Por Alex Solnik em Brasil 247 –
Eu tenho uma certa nostalgia dos tempos em que Fernando Henrique e Lula estavam do mesmo lado. No mesmo palanque. Era bonito de ver. Fernando Henrique mais refinado; Lula mais barbudo. Fernando Henrique cool, Lula inflamado. Não concordavam em tudo. Discordavam mais que concordavam. Não importa. Um intelectual e um operário juntos contra a ditadura. Juntos, eram fortes. E construíram dois grandes partidos. E trilharam caminhos diferentes.
Hoje que estamos às portas de alguma coisa que não sabemos o que é, mas que se parece com ditadura, embora haja um presidente eleito, uma ditadura com outra cara, acho imprescindível que os dois ex-presidentes se reaproximem.
E a única forma disso acontecer seria Fernando Henrique visitar Lula. Ex-presidente visita ex-presidente.
Poderia ser logo mais, no Natal. Natal não é para isso?
Eles e seus partidos não podem continuar brigados enquanto a extrema-direita avança.
O francês Bérnard-Henri Levy – guru de 68 – disse ao El País uma coisa sobre a qual vale a pena refletir. Que Bolsonaro derrotou não só a esquerda, mas também a “direita limpa”. “Ele a devorou. Hoje ela está fora do jogo”.
Isso pode explicar a aversão de Bolsonaro a João Dória. Dória é essa “direita limpa” que ele abomina. Dória vai tentar colocar o PSDB no colo de Bolsonaro, mas ninguém sabe se Bolsonaro vai querer. Provavelmente não.
Eu sei que está difícil até mesmo a chamada centro-esquerda se unir, porque Ciro Gomes teima em excluir o PT, mas o fato é que o avanço das pautas de extrema-direita só poderá ser barrado com uma união mais ampla e não dá para excluir dessa união mais ampla o PSDB ou parte do PSDB.
O que eu acho é que Lula e Fernando Henrique são os dois mais importantes líderes da Nova República e têm que se dar as mãos em sua defesa.