Por Carlos Eduardo Alves, jornalista –
O golpe parlamentar que roubou o mandato de Dilma não encerra o movimento pensado e executado até o momento pela direita brasileira. É a etapa que antecede o grandfinale imaginado pelo conservadorismo: a prisão ou, se não for possível, a obtenção da inelegibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva.
Dilma foi o objetivo mais fácil de acertar. Frágil politicamente desde sempre, sem carisma e com um governo criticado à direita e à esquerda, caiu com dignidade, vítima de uma farsa grotesca. Mas caiu e em nenhum momento, infelizmente, conseguiu reunir forças para resistir de fato. Muito pelos desacertos de seu governo, é verdade, mas a liminar é que foi vítima de um golpe. A História não perdoará quem atentou contra a Constituição, mas quem participou da trapaça, convenhamos, não está muito preocupado com História.
Lula, porém, é quem canaliza todo o ódio de classes, o preconceito e, por isso, na ótica das forças golpistas, é a mãe de todas as batalhas. Representa o legado de inclusão social que a elite brasileira primitiva nunca aceitou. Consentiu durante os anos de crescimento, mas sempre teve ojeriza. Não cabe aqui avançar na discussão, mas talvez o grande erro do PT e de Lula, aliás, tenha sido acreditar que seriam aceitos na festa dos bacanas.
Voltando, para piorar, ainda na ótica da direita, Lula resiste como o candidato mais forte numa possível eleição presidencialem 2018. Anos de pancadas intermináveis e diárias no Jornal Nacional e o homem continua forte. Menos do que já foi, mas ainda o primeiro em pesquisas. É preciso, lógico, afastar o perigo. Imagina o homem tendo acesso à TV em campanha eleitoral? Melhor não.
Sabemos que a turma do golpe é de sem-votos e, naturalmente, não gosta de urna, mas como não é possível viver de golpe em golpe teremos eleições logo e é preciso “limpar” a área. O que vai acontecer? Difícil prever no Brasil atual de manipulação, mas é razoável supor que a “pena mínima” que será aplicada a Lula será torná-lo inelegível. Para isso basta o juiz Moro e o Tribunal de Porto Alegre condená-lo. Em se conhecendo os precedentes….
Prender Lula (e a hipótese tem que ser analisada sim, por mais que se ache absurda) já não será tão fácil. A comoção causada pela ainda recente condução coercitiva pode ter deixado os justiceiros da toga mais espertos. Haverá um cálculo político antes da opção. Pode eventualmente ser o fósforo na gasolina que, aliás, talvez tenha sido riscado no gigantesco ato de domingo nas ruas de São Paulo.
Para resumir a ópera dos golpistas: foi ótimo chegar ao Poder sem votos e tentar enfiar goela baixo dos pobres um arrocho social cruel. Mas é pouco ainda. Apagar o símbolo de políticas de inclusão é indispensável. Ainda mais que o cara permanece como o maior líder popular do país. Pudor constitucional, respeito às leis e tudo o que recomenda a boa cartilha da Democracia eles já demonstraram que não têm. E o Judiciário… Bem, o Judiciário sabemos como funciona no Brasil triste de hoje.
Não há segurança, sendo repetitivo, para apostar qual será o destino de Lula. Seu partido sairá extremamente fragilizado das eleições municipais, de um lado. Mas, de outro, o país vive debaixo de um governo ilegítimo que, SP demonstrou domingo, terá imensas dificuldades para usar o chicote nos direitos sociais já precários. O jogo pela democracia não está jogado ainda. Rua, com organização, pode impedir que os comilões indevidos saboreiem a cereja.
Foto Tiago Macambira / Jornalistas Livres
