EUA: 16 estados têm mais pessoas presas do que em dormitórios de faculdade

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Por David A. Love, originalmente publicado em The Grio, reproduzido no Carta Maior  – 

Embora os negros sejam 27% da população do Alabama, são 63% da população carcerária. Nenhum dos juízes de apelação e apenas um dos procuradores é negro.

windzepher/fotolia.com

Faculdade ou prisão: o que é mais importante?




Em 16 estados da terra da liberdade, a resposta é prisão. Como foi relatado pelo MetricMaps, 16 estados têm mais corpos enchendo prisões do que estudantes vivendo em dormitórios de faculdades. O dado fascinante, e até perturbador, é que quase todos estes 16 estados estão localizados no sul dos EUA, a parte de baixo do país. Você deve ver o mapa para compreender a gravidade da situação.

Afunde-se nisso por um minuto. Mais pessoas atrás das grades do que nos dormitórios. O que há no sul dos EUA que poderia explicar isso? Poderia ser por conta da tradição da escravidão, violência racial e segregação promovida pelas leis de Jim Crow, um legado de criminalização e desumanização das pessoas e o fato do povo não ter sido bem zelado?

Lembre-se que os Estados Unidos têm a maior população carcerária do mundo, mais de 2 milhões, são 500 presos por 100.000 habitantes (o número sobe para 700 se levarmos em conta a população que está em prisões locais). O diabo está nos detalhes e, aparentemente, um bom bocado dessa história acontece no sul, onde a proporção de presos por habitantes (552 por 100.000) é maior do que o nordeste (296), centro-oeste (389), ou oeste (418).

Destrinchando apenas um pouco mais, dentro da própria região sul, alguns estados são piores do que outros. Por exemplo, a Louisiana é o estado com a maior taxa de encarceramento no país (867), seguido do Mississippi (686), Oklahoma (654), Alabama e Texas (648 cada).

Onde quer que se encontre encarceramento em massa, encontramos racismo e abuso. Como o estado com a maior taxa de encarceramento do país, a Louisiana pode gabar-se de ter uma porcentagem de encarceramento do seu povo maior do que em qualquer lugar do mundo.

Louisiana é o lar de boa comida e boa música e uma rica cultura. Mas o estado Bayou prende 1 em cada 86 pessoas. Também na Louisiana, um júri unânime não é necessário para condenar alguém de um crime, ou até mesmo condenar à prisão perpétua.

A Louisiana é lar da Penitenciéria Estadual de Louisiana na cidade de Angola, a plantação que antes reunia escravos e ainda funciona como tal, com os presos em sua maioria negros que se dedicam a trabalhos forçados nos campos e guardas brancos tradicionalmente conhecidos como “homens livres”. Enquanto isso, 1 a cada 14 homens negros de New Orleans está preso, e 1 em 7 está sob algum tipo de supervisão governamental, seja na prisão ou em liberdade condicional.

No Alabama, um dos líderes de encarceramento nos EUA, a população carcerária cresceu de6.000 em 1979 para mais de 28.000 hoje, de acordo com a Equal Justice Iniciative. O estado possui algumas das sentenças mais longas do país para infratores violentos e não-violentos.

O Alabama é culpado pelo maior crime de retirada de direito de sufrágio do país. Enquanto isso, as despesas de aprisionamento aumentaram 45% de 2000 para 2004 – já os gastos em educação aumentaram apenas 7,5%, dando credibilidade à ideia de que a educação sofre quando mais e mais prisões são construídas.

Além disso, os juízes do Alabama – que são eleitos – podem substituir vereditos do júri, mesmo em casos de pena de morte. Alabama é também o único estado do país que não fornece financiamento do Estado para prestar assistência jurídica aos presos no corredor da morte. E, enquanto 65% dos crimes no estado envolvem vítimas de assassinato que eram negras, 80% das pessoas condenadas à morte foram condenadas pelo assassinato de vítimas brancas.

Enquanto isso, embora os negros sejam 27% da população do Alabama, eles são 63% da população carcerária. E nenhum dos juízes de apelação e apenas um dos procuradores eleitos é negro.

Não é por acaso que os estados que mais aprisionam – incluindo o extremo sul – estão entre os mais pobres e encontram-se no fundo do poço em termos de expectativa de vida, padrões de saúde e educação. Afinal, Dixie (como se chama o sul profundo dos EUA) tem uma grande experiência em privar as pessoas de oportunidades educacionais como quando proibiu negros a ler e escrever. Além disso, os códigos de escravos criaram um estado policial que criminaliza as pessoas negras e as escolheu para punição. E na era da segregação Jim Crow só continuou a opressão racial, o trabalho forçado e prisões, mesmo até os dias atuais.

O sul tem uma longa história de priorizar prisões à educação, o que poderia tornar-se a sua derrocada. E os investimentos em escolas são cortados à medida que mais prisões são construídas, apesar da queda da criminalidade durante as últimas décadas. Quanto mais dinheiro para um, menos para o outro.

Alguns hábitos são muito difíceis de mudar.
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David A. Love é colunista de The Grio.

A tradução, originalmente publicada em Bidê Brasil, é de Luka Franca.

Créditos da foto: windzepher/fotolia.com

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