Estrelas do bolsonarismo em baixa

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Onda de direita que varreu eleições de 2018 perde força. Pesquisas sinalizam derrota de figuras do bolsonarismo como Damares Alves, Hamilton Mourão, Janaina Paschoal, Marcos Pontes e Onyx Lorenzoni, entre outros.

Por Jean-Philip Struck, compartilhado de DW




Após a onda de direita que varreu as eleições de 2018, o cenário eleitoral deste ano se apresenta menos favorável nos pleitos majoritários para uma série de estrelas do bolsonarismo. 

Embora a coligação de Bolsonaro tenha nomes competitivos concorrendo ao Senado e aos governos de alguns estados, a maioria é composta por aliados de ocasião do Centrão, e não por bolsonaristas que conquistaram notoriedade a partir de 2018 ou políticos que abraçaram com entusiasmo a cartilha de extrema direita do governo nos últimos anos.

No Distrito Federal, Damares atrás de candidata do Centrão

Uma das figuras mais conhecidas do segmento ultraconservador cristão do bolsonarismo, a ex-ministra da Família Damares Alves aparece atrás na disputa ao Senado pelo Distrito Federal. Na última pesquisa Ipec, divulgada em 21 de setembro, Damares (Republicanos) aparecia com 21% das intenções de voto, sete pontos atrás de Flávia Arruda (PL), que somou 28%.

Arruda chegou a ocupar 2021 e 2022 o cargo de ministra-chefe da Secretaria de Governo na administração Bolsonaro, mas seu nome é mais ligado ao Centrão do que à base bolsonarista.

A disputa no Distrito Federal dividiu o casal presidencial. O presidente Jair Bolsonaro fez movimentações para apoiar Arruda, mas a primeira-dama Michelle vem participando ativamente da campanha de Damares.

“O meu voto e da minha família é de Damares Alves. E os meus candidatos são os candidatos do meu marido, Jair Messias Bolsonaro”, disse Michelle na sexta-feira, embora Bolsonaro não tenha se pronunciado sobre qualquer mudança na sua posição sobre a disputa.

Pastora evangélica, Damares era uma obscura assessora parlamentar quando foi anunciada em dezembro de 2018 para ocupar o novo Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos. Inicialmente, sua nomeação dividiu a base evangélica bolsonarista, que favorecia uma indicação de alguma figura mais notória, como o ex-senador Magno Malta.

No cargo, Damares logo se notabilizou por posições ultraconservadoras, especialmente contra o aborto. Em 2020, ela chegou a ser acusada de agir nos bastidores para impedir que uma vítima de estupro de dez anos que engravidou tivesse acesso ao procedimento.

Damares Alves
Na disputa ao Senado pelo Distrito Federal, ex-ministra Damares Alves tem apoio da primeira-dama, mas está atrás de rival do CentrãoFoto: Getty Images/A. Anholete

No Rio Grande do Sul, bolsonaristas atrás no governo e Senado

Dois bolsonaristas disputam o governo do Rio Grande do Sul: o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL) e o senador Luis Carlos Heinze (PP).

Ambos estão atrás de Eduardo Leite (PSDB), que apareceu com 38% no último levantamento do Ipec, enquanto Onyx somou 26% e Heinze apenas 4% – o senador também está atrás do petista Edegar Pretto, que somou 10%.

Tanto Onyx quanto Heinze tentam se apresentar como “candidatos de Bolsonaro” no estado, mas o presidente tem evitado manifestar preferência por algum deles.

Embora tivessem carreiras políticas que precedessem o bolsonarismo, tanto Onyx quanto Heinze abraçaram a cartilha de extrema de direita do governo, especialmente durante a pandemia.

Ocupando quatro diferentes ministérios ao longo da administração Bolsonaro, Onyx endossou posições de Bolsonaro contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o isolamento social para conter a covid-19, além de apoiar decretos para expandir o acesso a armas de fogo. Já Heinze foi um dos mais vocais defensores do governo durante a CPI da Pandemia, virando um rosto conhecido no país por sistematicamente apresentar estudos duvidosos para defender o “tratamento precoce” e promover teorias conspiratórias contra empresas farmacêuticas. 

No Senado, o cenário para o bolsonarismo puro no Rio Grande do Sul também não é favorável. O atual vice-presidente Hamilton Mourão, que disputa a única vaga em jogo, aparece em terceiro lugar na disputa. Na pesquisa Ipec de 16 de setembro, ele apareceu com 18% das intenções de voto, atrás de Olívio Dutra (PT), que lidera com 28%, e Ana Amélia Lemos (PSD), que somou 25%.

