Entre partidos, candidatos do PL, PSB e União são os que mais obtiveram visualizações no 1° e 2° turnos; muitos políticos seguiram estratégia de viralização de Marçal
Por Alice Andersen, compartilhado de Fórum
na foto: Em períodos eleitorais há escalada de desinformação política, mostra estudo.Créditos: Marcelo Camargo/ Agência Brasil
Um relatório do Instituto Democracia em Xeque intitulado “TikTok nas eleições municipais de 2024 no Brasil: campanhas eleitorais e manipulação informativa” mostrou como o uso de deepfakes e de inteligência artificial (IA) no TikTok teve grande influência nos eleitores ao longo do processo eleitoral deste ano.
O Brasil teve 15.574 candidaturas à prefeitura, que disputaram 5.569 vagas, de acordo com informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e os políticos que mais utilizaram a plataforma e os recursos são aqueles que concorreram nas capitais: Pablo Marçal, André Fernandes, Tabata Amaral e Guilherme Boulos.
Isso significa quea plataforma também foi espaço de disputa pela corrida eleitoral e que o fenômeno da tiktokização se estabeleceu no campo político. Entre 16 de agosto e 5 de outubro, período que corresponde ao início da propaganda eleitoral até a véspera do primeiro turno, por exemplo, 8,6 mil postagens foram feitas no TikTok por candidatos a prefeitos das capitais brasileiras.
De acordo com o estudo, Pablo Marçal se destaca com o maior engajamento, somando 1.603.344 interações em um vídeo com cortes em que prometia “caminhar” pelas ruas da cidade até o início do primeiro turno das eleições. Uma matéria da Fórum, inclusive, explicou como a monetização de cortes de vídeos foi responsável por impulsionar a campanha política do ex-coach.
Em um período de 71 dias, as 56 contas criadas pelo empresário publicaram uma média de 48,7 vezes por dia. No total, as postagens dessas contas de cortes acumularam mais de 73 milhões de visualizações, com média de 20.673 por publicação, além de mais de 500 mil comentários e cerca de 300 mil compartilhamentos.
A conta “codigosdopablo” liderou com 490 postagens, o que equivale a 13,81% do total de publicações. As contas “pablomarcalporsp.m28”, “codigo.dos.milhoes” e “pablomarcal28br” vieram em seguida, com 236 (6,65%), 226 (6,37%) e 203 (6,37%) postagens, respectivamente. As dez contas que mais realizaram postagens totalizam 2.110 publicações, ou 59,49% de todos os vídeos. Na segunda semana de novembro de 2024, o TikTok havia removido as contas mais proeminentes por ordem do TSE. Veja o gráfico:
Perto do segundo turno, “o alto volume de publicações acumulado nos candidatos Ricardo Nunes, Guilherme Boulos e Pablo Marçal evidencia a forte concentração da disputa – eleitoral e por visibilidade – na capital paulista. Além disso, é importante ressaltar que o candidato Pablo Marçal possui outras contas com alta atividade na plataforma, o que, somado, o coloca na primeira posição no ranking de postagens”, destacou um trecho do relatório do instituto.
Durante o período de 7 a 26 de outubro, correspondente à propaganda eleitoral do segundo turno, foram contabilizadas 1,8 mil postagens no TikTok de candidatas e candidatos, sejam eles vitoriosos, derrotados ou que avançaram para o segundo turno. Os dias de maior movimentação na plataforma foram 26 de outubro (183 postagens), 15 de outubro (155 postagens) e 22 de outubro (113 postagens).
Um dos vídeos mais comentados também foi de Alexandre Ramagem (PL), ex-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, no dia 4 de outubro, que obteve 5.384 interações (visualizações, comentários e compartilhamentos). O vídeo mostrava Ramagem tomando café da manhã com o ex-presidente Jair Bolsonaro e lideranças do PL.
Já em 1º de outubro, o direito de resposta concedido a André Fernandes (PL), candidato à prefeitura de Fortaleza, em resposta a acusações de ofensas contra mulheres feitas por José Sarto (PDT), acumulou 1, 6 milhão de interações, mas a postagem foi removida.
No segundo turno, os maiores picos de engajamento no dia foram: um agradecimento de André Fernandes pelos votos recebidos, com 1.107.019 interações; o pedido de votos de Cristina Graeml (PMB), então candidata à prefeitura de Curitiba, com 45.556 interações; e a corrida realizada pelo reeleito prefeito de Macapá, Dr. Furlan (MDB), com sua equipe, gerando 33.238 interações.
