Por Washington Luiz Araújo, jornalista –
Há algum tempo, falando com um jovem que estava prestes a tomar posse num cargo federal de alta relevância pública, filho de pai e mãe progressistas, ele me dizia que teria que ser isento e se afastar do pensamento esquerdista. Argumentava que não poderia agir como uma pessoa de esquerda ou de direita no cargo que ocuparia. Ponderei com ele que todas as pessoas agem politicamente e que, de acordo com suas ações, seria taxado de esquerdista ou direitista. Não tem jeito.
Estávamos numa festa, com o barulho peculiar, e então fui direto ao assunto:
“Meu amigo, você é a favor da luta contra a desigualdade social?”
“Lógico que sou”, me respondeu o jovem.
Lutar contra a desigualdade social já é uma premissa de pessoas de esquerda.
Perguntei-lhe ainda se era preconceituoso, se era contra as cotas, se era a favor do Bolsa Família, do Prouni, do Pronatec, do apoio à agricultura familiar, entre outros programas de inclusão social. Ele me respondeu rapidamente que era a favor da melhoria da qualidade das pessoas mais carentes e que estes programas vinham ao encontro disso.
Ficou constatado, portanto, que o jovem, que hoje já está no cargo, é uma pessoa de esquerda. Sua educação teve com um dos pilares a solidariedade humana e entende que meritocracia é uma falácia, pois se a pessoa nasce na pobreza extrema jamais terá as mesmas oportunidades de quem nasceu, como ele, na classe média.
Sabe ele que as oportunidades que surgem na vida muito têm a ver com os recursos que se possui. Sabe da existência do 1% da população brasileira, a verdadeira elite, que não é vista por aí batendo panela ou xingando pobres e negros, que não esbraveja com pobre viajando de avião e, muito menos, com pessoas carentes estudando em universidade pública, porque a verdadeira elite manda os filhos para Harvard, tem avião próprio e dificilmente pisa nas ruas. Esta pequeníssima, mas poderosíssima camada da população não demonstra ódio. O ódio ela terceiriza para integrantes de uma classe média metida a besta.
Assim, sempre desejei para esse jovem amigo, verdadeiro orgulho de todos aqueles que o cercam, que seja um profissional solidário, justo, preocupado com a desigualdade social. Uma pessoa de esquerda. E, pelo que tenho me informado, ele está seguindo esse caminho. Caminho pedregoso, bem sei, pois buscar o equilíbrio numa sociedade desigual como a nossa é uma missão das mais difíceis.