Tsitsi Dangarembga foi agraciada pelo júri do Comércio Livreiro Alemão, uma das maiores distinções literárias do país, por abordar em sua obras “conflitos sociais e morais que vão muito além da referência regional”.
Compartilhado de DW
A romancista, dramaturga e cineasta Tsitsi Dangarembga, do Zimbábue, recebeu neste domingo (24/10) o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão 2021, uma das maiores distinções literárias do país, em cerimônia na Feira do Livro de Frankfurt.
O júri considerou a mulher de 62 anos “não apenas uma das artistas mais importantes de seu país, como também uma voz da África na literatura contemporânea”.
O trabalho de Dangarembga “aponta conflitos sociais e morais que vão muito além da referência regional e abrem espaços de ressonância para questões globais de justiça”, afirmou o júri em comunicado.
O Prêmio da Paz, no valor de 25.000 euros, é atribuído todos os anos a quem contribui para a literatura, a ciência ou a arte em nome da paz.
Dangarembga é a primeira mulher negra a receber o prêmio, concedido desde 1950.
Passado colonial
Em seu discurso, Dangarembga falou sobre o passado colonial do Zimbábue e as várias formas de violência que os colonialistas brancos infligiram à população negra nos séculos 19 e 20, que seguiram quando o Zimbábue se tornou independente, em 1980.
“Esses tipos de violência estão estruturados na ordem global em que vivemos e têm suas raízes nas estruturas do império ocidental que começou a se formar há mais de meio milênio”, disse.
Dangarembga afirmou que o mundo precisa de novas formas de pensamento e que fazer mudanças reais exige não “curas milagrosas”, mas um trabalho árduo e consciente daqueles que se beneficiaram com as estruturas de poder ocidentais.
Segundo a escritora, o pensamento racista trazido ao mundo pelo colonialismo ocidental e pelo imperialismo deve ser abandonado e um sistema econômico mundial explorador deve ser superado. Para Dangarembga, o racismo é responsável por grande parte da violência que as pessoas cometem umas contra as outras.
Elogios de irmã de Obama
A cerimônia contou com um discurso da socióloga Auma Obama, meia-irmã do ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, que homenageou a amiga de longa data.
Auma disse que a escritora e cineasta lutou “contra todas as probabilidades” e “com todos os meios possíveis” pelos “que não têm voz e pela liberdade de expressão” no Zimbábue e “apresentou uma imagem diferenciada do continente africano para todo o mundo”.
“Você não é comum, uma vida comum não era uma opção para você”, disse ela sobre sua amiga. “Você é uma das vozes mais importantes e bem-sucedidas do continente africano e, espero que com esse prêmio, em breve em todo o mundo”, destacou. “Leia a literatura africana, olhe além do seu horizonte, estamos aqui”, disse Obama.
Sucesso com autobiografia
Dangarembga nasceu em 14 de fevereiro de 1959, em Mutoko, na então Rodésia, hoje Zimbábue, e morou parte da vida no Reino Unido. Em 1988, lançou seu romance de estreia Condições nervosas, a primeira parte de uma trilogia autobiográfica. Usando o exemplo de uma adolescente, os três livros descrevem a luta pelo direito a uma vida decente e à autodeterminação feminina no Zimbábue.
De 1989 a 1996, Dangarembga estudou direção de cinema em Berlim e depois voltou ao Zimbábue com o marido alemão. Em seus filmes, ela aborda problemas que surgem do choque entre tradição e modernidade.
Em 2019, o prêmio foi concedido ao fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.
le (ap, dpa, ots)