A campanha no TikTok durante o segundo turno das eleições municipais foi marcada por discussões sobre diversos temas, com a infraestrutura ocupando a maior parte das atenções.
Mais de 870 vídeos trataram de questões como a recuperação de praças, a expansão da rede de wi-fi público, melhorias no transporte urbano, suporte aos motoristas de aplicativos e, no caso de São Paulo, a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa sobre a Enel após os apagões.
Em segundo lugar, com aproximadamente 770 vídeos, esteve o tema da vida política dos candidatos, que usaram a plataforma para divulgar suas histórias de superação, ações e projetos realizados em suas trajetórias públicas, além de reforçarem o apoio de outras figuras públicas.
PL, PSB e União Brasil lideram investimento
O PL liderou o engajamento no TikTok durante o segundo turno, com um desempenho superior ao dos demais partidos. O partido tinha nove candidaturas em 15 disputas nas capitais. A pesquisa destaca que embora os partidos de esquerda radical não tenham investido no TikTok, nem se destacado nela, é relevante observar que a produção de conteúdo para a plataforma requer recursos audiovisuais, favorecendo partidos com maior capacidade financeira, que geralmente são os de direita.
Por isso foram, em sua maioria, os que menos investiram na plataforma TikTok. PSTU, UP, PCB, PV, SOLIDARIEDADE e AVANTE juntos somam menos de 3% do total de postagens durante o período.
Embora não tenha participado da disputa por capitais no segundo turno, o PSB se destacou no período. O PT, por sua vez, registrou um avanço significativo em alcance. Já o PSD e o MDB, que ocuparam o primeiro e segundo lugar em número de prefeituras no país, respectivamente, se destacam em termos de volume de engajamento e visualizações no segundo turno.
Segundo os pesquisadores, mesmo fora do período eleitoral, algumas figuras ainda dominam a atenção no TikTok, como o prefeito reeleito de Recife, João Campos, e os ex-candidatos à prefeitura de São Paulo, Tabata Amaral e Pablo Marçal.
Relembre: Centrão e direita na liderança das prefeituras
O declínio do PSDB ficou evidente nas eleições municipais de 2024, que também redesenharam o cenário político brasileiro ao consolidar o Centrão como a principal força nas esferas locais.
Partidos como PSD, o PP, de Arthur Lira, e União Brasil saíram fortalecidos e o Centrão ocupou o espaço que historicamente pertencia aos tucanos, reconquistando, aos poucos, o apoio de bases mais radicais, especialmente na região sul.
Os dados revelam que, somados, PSD, MDB, PP e União Brasil elegeram mais de 3 mil prefeitos, o que corresponde a 54% dos municípios brasileiros. Pela primeira vez em 20 anos, o PSD superou o MDB, tornando-se a principal força nas eleições municipais e se firmando como o partido com mais prefeitos eleitos.
O PL e os Republicanos, logo atrás do Centrão, foram as siglas que mais se expandiram em número de prefeituras em relação ao último pleito. O PL, vinculado a Bolsonaro, viu um aumento de 49%, com ênfase em estados como São Paulo e Santa Catarina.
O partido também elegeu prefeitos em Várzea Grande, Rondonópolis, Primavera do Leste e Sinop, cidade que é um símbolo do agronegócio. No total, o PL elegeu 21 prefeitos, ficando atrás apenas do União Brasil, que venceu em 60 municípios. Juntas, essas duas siglas governarão 57% dos municípios de Mato Grosso a partir de 2025, fortalecendo as forças conservadoras no estado.
Uso de IA e deepfakes: a manipulação informativa
Foram identificados 21 vídeos no TikTok, postados por uma variedade de contas, incluindo as de candidaturas oficiais e usuários comuns ou anônimos. A ferramenta TrueMedia foi usada pelos autores do estudo para verificar a probabilidade de uso de IA, classificando o conteúdo em quatro categorias: manipulação facial, IA generativa, ruído visual e áudio. A análise de deepfakes encontrou indícios de manipulação em todos os vídeos, mas em diferentes intensidades.
As ferramentas foram usadas para a criação de jingles com fake news e, principalmente, para modificar rostos, simular vozes e movimentações corporais. O caso destacada pelo estudo foi o uso dessas ferramentas por apoiadores de Pablo Marçal (PRTB), ex-candidato à prefeitura de São Paulo. Seus seguidores utilizaram a IA para criar uma falsa impressão de apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro a Marçal e também para simular abraços entre ele e Tabata Amaral (PSB), então candidata à prefeitura, que teve ampla viralização no TikTok. O estudo completo pode ser acessado neste link.