Compartilhado de DW Brasil –
Pela primeira vez desde o começo da pandemia, país ultrapassou as 80 mil infecções em 24 horas. Estudo prevê que até 500 mil pessoas poderão morrer de covid-19 até fevereiro nos EUA.
Os Estados Unidos ultrapassaram nesta sexta-feira (23/10) a marca de 80 mil casos diários de coronavírus pela primeira vez desde o começo da pandemia. De acordo com dados da Universidade Johns Hopkins, foram registradas 83.757 novas infecções em 24 horas – cerca de 12 mil a mais do que no dia anterior.
As autoridades, porém, ressaltam que os números são apenas parcialmente comparáveis aos da primavera no hemisfério norte, pois, agora, mais testes estão sendo realizados – e, portanto, mais infecções são descobertas.
Os EUA são o país mais afetado pela pandemia no mundo, com quase 8,5 milhões de infecções, cerca de um quinto do total mundial. O país registra quase 224 mil mortes oficiais em razão do coronavírus, mas acredita-se que o número possa ser ainda maior. Além disso, a pandemia também pode ser a causa indireta da morte de milhares de pessoas, segundo relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) divulgado nesta semana. De acordo com o estudo, desde o início da pandemia de covid-19, o país já teve 300 mil mortes a mais do que o habitual,em comparação com anos anteriores.
Autoridades de saúde dizem que o aumento no número de casos de coronavírus se deve à reabertura de escolas e faculdades. Além disso, os contágios foram impulsionados por pequenas reuniões – muitas vezes eventos familiares – que disseminam o coronavírus e os levam para dentro das casas.
Em Maryland, o governador, Larry Hogan, afirmou nesta semana que as reuniões familiares são a principal fonte de transmissão no estado, seguida das festas em casa.
O número de casos nos Estados Unidos está aumentando rapidamente, sobretudo nos estados do Meio-Oeste e da região das Montanhas Rochosas. Wisconsin abriu um hospital de campanha. Dakota do Norte, que até recentemente tinha relativamente poucos casos, agora tem o maior número per capita do país. Em todo o oeste rural, estados como Alasca, Wyoming e Montana, que haviam escapado do pior da pandemia, agora vêem os casos dispararem. Pelo menos 34 estados relataram mais novos casos de covid-19 na última semana do que anterior, de acordo com dados da Johns Hopkins.
E, de acordo com especialistas, a tendência é que as infecções continuem aumentando. “Nós facilmente atingiremos seis dígitos [por dia] em termos de número de casos”, disse Michael Osterholm, diretor do Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota, à CNN. “E as mortes vão aumentar vertiginosamente nas próximas três a quatro semanas”, completou.
Normalmente, há um atraso de algumas semanas entre o crescimento do número de casos e o aumento de óbitos.
Meio milhão de mortes até fevereiro
Um estudo do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington (IHME, na sigla em inglês) estima que até 500 mil pessoas podem morrer nos Estados Unidos de covid-19 até o final de fevereiro. No entanto, segundo os pesquisadores, 130 mil vidas poderiam ser salvas se todos aderissem ao uso de máscara.
O estudo afirma que, com poucas opções eficazes de tratamento e nenhuma vacina ainda disponível, a covid-19 é “um desafio contínuo de saúde pública durante o inverno” nos EUA.
“Estamos caminhando para uma disparada substancial no outono e inverno”, disse o diretor do IHME, Chris Murray, que co-liderou a pesquisa.
Segundo ele, as projeções, assim como as evidências atuais de taxas de infecção e de mortes crescentes, mostram que não há base para “a ideia de que a pandemia está indo embora”.
O estudo do IHME prevê que estados grandes e populosos, como Califórnia, Texas e Flórida, enfrentarão níveis particularmente altos da doença, com várias mortes e alta demanda por recursos hospitalares.
Tema político
Atualmente, a obrigatoriedade do uso de máscaras nos Estados Unidos varia amplamente. Enquanto alguns estados, como Nova York, tem regras rígidas sobre quando usar máscaras, outros não têm requisitos. A questão tornou-se política e é um dos principais temas da campanha eleitoral para a Casa Branca às vésperas do pleito de 3 de novembro.
Muitos apoiadores do presidente Donald Trump, candidato à reeleição pelo partido republicano, seguiram as dicas dele, que muitas vezes é visto sem máscara e questiona repetidamente sua utilidade. Trump chegou a afirmar erroneamente que 85% das pessoas que usam máscara contraem covid-19. Mesmo após ser infectado pelo coronavírus, ele seguiu minimizando a doença e reunindo centenas de pessoas em seus eventos de campanha.
Por outro lado, o candidato democrata, Joe Biden, ex-vice-presidente de Barack Obama, incentiva o uso da proteção e praticamente nunca é visto sem ela. Biden tem dedicado os últimos dias de campanha a criticar a reação de Trump à pandemia e afirmar que muitas vidas poderiam ter sido salvas se uma outra abordagem tivesse sido adotada.
As visões opostas dos dois ficaram claras no último debate presidencial, realizado na noite de quinta-feira. Na ocasião, Biden chegou ao auditório de máscara e tirou a proteção antes de começar a falar. Trump não usou máscara.
O republicano afirmou que definitivamente não quer mais bloqueios. “O remédio não pode ser pior do que o próprio problema”, disse o presidente. Biden, por sua vez, destacou que pretende seguir normas de segurança e manter lojas, escolas e outros estabelecimentos abertos quando for seguro.
O democrata acusou Trump de não fazer nada para combater a pandemia e de alegar falsamente que ela acabaria logo. “Qualquer pessoa responsável por tantas mortes não deve permanecer presidente dos Estados Unidos da América”, disse Biden.
Sob a acusação de não assumir a responsabilidade pela crise, Trump respondeu: “Assumo total responsabilidade. Não é minha culpa que ele tenha chegado aqui. Não é culpa de Joe. É culpa da China”.
Ele disse que os americanos “estão aprendendo a viver” com o coronavírus, já que não há outra escolha. Biden retrucou: “você diz que as pessoas estão aprendendo a viver com isso, as pessoas estão aprendendo a morrer com isso”.
A pandemia impulsionou os americanos a votarem antecipadamente, para não terem de comparecer às seções eleitorais em 3 de novembro e evitarem aglomerações. Mais de 42 milhões de pessoas já registraram seus votos, um número recorde.
LE/rtr/ots