Por Washington Luiz de Araújo, jornalista
Aos 89 anos, morre Eunice Paiva, viúva do deputado federal Rubens Paiva, assassinado na ditadura militar. Por uma triste coincidência, Eunice falece no dia em que completa 50 anos o famigerado AI 5, Ato Institucional Número 5. AI 5 que veio para recrudescer a ditadura militar, que fechou Congresso, cassou parlamentares e liberou a repressão para matar e torturar dissidentes.
O marido de Eunice Rubens Paiva, foi morto um pouco mais de dois anos depois da instituição do AI 5 nas instalações do Doi-Codi, no Rio de Janeiro. Militares desapareceram com seu corpo, fazendo um jogo macabro de escamoteamentos.
Durante os 47 anos seguinte à morte do marido, Eunice seguiu a vida com dignidade, criando os cinco filhos, e nunca deixando de lutar contra a ditadura, da qual foi uma das maiores vítimas, pelo direito de enterrar o marido e pelo desvendamento da forma com que Rubens Paiva foi assassinado, .
Artigo de Marcos Rolim, no jornal Extra Classe, do Sinpro-RS (sindicato dos professores do Rio Grande do Sul), aborda a figura forte que foi Eunice Paiva ao fazer uma resenha do livro “Ainda Estou Aqui”, escrito pelo filho do casal, jornalista Marcelo Rubens Paiva.
Afirma Rolim sobre Eunice, que no final da vida foi acometida do mal de Alzheimer. “Eunice Paiva, a mulher que segurou essa barra sozinha, foi cursar Direito depois do desaparecimento do marido, tendo desenvolvido, por muitos anos, intensa e qualificada atividade como advogada. Atuou em várias frentes, assumindo com dedicação a causa indígena e se tornando uma referência internacional no tema. Nunca chorou na frente das câmaras e ensinou os filhos a não permitir que os tratassem como “coitados”. A família Paiva seguiria com o olhar altivo”.
Eunice Paiva sempre estará aqui com a gente. Sempre será um dos retratos do que a ditadura fez com pessoas como ela e, mesmo com muitos não percebendo, o que fez com o povo brasileiro em sua totalidade.
O terno relato que Marcelo Rubens Paiva traça em “Ainda Estou Aqui” é mais do que o representar do carinho de um filho pela mãe guerreira e meiga, é o olhar que todos nós devemos às mulheres que enfrentaram os anos de chumbo de cabeça erguida. Eunice Paiva sempre estará presente.
Abaixo, a tese acadêmica “UMA ANTÍGONA BRASILEIRA: A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA DE EUNICE PAIVA E DA SUA ATUAÇÃO EM DEFESA DA DIGNIDADE HUMANA PARA ALÉM DA LEI”, de Mariana Rodrigues Festucci Ferreira
http://www.seer.unirio.br/index.php/psicanalise-barroco/article/viewFile/7264/6395
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