Por Julinho Bittencourt, publicado na Revista Fórum –
O aposentado, de 63 anos, está debilitado, mas confiante: “O que o Lula faz pelo povo em termos de inclusão social, fraternidade, justiça social, oportunidades, ninguém faz, ninguém consegue”
Acompanhado apenas da companheira, Marcia Alves Vilella, o fiscal de renda aposentado do Rio de Janeiro, Richard Faulhaber, seguiu para Curitiba em abril, a fim de se juntar à vigília que exige a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como forma de protesto, dentro de um acampamento improvisado nas proximidades da Superintendência da Polícia Federal da friorenta Curitiba, começou uma greve de fome. Debilitado, mas confiante e bem humorado, ele falou à Fórum nesta segunda-feira, quando completam 20 dias de seu movimento solitário.
Perguntado sobre se Lula vale o sacrifício, Richard sorri e, pela primeira vez em toda a conversa, se entusiasma e a sua voz eleva o tom:
“O Lula pra mim é um homem de Deus, iluminado por Deus. É o maior defensor do povo. Desde que eu me aposentei, há dois anos, eu vou pra uma favela do Rio dar aula de apoio de matemática. Eu consigo dar aula pra seis crianças, o Lula consegue incluir milhões. O que ele faz pelo povo em termos de inclusão social, fraternidade, justiça social, oportunidades, ninguém faz, ninguém consegue. A liderança dele, a capacidade dele de organização política, de inteligência, ninguém tem. O Lula junta a economia teórica com a prática da vida. Não há ninguém que faça isso tão bem quanto ele. Ele é fundamental”, exorta.
Teologia da Libertação
Richard conta que a origem de sua militância é cristã. “Eu sou ligado à Teologia da Libertação, que transcende o catolicismo. Somos todos irmãos e o fundamental nessa vida de irmãos é darmos as mãos, não deixar as pessoas passarem fome, desigualdade, injustiça. Eu vivo assim desde os 17 anos”, contou.
Esta já é a segunda vez que Richard faz greve de fome em apoio a Lula. Em janeiro deste ano, pouco antes do julgamento do ex-presidente no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), ele ficou 14 dias sem se alimentar.
Saúde debilitada
Desta vez, já está há mais tempo e começa a preocupar médicos e familiares. Neste período ingeriu apenas água e o soro de farmácia, tipo Pedialite, composto por sódio, potássio e glicose, para manter o nível destes três elementos no organismo. Depois do vigésimo dia, segundo conta o próprio Richard, o soro já não dá mais conta da queda da glicose e passou a ser necessário tomar água com açúcar.
“Eu sinto muita fraqueza, pois eu tenho me alimentado das defesas corporais. Eu soube que os médicos têm se movimentado preocupados com a nossa saúde. Tanto a minha quanto a dos companheiros que estão em Brasília. Nós começamos a greve no mesmo dia. Os Médicos Pela Democracia estiveram aqui e pediram pra que eu pare com a greve. Parece que procuraram o próprio Lula para ver se ele intercede nisso, por conta dos riscos”, disse.
Richard disse ainda que está tentando avaliar, ouvir as opiniões. “Os médicos são obrigados a interceder, claro, têm o dever de nos resguardar, pra que não aconteça o pior com ninguém. Eu estou sintonizado com o meu corpo, atento para algo mais grave, porque eu não quero morrer”, desabafou.
Ponto de Apoio Marielle Franco
Richard está acampado ao lado da esposa em um terreno lateral de uma casa. “Eu construí um abrigo, montei uma barraquinha com uma cama. Esse quintal faz parte de cinco casas que constituem o espaço chamado Ponto de Apoio Marielle Franco”, disse.
De acordo com ele, a opção pela greve de fome tem um lado muito pessoal, interior, de entrega, de risco. Não é coletiva. “O trabalho coletivo é fundamental, mas tem que ter espaço pro individual também. As bandeiras fundamentais têm que ser iguais, de luta, dedicação ao povo, ao Lula que é o maior defensor do povo, agora, o tempo que a gente dedicar a essa greve de fome pode ter diferenças. É uma outra forma de luta que tem que se somar às demais”, conta.
Ele diz ainda que tem acompanhado o noticiário, ficou sabendo da resolução da ONU exigindo que Lula seja candidato e diz não ter ideia de como isso tudo vai acabar. “A minha expectativa é cada um de nós fazer o melhor pra aumentar o formigueiro da luta, da fraternidade, da união das pessoas, dos trabalhadores”, exalta.
No final da entrevista, pede para fazer um apelo a todas as pessoas que se sensibilizam com o social: “Saiam pras favelas, façam trabalho político e humanitário”, pediu.