Por Graça Lago, jornalista, filha de Mario Lago, advogado, poeta, radialista, compositor, escritor e ator
Achei, em algum momento da juventude, que a dor da velhice seria dos nervos, da coluna, do ciático, das rugas, da libido mal resolvida, da flacidez. Quanta ingenuidade.
No dia em que Dias Gomes morreu, meu pai, profundamente triste, disse “estamos indo”. Ainda argumentei que ele tinha os filhos ao lado e ele rebateu com uma pergunta que eu não soube responder. E ele disse, “pois é, o Dias sabia”.
Quando Sueli Costa morreu, escrevi que a dor do envelhecimento é a dor das perdas que vão se acumulando em velocidade galopante, a cada dia com mais rapidez. É um fardo, que não há harmonização facial que amenize, que não tem silicone que dê jeito.
A gente chora a dor da perda da amiga, do amigo, e, junto, chora a dor da perda das nossas referências históricas, das nossas referências pessoais. Morremos com cada um que vai. É saber que cada vez menos pessoas poderão responder às nossas perguntas. Pc Guimarães escreveu sobre isso outro dia.
Hoje, ao saber da partida da Mara Kotscho, a quem pouco conheci, senti uma dor aguda, porque pensei no Ricardo Kotscho e na imensa solidão que se abriu para ele. Força, companheiro.
Envelhecer é um aprendizado difícil, é diferente de tudo que nos ensinam. Não basta mais só construir, precisamos aprender a desapegar, a desconstruir. Difícil, duro, sofrido.
Achei, em algum momento da juventude, que a dor da velhice seria dos nervos, da coluna, do ciático, das rugas, da libido mal resolvida, da flacidez. Quanta ingenuidade.
É infinitamente maior, é uma despedida que só termina na nossa própria despedida. O aprendizado da morte é danado.