O início do filme é arrebatador, mostrando o fotógrafo João (Vladmir Brichta), numa crise de saco cheio, em rota de colisão com uma modelo famosa. Após o explosivo prólogo, há um corte de tempo e de espaço onde veremos o protagonista à procura de jovens modelos. Talvez uma nova Giselle Bundchen egressa do interior do Rio Grande do Sul, celeiro de belos rostos. Depois de muitos testes e entrevistas, ele finalmente se encanta com Maria (a estreante Vitoria Strada), mas terá pela frente a resistência do pai da moça (Francisco Cuoco) e a cumplicidade da mãe (Adriana Esteves).
“Real Beleza” é antes de tudo um filme sobre relacionamentos humanos, que aqui se estabelecem em diversos níveis entre seus personagens principais. Extraem-se da trama relações de intensa obsessão, de incontrolável desejo, de pura gratidão, de ambição, cobiça e medo. Ainda que se explore, sim, o bom e velho triângulo amoroso, o tema aqui ganha contornos menos óbvios, nada maniqueístas, mais densos e aprofundados. Tudo emoldurado pela real beleza da região de Garibaldi, que serviu de locação para o filme. São várias, aliás, as reais belezas que o filme propõe, desde as mais claras e físicas até as mais escondidas e interiores.
Paradoxalmente, porém, parece que o principal “problema” do filme – se é que podemos falar assim – é seu arrebatador início, que coloca a plateia num estado de imediata estupefação que não encontrará sustentação ao longo do desenrolar da trama. Fica a impressão que em algum momento a narrativa perde o fôlego, mas mesmo assim o resultado final é dos mais satisfatórios, com Furtado e Arraes provando, mais uma vez, que talento não tem gênero.