Indicado a companheiro de chapa de Bolsonaro em 2018, após o atual presidente enfrentar dificuldades para escolher um vice, Mourão teve uma convivência tumultuada com o atual ocupante do Planalto. Em várias oportunidades Bolsonaro se irritou publicamente com Mourão, seja por declarações públicas do seu vice ou pelo protagonismo que este buscou, especialmente junto à imprensa no início do governo. No entanto, os dois se reaproximaram nos últimos meses após Mourão se lançar ao Senado. O vice garantiu até mesmo a benção de Bolsonaro para a sua campanha.

Antes de entrar para a política, Mourão ocupava o posto de general no Exército e chegou a ser removido de um comando militar no governo Dilma Rousseff após permitir que suas tropas organizassem uma homenagem ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos mais notórios torturadores da ditadura militar.

Em São Paulo, candidatos do Planalto lutam para diminuir desvantagem

Uma das grandes apostas de Bolsonaro nas eleições de 2022, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi lançado pelo Planalto ao governo de São Paulo mesmo não tendo base política no estado.

Nascido no Rio de Janeiro, Tarcísio até conseguiu criar uma candidatura competitiva em São Paulo, com forte apoio do presidente, mas no momento aparece atrás do petista Fernando Haddad. No último Datafolha, Tarcísio apareceu em segundo lugar, com 23% das intenções de voto, contra 34% do petista. Tecnicamente, Tarcísio está empatado com o terceiro colocado na disputa, o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB), que somou 19%.

O ex-ministro de Bolsonaro tem sido alvo de uma intensa campanha negativa tanto de Haddad quanto de Garcia. Nos últimos dias, o próprio Tarcísio forneceu munição de maneira involuntária durante uma entrevista, quando demonstrou não saber seu local de votação no estado.

Tarcisio Gomes de Freitas
Tarcísio de Freitas é a principal aposta do bolsonarismo em São PauloFoto: Getty Images/AFP/E. Sa

Na disputa ao Senado por São Paulo, bolsonaristas também tentam diminuir a desvantagem a poucos dias do primeiro turno. Dois candidatos disputam a preferência dos eleitores que apoiam o presidente no estado: Marcos Pontes (PL) e Janaina Paschoal (PRTB).

No momento, ambos estão atrás do ex-governador Márcio França (PSB), que conta com o apoio de Lula e que somou 32% no último Datafolha.

Pontes até registrou crescimento nas últimas semanas, mas continua 12 pontos atrás de França. Paschoal, por sua vez, aparece com apenas 5% das intenções de voto. Conhecido por ser o primeiro brasileiro a ter viajado ao espaço, em 2006, Pontes ocupou o cargo de ministro da Ciência de Bolsonaro entre 2019 e março deste ano. No posto, acumulou críticas da comunidade científica por consentir interferências do presidente no Inpe e por se envolver na busca do bolsonarismo por soluções duvidosas para lidar com a covid-19, como o uso do vermífugo nitazoxanida.

Deputada mais votada do país em 2018 graças ao protagonismo que obteve no impeachment de Dilma Rousseff, Janaina Paschoal está longe de repetir o mesmo sucesso eleitoral em 2022. Na fase de pré-campanha, ele fez apelos públicos para que Bolsonaro apoiasse sua candidatura ao Senado, sem sucesso.

Nos últimos anos, Janaina travou uma relação complexa com o Planalto. Ela fez diversas críticas públicas ao comportamento do presidente, mas em outros momentos demonstrou estar ainda mais à direita que Bolsonaro. “Parece presidente do Psol”, disse ela em 2021, quando Bolsonaro sancionou um pacote de leis que instituíam o Vale Gás e mais mecanismos de proteção a vítimas de crimes sexuais.

Durante a campanha ao Senado de São Paulo, Janaina tem apostado em se vender como “a verdadeira direita”. Em setembro, ela chegou a veicular em suas redes uma reportagem que citava o “passado socialista” de Pontes, em referência à antiga filiação do ex-ministro junto ao PSB.

Marcos Pontes
O ex-ministro Marcos Pontes disputa com Janaina Paschoal o voto bolsonarista pelo Senado em São PauloFoto: picture alliance/Pacific Press Agency/M. Moraes

Em Goiás e Paraná, cenário difícil para candidatos do presidente

Outro bolsonarista que estreou na política em 2018, Vitor Hugo de Araújo Almeida (PL), que se apresenta Major Vitor Hugo, tem registrado desempenho pífio na disputa pelo governo de Goiás.

