Por Washington Luiz Araújo, jornalista –
Assisti recentemente à versão hollywoodiana do premiadíssimo filme argentino “O Segredo dos seus Olhos” (que, por sua vez, era baseado em um livro do craque Eduardo Sacheri). O “remake”, ambientado à época dos atentados de 11 de setembro de 2001, a filha de treze anos de uma policial (Júlia Roberts) é brutalmente assassinada, depois de ser estuprada. As investigações levam ao criminoso, que está prestando serviços à cúpula policial, como informante. Ele confessa o crime bárbaro, mas é protegido da polícia. Saindo das telas, saindo de Hollywood e chegando ao Brasil, vemos a nossa triste realidade imitar a arte, quando, na ânsia de derrubarem Dilma e prenderem Lula, tudo pode. O delator ou delatado, se vier ao caso, pode ser corrupto, prevaricador, contrabandista desde que o fim justifique os meios.
Eduardo Cunha, um dos muitos exemplos, não é sequer chamado a prestar depoimento, embora proliferem contra ele denúncias de lavagem de dinheiro em paraísos fiscais, chantagens e propinas, com provas de depósitos milionários no exterior. Outro caso: Aécio Neves. Embora contra ele já tenham sido feitas e divulgadas cinco menções em delações, sendo a mais notória a da já famosa Lista de Furnas.
De parlamentares, podemos pular para membros da polícia e do judiciário, que se sentam em cima de seus crimes e ganham os holofotes como integrantes de esquadrões da justiça. Milhões nas ruas se apaixonam por Bolsonaros e Moros, esquecendo-se das irregularidades (e algumas barbaridades) que cometem. A velha mídia enaltece o que considera virtudes e esconde as mazelas de seus protegidos. Combina bem com a frase de Rubens Ricúpero, ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, em 1994, que, sem saber que os microfones estavam abertos, afirmou ao repórter Carlos Monfort, da TV Globo (sempre ela!): “Eu não tenho escrúpulos. O que é bom, a gente fatura; o que é ruim, a gente esconde”. A gravação vazou, e não por obra da Globo, logicamente.
Parte do judiciário brasileiro tem sido criticado por juristas, jornalistas e cientistas político, Brasil adentro e mundo afora, por sua afoiteza e por – em dobradinha com a mídia – primeiramente condenar e só depois investigar, quando investiga a fundo mesmo. Será que, um dia, algum roteirista de cinema se debruçará sobre esses casos? Ou ficaremos vendo eternamente essa novela de péssima qualidade, sem que se chegue a um final justo e sensato?