Por Joaquim de Carvalho em DCM –
Estudantes de direito, os mesmos que esculacharam Cristovam Buarque há três meses, queriam fazer o escracho com ele ao vivo — e certamente esperam oportunidade —, mas, para não perder o tempo da piada, os irreverente manifestantes foram até a rua Thompson Flores, famosa na capital mineira, e depositaram uma coroa de flores, onde está escrito:
“Parcial, boquirroto e inconveniente – Proh Pudor!, seus antepassados.”
Proh pudor é uma expressão latina que significa “Que vergonha”.
É uma referência ao que Thompson disse nesta semana, pela segunda vez: quer julgar o ex-presidente Lula a tempo de impedi-lo de se candidatar a presidente, em 2018.
Thompson é de uma família de juristas — o Thompson Flores que dá nome à rua onde foi feito o escracho é um antepassado, ministro do Supremo Tribunal Federal.
Em uma entrevista ao jornal Zero Hora, em julho deste ano, logo depois que assumiu a presidência do TRF4, Thompson Flores contou ser da 18a. geração de magistrados de sua família.
Sendo assim, o primeiro Thompson Flores que vestiu toga vivia mais ou menos há 900 anos, calcularam os estudantes.
Essa foi outro motivo para a piada. Parafraseando Napoleão Bonaparte, no discurso nas pirâmides do Egito, disseram:
Do alto de tamanha estupidez, nove séculos vos contemplam (e enojam)
Para a piada, consideraram que um Thompson jurista se reproduz a cada 50 anos.
“É meio tardio para ter filho, mas os Thompson são meio retardados mesmo”, disseram, de gozação.
Os estudantes de Minas Gerais pegaram o atual jurista da família Thompson Flores pela boca. Antes de declarar que tem pressa para julgar Lula, ele deu entrevista ao Zero Hora, logo depois que assumiu a Presidência do TRF4. Disse exatamente o contrário do que passaria a fazer:
A magistratura tem uma liturgia. Não se deve comentar casos judiciais que estão sob julgamento. O senhor conhece algum nome de juiz da Corte Suprema dos Estados Unidos? Lá eles se preservam tanto, têm uma atuação tão discreta que não vulgariza sua presença e não fala sobre tudo. Um juiz da Suprema Corte tem de falar em momentos fundamentais da nação e em lugares apropriados. Saímos de um extremo de muita discrição para uma superexposição. O tempo vai nos levar para o meio do caminho.
Thompson Flores júnior foi para o extremo e não tem resistido aos holofotes. Logo que o processo em que Sergio Moro condenou Lula chegou ao TRF4, ele deu entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo — aparentemente maquiado e com sua sala alterada para servir de cenário.
Com esse comportamento, na história da família, não será lembrando como o avô, que foi ministro do STF por 13 anos durante a ditadura e ficou conhecido pela discrição.
Há alguns anos, o STF o homenageou e coube ao então ministro Nélson Jobim fazer o discurso.
Jobim lembrou que, quando era ministro, Thompson Flores sênior criticou o Ato Complementar número 2, o pacote de abril. Não fez uma crítica pesada, disse apenas que era desejável o fim das restrições contidas nos atos institucionais. O mais importante, segundo Jobim, é que Thompson Flores sênior sempre usou o cargo com moderação.
“Não se serviu da ditadura para perseguir quem quer que seja. Pelo contrário, impediu o preconceito e o prejuízo”, disse.
O neto vai passar para a história como o jurista que adotou o calendário eleitoral para julgar um dos lideres mais populares da história do Brasil.
É trágico.
Mas, para os estudantes de direito que protestaram hoje em Belo Horizonte, não deixa de ser cômico.
O jurista mereceu o esculacho. Falou demais.
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