Publicado em Jornal GGN –
O material contra a Lava Jato é “avassalador, muito vasto, contém conversas, vídeos, áudios, arquivos, documentos, fotos, prints, tudo que a gente faz num aplicativo de mensagens. (…) Em extensão, é maior do que o arquivo Snowden”
Leandro Demori, editor-executivo do Intercept Brasil, disse nesta segunda (10), em entrevista ao programa Timeline, da rádio Gaúcha, que a equipe de jornalismo do site ainda tem uma imensidão de documentos, fotos, prints, vídeos, áudios e mensagens de textos trocadas por membros da Lava Jato para avaliar e publicar na série que foi batizada de “vazajato”.
Na noite de domingo (9), o site publicou 3 reportagens e 1 editorial a respeito de conversas privadas entre Sergio Moro e Deltan Dallagnol, e entre procuradores da Lava Jato num grupo fechado no Telegram, que provam o conluio entre o ex-juiz de piso e o Ministério Público Federal.
Moro deu dicas e traçou estratégias para o MP, cobrou agilidade em determinadas ações e interferiu em fases da Lava Jato, ofereceu pistas para o inquérito contra Lula e adotou outras medidas que atestam seu papel de auxiliar de acusação. Ex-juiz e procuradores negam irregularidades e se dizem vítimas de vazamento criminoso.
Questionado sobre o tamanho dos arquivos obtidos por uma fonte mantida sob sigilo, Demori afirmou que não tem como estimar. “Eu diria que a gente olhou 1% do material. Não tem como quantificar, é muita coisa mesmo.”
Segundo o editor, o material é “avassalador, muito vasto, contém conversas, vídeos, áudios, arquivos, documentos, fotos, prints, tudo que a gente faz costumeiramente num aplicativo de mensagens. A gente não está divulgando o tamanho do arquivo, mas em extensão é maior do que o arquivo Snowden.”
Para exemplificar, o jornalista comentou que apenas um dos grupos de procuradores no Telegram, chamado de “Incendiários”, resultou em 1,7 mil páginas de conversas.
OS ENVOLVIDOS
O Intercept recebeu cerca de 3 anos de conversas no Telegram a partir de uma fonte mantida em anonimato. O acesso ao material se deu semanas antes de Moro e Dallagnol terem o celular invadido, segundo divulgaram na semana passada.
Demori revelou ao Timeline que além do chat privado entre Moro e Dallagnol, há vários grupos formados apenas por procuradores de Curitiba, e outros incluem também “procuradores de todo o Brasil”.
Alguns grupos foram batizados com piadas internas ou referências à cultura pop – um deles, por exemplo, se chama” The winter is coming”, em alusão à série da HBO, Game of Thrones.
Damori dá a entender que jornalistas também estariam envolvidos nas conversas.
JANOT E MINISTROS DA SUPREMA CORTE
Questionado se Rodrigo Janot e ministros do Supremo Tribunal Federal apareceriam no escândalo, Damori tentou sair pela tangente para não furar o Intercept: “Ainda ainda não estamos falando sobre isso, mas possivelmente vamos falar em breve.”
O editor-executivo disse ainda que a equipe deve se reunir nesta segunda-feira para discutir os próximos passos, mas que há pelo menos mais 6 histórias em vista, que podem ser divulgadas nas próximas semanas.
PROVAS PARA AS CONVICÇÕES
Na opinião de Damori, o grande feito do Intercept com a série, até agora, é trazer elementos de prova contra os abusos já denunciados contra a Lava Jato.
“Quero deixar uma coisa clara: até ontem, as pessoas podiam ter convicções pessoais de que a Lava Jato operava politicamente, mas ninguém podia dizer que era um fato.”
A expectativa do jornalista é que as mensagens tenham “algum reflexo” sobre a Lava Jato, do ponto de vista jurídico. Isso porque não dá para aceitar que um “juiz cometa irregularidades sob o manto de combater irregularidades”.