Entrevista com Aldir Blanc: sinto uma falta danada de umas cervas e do meu “mordomo”

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Publicado na Revista Fórum – 

Eu sei que Aldir Blanc dispensa apresentações para ampla maioria dos leitores desta Fórum, mas nunca é demais dizer que é um dos mais importantes compositores de sua geração.




Autor de lindas músicas, muitas em parceria com João Bosco, com quem fez O Bêbado e o Equilibrista, Aldir além de médico psiquiatra que deixou a carreira pra trás ainda em 1966 também é cronista dos bons.

Em comemoração aos seus 70 anos, amigos decidiram reeditar três títulos e lançar mais dois inéditos. E para isso organizaram um financiamento coletivo que premia os apoiadores, a depender do valor, inclusive com livros autografados.

O amigo de internet, mas do peito, Eduardo Goldenberg, me avisou pelo twitter dessa ação e eu pedi a ele que me abrisse as portas para uma entrevista com Aldir. Edu, solicito, mandou um e-mail e Aldir topou. E ainda nos deu a honra de dizer que é “leitor assíduo” desta revista. Que no entender deste editor é muito mais importante que um prêmio de jornalismo.

Segue o papo que tivemos via e-mail e que contou com sugestões do Julinho Bittencourt, músico dos bons e também jornalista da Fórum.

As suas crônicas do Pasquim, que estão no “Rua dos Artistas e Arredores”, falam de um tempo e de um jeito que parece não existir mais. São os personagens que não existem ou são os cronistas que têm mais espaço na mídia que não vivem a vida do povo?

Morando na Zona Norte a vida toda, posso garantir que os personagens continuam por aqui.  O problema é que não recebem atenção a não ser quando tomam balas perdidas. Todo dia um pé no saco, nos empurram besteiras sobre a Musa do Crime e seu corpão, o novo “amor” da Mulher Jaca, as asquerosas manobras (pagas com nossa grana) de Temeroso…Não tenho nada contra bunda de fora, sou avô mas não tô morto. Agora, aguentar a vida fácil de ex-BBBs é de lascar. Esse festival de besteira, pra relembrar o imortal Sérgio Porto, serve de tapume para os desmandos de juízes, parlamentáveis, fiespeidos… O  monstruoso estrago da Samarco está chegando no santuário ambiental de Abrolhos! Cadê os presos pelos 19 homicídios (por baixo)? Por que Aócio da Neve, além de absolvido aqui e arquivado lá, continua blindado no incrível escândalo não investigado de Furnas? E os bem-pensantes ainda ousam falar em “imparcialidade. Vão se fifar.

Você acompanha a literatura atual produzida na periferia? Tem contato com movimentos de musicas como funk e hip hop e o que acha deles?

Acompanho por meio de netas e netos, mas sou mais do grande samba de Nei Lopes, Wilson das Neves, Zeca Pagodinho – além de meu bálsamo diário: o jazz.

Algumas de suas canções, como em “De Frente pro Crime”, parecem trilha sonora das suas crônicas. No seu trabalho criativo você usa eventualmente as mesmas referências para os dois produtos, crônicas e letras?

Sim, embora eu goste de dizer que tudo que faço em crônicas, contos, pontos, é decorrente do que mais me orgulho: ser compositor popular.

O que mudou no Rio de Janeiro cantado e contado por você que mais lhe dá tristeza ou saudades?

Menino em Vila Isabel,  a família dormia de janelas abertas, Quando vim para a Muda, há pouco mais de 35 anos, não havia grades acrescidas aos muros baixos e janelas. A violência, que mata crianças em escolas, praticamente todos os dias, me deixa arrasado. Eu não tinha celular, detesto, mas fui obrigado a ter um. Por ele, monitoro onde está o contingente de filhas, netas, netos e até um bisnetinho, quando estouram por aqui notícias de tiroteios. Recentemente, um boato causou pânico e paralisou o trânsito na Conde de Bonfim. Houve gritos, correria, pânico – e dessa vez, por acaso, não era nada. A verdade é que, mesmo não morando nas favelas “pacificadas”, nunca se sabe quando uma pessoa que amamos vai voltar pra casa.

O que o seu leitor pode esperar dos dois novos títulos que estão sendo lançados na coleção?

Humor, a tentativa de cantar o espírito carioca, amor por nossa cada vez mais flechada cidade.


Você está fazendo um catarse para editar uma coleção comemorativa dos seus 70 anos, mas é muito mais conhecido como compositor do que como cronista, até porque no Brasil se ouve muito mais música do que se lê. Te enche o saco responder perguntas sobre a sua música até quando está divulgando os seus livros?

De jeito nenhum! Como disse acima, sou, antes de tudo, compositor popular, e quanto mais cantado sem que lembrem o nome do autor, mais verdadeira será minha modesta herança.
Um adendo, Renato: desde que fiquei diabético-2 em junho de 2010, parei de beber, a não ser na morte de meu pai aqui em casa, em junho de 2015, e no entrevistão de 70 anos, cheio de amigos bacanas, para O Globo. Mas devo confessar que sinto uma falta danada de umas cervas e do meu “mordomo “, o ilustre Jack (Daniel’s). Infelizmente, beber dá uma suadouro chato, taquicardia e não é mais a mesma coisa de antes do aparecimento da diab-2. Paciência.

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