Colando sua imagem em Bolsonaro, Vitor Hugo somou apenas 6% no último levantamento do Ipec, 49 pontos atrás do atual governador Ronaldo Caiado (União Brasil), que soma 55% e pode ganhar já no primeiro turno.

Vitor Hugo tornou-se uma figura conhecida no início da administração Bolsonaro, em 2019, quando ocupou a liderança do governo na Câmara. Criticado por colegas por demonstrar inabilidade política e falta de transito na Câmara, acabou substituído pelo veterano Ricardo Barros (PP-PR), um nome do Centrão.

Já no Paraná, o deputado Paulo Martins (PL) se desdobra para propagandear que é o candidato de Bolsonaro ao Senado no estado. Recentemente recebeu uma menção de apoio de Bolsonaro numa das lives presidenciais.

No entanto, ele aparece empacado com 8% em terceiro lugar na disputa, segundo o Ipec, bem atrás do veterano Alvaro Dias (Podemos) e do ex-juiz Sergio Moro (União Brasil). Moro, assim como Martins, também tem feito movimentos para conquistar o eleitorado bolsonarista local, enfraquecendo o candidato apoiado diretamente pelo presidente.

Ex-ministros em dificuldades no Nordeste

Reduto lulista, o Nordeste tem sido um terreno difícil para alguns candidatos que colam sua imagem a Bolsonaro, que registra uma rejeição superior a 60% na região, segundo o Datafolha.

Na Bahia, o ex-ministro da Cidadania João Roma (PL) se lançou ao governo estadual tentando se promover como “pai do Auxílio Brasil” – ele comandava a pasta responsável por implementar o programa. No entanto, a aposta não se traduziu em intenções de voto. Roma aparece com apenas 8% no último Datafolha, bem atrás de ACM Neto (União Brasil), que está na liderança com 48%, e Jerônimo Rodrigues (PT), que somou 31%.

Em Pernambuco, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado (PL), que ficou conhecido nos últimos anos por tocar sanfona nas lives presidenciais, aparece em terceiro lugar na disputa ao Senado.

Com 9% na última pesquisa Ipec, ele está tecnicamente empatado com André de Paula (PSD), que soma 11%, mas bem atrás de Teresa Leitão (PT), que pontuou 25%.

Em SC, cenário dividido

Em Santa Catarina, estado no qual Bolsonaro conquistou 75,9% dos votos no segundo turno de 2018, a disputa para o Senado apresenta um cenário dúbio para o bolsonarismo.

O candidato mais bem posicionado nas pesquisas, o ex-governador Raimundo Colombo (PSD), apoia o governo, mas não tem a preferência do presidente. O candidato do Planalto é Jorge Seif Junior (PL), o ex-secretário da Pesca que se tornou um dos mais assíduos participantes de lives presidenciais ao longo dos quase quatro anos de governo.

Numa dessas lives, em 2019, quando o noticiário era dominado pelo aparecimento de manchas de óleo em praias do Nordeste, Seif foi ridicularizado nas redes após afirmar, que “o peixe é um bicho inteligente, quando ele vê uma manta de óleo ali, ele foge, ele tem medo”.

Mas proximidade com Bolsonaro não garantiu a Seif uma vantagem significativa nas pesquisas. Segundo o Ipec, ele tem 9% das intenções de voto, 17 pontos atrás de Colombo.

Por outro lado, em Santa Catarina, a disputa para o governo do estado é mais confortável para o bolsonarismo.Todos os quatro candidatos mais bem colocados apoiam Bolsonaro.

O governador Carlos Moisés (Republicanos) e o senador Jorginho Mello (PL) lideram a disputa aparecendo ambos com 20%. Moisés, praticamente um desconhecido até 2018, foi eleito na mesma onda de direita que catapultou Bolsonaro ao Planalto. Ainda em 2019, Moisés e Bolsonaro chegaram a se afastar, mas o governador voltou a se reaproximar do presidente, de olho no persistente eleitorado bolsonarista catarinense.

Jorginho Mello, por sua vez, tinha uma carreira política que precedia o bolsonarismo, mas a partir de 2019 se converteu num dos mais ferrenhos defensores do presidente no Senado, especialmente durante a CPI da Pandemia.

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