Fabíola e Léo depois do filme do motel

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Por , publicado no DCM – 

Léo e Fabíola foram os dois protagonistas do último grande escândalo da internet. Como esquecer a cena deplorável da moça sendo arrancada pelos cabelos do carro, pelo próprio marido, enquanto outro homem filmava a cena e a insultava?




Para Fabíola, os mais lamentáveis adjetivos: vagabunda, puta, piranha, sem caráter. E para Léo, o homem que saiu com a mulher do amigo? Apenas o estigma de amigo ‘fura-olho’, pegador, aquele que não resiste ao “instinto masculino”. “Tanta piranha, Léo!” – foi o que se ouviu na voz off do vídeo – tanta piranha e você ‘pega’ logo a mulher do seu amigo?

Léo poderia ser visto saindo com muitas ‘piranhas’ de um motel, mesmo sendo casado. Mas não com Fabíola, porque ela sim deveria ter se dado ao respeito.

Após a exposição (certamente inesperada) na rede, Fabíola enfrenta uma depressão.

O casal antes da tempestade
O casal antes da tempestade

Não deve ser fácil ver milhões de pessoas julgando a sua vida íntima. Não deve ser fácil saber que quem te chama de vagabunda não vive o seu casamento, não enfrenta as suas dificuldades, não dorme com você todas as noites.

Assim como ela, muitas mulheres já tiveram a vida destruída pela exposição e julgamento machista na rede: quem esqueceu da menina de Veranópolis, que se suicidou após o vazamento de fotos íntimas no WhatsApp?

Não me surpreende. O mundo – especialmente o virtual – é cruel com as mulheres.

E enquanto Fabíolas e meninas de Veranópolis entram em depressão e se suicidam por não saberem lidar com a crueldade alheia, Léo se diverte em férias com a família. Sua esposa, também traída, não o agrediu; perdoou-o, decerto.

Afinal, homem é assim mesmo.

Léo também é adúltero, mas eu não vi um comentário sequer recriminando-o por ter traído sua esposa. Ela é que provavelmente não deu conta do recado. E homem insatisfeito em casa, procura na rua – nós é que devemos segurar os nossos homens com um bom sexo. Nós precisamos perdoar e nos calar – porque, como se diz, homem é artigo de luxo.

E quem nunca presenciou um casamento de merda? Quem nunca compreendeu, talvez sentindo na pele, que divorciar-se não é tão fácil quando o mundo inteiro te convence de que você precisa de um homem?

Precisamos ter sensibilidade e uma boa dose de empatia para perceber que a vida conjugal alheia – que não nos diz respeito, ressalte-se – não é tão simples quanto escrever um insulto na internet. Que as opressões são intermináveis. Que muitos homens convencem as suas esposas, silenciosa e meticulosamente, de que elas precisam deles. De que nenhum outro homem as aceitará – porque estão velhas, porque têm filhos, porque são problemáticas. Muitas mulheres acreditam cegamente que um casamento fracassado é tudo que lhes resta – porque qualquer coisa é melhor que ficar sozinha.

Por que Fabíola não se divorciou antes de trair? Eu não sei.

Mas, já tendo presenciado mulheres tentando livrar seus maridos violentos da cadeia – presos em decorrência da Lei Maria da Penha, por exemplo – porque eles eram os provedores, financeiros ou psicológicos, da família, eu consigo imaginar.

Tendo visto mulheres lindas – e mais próximas a mim do que você, leitor, pode imaginar – se submetendo a traições, insultos e humilhações porque “não conseguiriam outro casamento” ou “não querem que seus filhos cresçam sem pai”, sim, eu posso imaginar.

A sociedade patriarcalista cultiva em cada uma de nós uma carência oportuna, necessária para que continuemos nos calando, nos contentando com o lugar que nos foi imposto. É preciso muita ousadia para afirmar-se enquanto mulher divorciada e autossuficiente sem ser vista como “coitada”. É preciso muito amor próprio – aquele mesmo amor próprio que a sociedade nos tira – para não aceitar um relacionamento opressor.

Fique à vontade para me acusar de vitimista e “defensora de vagabundas”.

Mas antes, pergunte-se: E Léo? Por que não divorciou antes de trair?

 é Colunista, autora do livro "As Mulheres que Possuo", feminista, poetisa, aspirante a advogada e editora do portal Ingênua. Canta blues nas horas vagas.

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