Escola Carlito Maia teve que fechar as portas. Vamos escapulir pelas entradas?

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Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado

 

Quando me fecham as saídas, escapulo pelas entradas (Carlito Maia)




 

Homem de frases, todas bem espirituosas e criativas, o publicitário-filósofo-humanista Carlito Maia ganhou nome de uma escola em 2011, graças à sua irmã, Dulce Maia, ativista contra ditadura militar, presa política, guerrilheira, guerreira pela justiça social. Carlito Maia, que dizia ter vindo à vida a passeio e não a negócio, partiu em 2002, a mana segurou as pontas enquanto aqui estava, até 2017, e a escola, que poderia ter dado muito orgulho a ele, fechou suas portas agora, em novembro.

Voltada para todas as faixas de idade, preferencialmente da população de baixa renda, a Escola Carlito Maia mantinha, entre outros cursos técnicos de auxiliar administrativo e de escritório, panificação, eletricidade básica, garçom, barman e jardinagem.

“Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”, afirmou Darcy Ribeiro em 1982.  As duas décadas profetizadas pelo educador se completaram em 2002, ano em que Carlito Maia encerrou seu passeio pela vida. Darcy já tinha ido cinco anos antes. Depois de 2002, muitas, e põe muitas nisso, escolas foram construídas em quase uma década e meia dos governos Lula e Dilma. Agora, estão sendo fechadas e aja dinheiro para presídios.

Infelizmente, 38 anos depois da frase de Darcy Ribeiro, a Escola Carlito Maia, em Cunha, interior de São Paulo quase divisa com o Rio de Janeiro, fechou suas portas definitivamente em novembro deste triste ano sem graça de 2020.

Que Carlito e Dulce, onde estiverem, nos dêem coragem para fugirmos pelas entradas, pois as saídas estão todas fechadas.

Parceiro do Bem Blogado, o jornalista Aparecido Araujo Lima, o Cidoli, fez contato com o também jornalista e ex-presidente do Conselho de Administração da Associação Escola Carlito Maia, Joás Ferreira de Oliveira, que muito nos elucidou sobre a instituição.

Em 2016, Cidoli esteve com Dulce Maia e ela se mostrou bem animada com os projetos para Escola, inclusive falou que tinha recebido em doação um terreno para construção da Escola na zona rural de Cunha.

O otimismo de Dulce foi em vão, como conta Joás Ferreira: “Na verdade, esse terreno não foi cedido pelo governo do Estado de São Paulo para a escola. Fui atrás dessa história e descobri que foi cedido para a prefeitura de Cunha. No documento de cessão tinha um item que impedia que o município repassasse para terceiros. A prefeitura até que tinha boa vontade para repassar para a escola em comodato. Tentei reverter isso junto à Casa Civil do Governo do Estado, mas não foi possível.”

 

Joás fala sobre as dificuldades para a manutenção da Escola: “As dificuldades já vinham se acumulando há, pelo menos, uns quatro anos. E não eram só financeiras (embora estas fossem muito agudas), entidades que colaboravam com o desenvolvimento de cursos básicos e gratuitos de profissionalização (Senac, de Guaratinguetá,  e Centro Paula Souza) deixaram de disponibilizar essas atividades, por uma série de circunstâncias.

Um fator importante que também contribuiu para o fechamento da escola foi a expressiva (quase total) diminuição de associados contribuintes. Com a redução de arrecadações, ficou difícil manter o aluguel da casa onde funcionava e os demais custos fixos.

A entidade ainda tentou promover oficinas e cursos às suas expensas e, algumas vezes, valendo-se de oficineiros e professores voluntários, mas não obteve sucesso.”

A política atual de enfrentamento à educação e cultura é, para Joás Ferreira, motivo forte para o fim da escola: “É importante dizer que, além da pandemia, a Carlito Maia vinha sofrendo com a falta de interesse geral por educação, artes e cultura desencadeado pela situação lamentável pela qual o país vem vivendo, especialmente após o golpe contra a presidenta Dilma e, muitíssimas vezes aumentado pelo governo atual.

Aliás, tudo isso foi o foco da luta de Dulce Maia durante a ditadura militar, o que a levou a ser presa, torturada e exilada do país.

Mesmo assim, quando pôde voltar ao Brasil, ela se dedicou à causa da educação, artes e cultura, escolhendo a Estância Climática de Cunha para se instalar.

Além da Escola Carlito Maia, Dulce participou da idealização e criação da Casa Abrigo de Cunha e da Serra Acima (organização social que se dedica à educação ambiental).”

Cursos e oficinas (esporádicas) matidos pela Escola Carlito Maia: auxiliar administrativo e de escritório, panificação, eletricidade básica, empreendedorismo, garçom, barman, cerâmica para terceira idade, iniciação em desenho para crianças, recepcionista, camareira, beleza, monitor ambiental, jardinagem, artes, entre outros.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre Carlito Maia, no release do livro que conta vida do publicitário, escrito por Erazê Martinho.

Vim ao mundo a passeio, não em viagem de negócios’, costumava dizer Carlito Maia. Irreverente, radical, moleque, gentil e, sobretudo, ‘solidário como uma floresta’, Carlito era desses sujeitos – cada vez mais raros – que jamais separam trabalho de convicção política. Militante petista atípico (criou slogans como oPTei, Lula-lá e Sem medo de ser feliz, mas não se filiou ao partido), nunca foi devoto da neutralidade e fazia questão de afirmar ser avesso a concessões:

https://www2.boitempoeditorial.com.br/produto/carlito-maia-71

 

Divirta-se com as frases de Carlito Maia http://www.releituras.com/carlitomaia_menu.asp

 

 

 

 

 

 

 

Dulce Maia: Não somos vítimas nem heróis de uma época. De nada me arrependo!

Dulce Maia: Não somos vítimas nem heróis de uma época. De nada me arrependo!

 

Conheça um pouco mais sobre a grande lutadora pelas boas causas Dulce Maia:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Dulce_Maia

 

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