Entrevista com Debora Diniz aborda episódios e crises no sistema carcerário feminino

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Publicado em  Justificando – 

Crítico, doce e com uma voz surpreendemente narrativa. Basicamente, esse é o pano de fundo do Justificando Entrevista dessa semana, que recebeu, nos estúdios do 21º Seminário Internacional do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, a Antropóloga e Escritora Debora Diniz.

Debora recentemente publicou a obra Cadeia, que narra algumas histórias vividas por presidiárias na penitenciária da Capital Federal. O curioso é que a obra retrata histórias verdadeiras, passadas à autora enquanto ela permaneceu por seis meses acompanhando o atendimento médico das detentas.




Seria, então, o Orange is the New Black brasileiro? – perguntamos, em tom de brincadeira, em referência à série norte-americana que retrata um presídio feminino. Debora riu e acenou – é parecido.

A diferença é que, longe da ficção e presente na realidade, a autora pode vivenciar desde histórias incríveis, quanto a ver coisas inesquecíveis, como o rosto espantado de presas esquecidas no cárcere brasileiro, quando percebem que Joaquim Barbosa, Ministro do Supremo Tribunal Federal, respondera às suas cartas; ou quando as presas mais letradas e com melhor caligrafia são glorificadas por serem fundamentais em conseguir às outras algum benefício carcerário; ou ainda a rede de proteção que as próprias mulheres organizam e que é muito percebida nos dias de visita. Diferentemente do cárcere masculino, no feminino as presas recebem a visita do próprio gênero – são mães, irmãs, filhas, vizinhas e amigas que prestam toda semana sua solidariedade.

Quando questionada acerca da história que mais a impactou, Debora se recordou, naquele momento específico, de Biscoito. A detenta era uma grande frequentadora do presídio – logo quando era solta, passava alguns dias voltava ao cárcere para cumprir outra pena. Até que Debora percebeu que Biscoito, na verdade, quando fora do cárcere montava uma barraca na parede de fora da prisão. Em um caso, numa noite de frio, muito frio, arremessou uma pedra em uma viatura em frente ao presídio, somente para que fosse presa novamente.

Biscoito é uma de muitas que embora saiam da prisão, a prisão não sai delas. Muitas vezes, as presas vivem o drama em conjunto, como é o caso dos piores dias na cadeia, isto é, o dia que a mãe tem que entregar seu filho recém nascido, o dia da entrega.

“No presídio em Brasília há um nome para o dia que o bebê vai embora: entrega. Esse é um dos dias mais tristes em uma cadeia. Não só para aquela mulher, mas também para as mulheres que estão ao redor dela. Porque é como se ela estivesse entregando aquela criança para uma vida que não sabe se vai compartilhar. (…) Aquele filho era o motivo para ela resistir no presídio”.

A entrevista se encerrou logo depois e ficou bem bacana. Você pode vê-la, inteiramente, abaixo:

https://youtu.be/UugQpIy91As

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