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De um total de 15,7 milhões, cerca de 8,4 milhões estão concentrados nas Américas. EUA ultrapassa a marca de 4,1 milhões de infectados e volta a registrar aumento na média de mortes diárias. Ao subestimar valor da ciência, líderes populistas como Trump e Bolsonaro falharam no combate à pandemia, aponta ‘Associated Press’. “Os países que lideram o ranking mundial de mortes por Covid-19 não são os mais pobres, os mais ricos ou até os mais densamente povoados. Mas eles têm uma coisa em comum: são liderados por populistas”, destaca a agência
A guerra declarada de Donald Trump e Jair Bolsonaro contra a ciência fracassou. O negacionismo dos presidentes dos EUA e do Brasil causaram uma tragédia sem precedentes nas Américas. Nesta sexta-feira (24), os EUA ultrapassaram a marca dos 4,2 milhões casos de Covid-19 e quase 150 mil mortes. No Brasil, enquanto o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, é desmoralizado por novas denúncias de negligência no combate à pandemia, o novo coronavírus continua fora de controle. O país tem 84.440 mortos e 2.303.661 casos da doença, segundo o consórcio de veículos de imprensa. Entre quarta e quinta-feira, 65 mil novos casos da doença foram registrados, um recorde.
Epicentros da Covid-19, as Américas (Norte, América Latina e Caribe) já respondem por mais da metade dos 15,7 milhões de casos mundiais, com 8,4 milhões, cerca de 53,7% do total de infecções. Em ritmo similar ao brasileiro, os EUA voltaram a registrar mais de mil mortos por dia. A Flórida vive uma explosão de casos da doença. Nas últimas semanas, a crise sanitária agravou-se e poderá custar a reeleição de Donald Trump à Presidência. O desemprego voltou a subir: o governo tornou a receber mais de um 1,4 milhão de pedidos de auxílio por semana. O déficit no setor impõe uma luta inglória contra o tempo. Com a aproximação das eleições, nem todo negacionismo do mundo poderá ser capaz de salvar Trump de uma derrota nas urnas.
Para se ter uma ideia do tamanho da velocidade de propagação da doença nos EUA, desde o registro do primeiro caso de Covid-19, o país levou 98 dias para atingir 1 milhão de casos. Foram necessários mais 43 dias para chegar a 2 milhões e, em seguida, 27 dias para bater 3 milhões. E apenas 16 dias para chegar a 4 milhões, a uma taxa de 43 novos casos por minuto, segundo a agência ‘Reuters’.
Reportagem da Associated Press, publicada na quinta-feira (23), traça um perfil sobre lideranças populistas como Trump, Boris Johnson, primeiro-ministro da Grã Bretanha, Jair Bolsonaro e o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador. Chefes de nações com alta incidência de casos da doença, os quatro falharam fragorosamente no combate à pandemia justamente porque subestimaram o valor da ciência.
“Os países que lideram o ranking mundial de mortes por Covid-19 não são os mais pobres, os mais ricos ou até os mais densamente povoados”, destaca a reportagem da agência. “Mas eles têm uma coisa em comum: são liderados por populistas.”
Desprezo pela ciência
“Esta é uma crise de saúde pública que requer conhecimento e ciência para ser resolvida. Os populistas por natureza desprezam os especialistas e a ciência, que são vistos como parte do establishment ”, afirma Michael Shifter, presidente do Interamerican Dialogue, um think tank de Washington, em depoimento à agência de notícias. “A política populista torna muito difícil implementar políticas racionais que realmente resolvam o problema – ou pelo menos gerenciem a crise com mais eficiência”, considera Shifter.
Segundo a ‘AP News’, a democracia liberal vive um dilema, que foi cristalizado pela Covid-19: como o sistema político que derrotou o fascismo na Segunda Guerra, criou instâncias como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e parecia ter triunfado na Guerra Fria há três décadas deve enfrentar o novo populismo? Sem apontar respostas, a reportagem foca nas consequências, observando que as quatro nações, lideradas por céticos em relação à ciência, são responsáveis por mais de 618 mil óbitos até agora.
Caráter populista
A agência continua a tratar de populismo. A ‘AP News’ relembra que, depois que a pandemia atingiu o país, Bolsonaro, por exemplo, minimizou o impacto da doença, recomendou quarentena apenas para idosos e fez propaganda de um medicamento sem eficácia comprovada no tratamento da doença, a hidroxicloroquina. O presidente fez questão de manter, entretanto, o caráter populista de sua administração.
“Da mesma forma que Trump imprimiu sua assinatura nos cheques de resgate de US $ 1.200 para a população, emitidos pelo Tesouro dos EUA, o governo de Bolsonaro trabalhou para garantir que os destinatários no Brasil [do auxílio emergencial de R$ 600] soubessem a quem agradecer – parte do que Shifter chama de cartilha de adulação de um líder populista e da projeção de seu próprio poder”.
Preço da incompetência
“A pandemia e a crise econômica revelam o preço da incompetência e isso realmente importa”, afirma o cientista político Thomas Wright, da Brookings Institution, também em conversa com a ‘AP News’. Para ele, a doença “atinge todos os pontos cegos que os populistas têm”. Segundo o cientista político, “eles querem promover ruptura para atacar o estado e desacreditar as instituições. E na realidade objetiva, o vírus refuta tudo isso”, raciocina Wright, antes de concluir: “como você precisa de uma burocracia em funcionamento, precisa confiar nos números e responder de maneira científica”.
Segundo a reportagem, o negacionismo dos populistas atende convicções de seus seguidores, o que explica a dificuldade para que líderes aceitem recomendações de autoridades de saúde. “Se eles começarem a concordar com a ciência, estarão adotando a maneira estabelecida de pensar que muitas de suas bases vêem como a principal causa do problema do país “, aponta Wright.
Ainda de acordo com a agência, à medida que as mortes aumentam nos países liderados pelos populistas, a Europa toma o caminho inverso, com a doença entrando em declínio. Apontada como líder exemplar, a chanceler alemã Angela Merkel disse que o histórico da Europa mostra os benefícios de uma liderança consistente. A Alemanha, que tem um quarto do tamanho dos EUA, registrou 9 mil mortes. “O populismo negacionista de fatos está mostrando seus limites”, disse a chanceler, em discurso no Parlamento Europeu.
Fórmula 1
Nesta sexta-feira, a Fórmula 1 anunciou que o Brasil, pela primeira vez em quase 50 anos, não sediará uma das competições da temporada por causa do coronavírus. Os prejuízos pelo cancelamento do GP Brasil foram calculados em R$ 360 milhões. Apenas países da Europa e Ásia poderão realizar as corridas. Além do Brasil, Estados Unidos e México também estão de fora da competição.
Da Redação, com agências