Por Fernando Brito, para Tijolaço –
Lamento dizer aos meus leitores e leitoras que sim.
E lamento dizer aos meus amigos que partilham das ideias de liberdade e participação popular que, sim, involuntaria (mas infantilmente) ajudaram a parir um monstro, quando apostaram na negação do que é tão essencial quanto a liberdade: o respeito à liberdade alheia.
Ajudaram apenas, porque no DNA do monstro está a visão excludente e intransigente da elite brasileira, que se aloja no útero da ignorância.
Recebi, ontem, pelo Facebook, uma reportagem do Zero Hora, feita a partir de um estudo da antropóloga Adriana Dias, da Unicamp, mostrando que houve um crescimento de quase 170% no número de páginas virtuais com conteúdo neonazista em português, espanhol ou inglês entre 2002 e 2009 — de 7,6 mil para 20,5 mil.
Seria interessante que a estudiosa antropóloga atualizasse estes números.
Talvez muita gente se assustasse.
E tentasse entender, a partir daí, como a polêmica, em lugar da confrontação, é o aprofundamento da democracia e do humanismo.
Estamos diante de um evidente aumento da intolerância em nosso país.
Em grande parte, porque aceitamos que, em nome da liberdade, tudo seja admissível.
E não é, quando fere o direito alheio.
Ninguém tem o direito de pedir que me tirem, ou a você, o direito de voto, pedindo uma ditadura.
Ninguém tem o direito de ir armado a manifestações, porque isso viola a Constituição, expressamente.
Ninguém tem o direito de propor a morte dos nordestinos ou a sua “castração química”.
A sociedade, pelo governo que institui pelo voto, tem o dever de combater estas deformações em seu organismo.
Normalmente, isso se faria pela reação sadia de seus próprios instrumentos: a imprensa, a escola, a universidade.
Aqui, porém, considera-se democrático chamar linchamentos de “compreensíveis”.
É “charmoso” ter gente vociferando em redes de televisão.
As camisetas e os tacos de beisebol da foto, vendidas livremente no Brasil, não são um problema para a democracia.
Nem mesmo os que as usam são um problema grave, porque gente assim sempre viveu na sombra, como pequenos grupos de desajustados que, se não perserguirem ou ferirem alguém, podem babar à vontade sua monstruosidade.
O problema é quando a maioria, que elegeu governo em nome de todos, é levada pela mídia – sob pena de emparedar-se – a acovardar-se diante destas ideias-monstro.
Quando as instituições passam a se omitir, para não serem acusadas de “bolivarianismo” por pretenderem o cumprimento da lei.
Quando a selvageria autoritária, invocando uma “ditadura” que jamais existiu, no clima de absoluta liberdade que há no Brasil, se volta contra a própria democracia.
Mas é grave, sobretudo, quando se quer obrigar as ideias que triunfaram pelo voto a serem trocadas pelas derrotadas.
Porque isso, mais do que qualquer imbecil skinhead ou coxinha saudoso dos militares, é que atenta contra a democracia.
Eles estão por aí e não vão sumir, depois de terem se multiplicado na atmosfera podre na qual a mídia os fez proliferar.
E ficando mudos não os vamos reduzir ao quisto que sempre foram e, queira Deus, voltarão a ser.