse detalhe é significativo e não deve ser subestimado) a Ceasaminas e a Ceagesp, em São Paulo, centros estratégicos de abastecimento de alimentos.
Nós, brasileiros, somos incapazes de distribuir também a comida diária de que necessitamos e para isso precisamos da expertise estrangeira? Isso é realidade ou pura ficção?
Estão incluídas ainda um conjunto de outras empresas como a Telebrás, na área das telecomunicações ou a CBTU, que cuida do transporte de passageiros em trens urbanos de Belo Horizonte, Recife, Maceió, João Pessoa e Natal, no Nordeste.
Também somos incapazes de manejar os trens que transportam a nossa gente? É de se pensar: para que servimos nós, o povo brasileiro, além de massa de manobra a um governo sem rumo e noção elementar do que é e do que não é?
A justificativa de governo em fazer caixa com a venda de estatais é só mais um punhado de areia nos olhos para impedir que a realidade dos fatos se apresente com nitidez ao olhar necessário para a preservação da vida e da dignidade. O governo não tem caixa porque a economia desabou e se desmancha a cada dia. E a economia desabou tanto por falta de rumos como de credibilidade.
Com o desabamento da economia os empregos foram destruídos e sem empregos não há renda e sem renda não há consumo. O que cria um círculo vicioso: sem consumo não há produção, sem produção não há investimentos. O movimento do cachorro correndo atrás do rabo é que sem atividade econômica não há pagamento de impostos e com isso voltamos ao ponto de partida.
Agora, imagine um desempregado que, para compensar o salário que perdeu, um dia vende umas cadeiras, no outro, a mesa, a cama, o fogão e o carro (que pode ter sido o primeiro a ser vendido). O que irá sobrar ao final dessa venda a cada dia? A resposta é: não sobrará nada e, além disso, o problema da renda doméstica não estará resolvido.
Empregue esse exemplo no caso nacional e você mesmo saberá o que vai acontecer por aqui ao final de algum tempo. O único que haverá é miséria e sofrimento. Nada mais.