A atuação de Fernando Haddad foi tão superior a de seu oponente que poderá elegê-lo governador de São Paulo e, por tabela, definir a eleição do Lula
Por Simão Zygband, compartilhado de Construir Resistência
Poucas vezes vi em uma eleição uma derrota tão intensa como a que o candidato a governador de São Paulo, o ex-ministro Fernando Haddad impôs ao seu adversário, o forasteiro Tarcísio de Freitas, evidentemente fortalecendo por tabela a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República para que se extirpe o mal bolsonarista do Estado e do país.
Foram duas horas de verdadeiro massacre na abordagem dos mais variados temas fundamentais para a governança do principal estado da federação, mas vou destacar uma passagem em que Haddad demonstrou toda a sua habilidade, desmontando o seu oponente.
O forasteiro Tarcísio, inocentemente, disse que o petista tinha sido prefeito e não resolveu o problema da Cracolândia. Para mim, entre vários outros, tão bons quanto este, foi o momento mais agudo do massacre:
“O Ricardo Nunes que conseguiu? O Doria que conseguiu, que são seus apoiadores? Seis anos que eu deixei a Prefeitura. O que vocês fizeram pela Cracolândia? Você teve compaixão por alguém de São Paulo? Veio aqui estender a mão para alguém? Você veio aqui para ser governador e se não conseguir vai voltar para casa, por que não tem raízes aqui. Vamos ser justos com a verdade. Você tem um apart hotel alugado por seis meses. Ganhou fica, não ganhou vai embora”.
Sobre o episódio de Paraisópolis, onde a equipe de Tarcísio forjou um tiroteio que culminou com a morte do jovem Felipe Silva de Lima, assassinado pelo ex-agente da Abin agregado à campanha bolsonarista. A equipe do bolsonarista exigiu que o cinegrafista da Jovem Pan, Marcos Andrade, que havia registrado o incidente, apagasse as imagens, o constrangendo e fazendo com que ele temesse pela vida dele e da família e pedisse demissão da emissora. Haddad foi fulminante:
“Se você tem uma imagem que você acha que pode colocar em risco a vida de alguém, pra quem você leva? Você apaga ou leva para a autoridade policial? E a autoridade policial é que decide. Manter ou não em sigilo aquela imagem. Este procedimento que ele acabou de relatar é um absurdo. Pergunte para qualquer criminalista, para qualquer advogado, para qualquer juiz, para qualquer delegado se alguma pessoa pode levar uma pessoa para o comitê de um e determinar que esta pessoa apague uma imagem que pode ser útil para o investigador concluir o que aconteceu. Isso é irregular e, inclusive, ilegal. Você deveria estar aqui dizendo o seguinte: olha. A pessoa errou. Não deveria ter mandado apagar. Devia ter entregue para o delegado. Se você estiver liderando um estado como São Paulo e tiver esta postura, pode apagar para proteger as pessoas, você não vai longe. Aqui não é o Rio de Janeiro. A gente viu o que deu lá”.