Falta de transparência do Butantã coloca vacinados em risco

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Por Luis Nassif, compartilhado de Jornal GGN – 

Conversei, também, com um dos responsáveis pela coordenação da vacinação em São Paulo, sobre os resultados da Coonavac sobre as novas cepas. Resposta:”O Dimas disse que já há esses dados, mas eu ainda não tive acesso”.

O governador João Doria e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, seguram uma dose da coronavac.SEBASTIÃO MOREIRA / EFE

Peça 1 – o marketing do Instituto Butantã

Chegou-se a um impasse com essa história da nova vacina que o Butantã pretende desenvolver.

O seu anúncio mostrou, mais uma vez, que seu presidente, Dimas Covas, rendeu-se ao marketing do governador João Dória Jr. Sua estratégia não consiste em mentir – como faz Bolsonaro -, mas em contar apenas parte da verdade. E, segundo Santo Agostinho, contar parte da verdade é o mesmo que mentir.Com Dimas Covas, o Butantã cedeu duas vezes ao marketing e incorreu no pecado de contar parte da verdade.




Momento 1– o jogo de cena dos diretores sendo filmados “aguardando” os resultados sobre a eficácia da Coronavac e sendo filmados no momento em que recebem – supostamente de surpresa- a informação e comemoram os 100% de eficácia contra casos “graves e moderados”. Concentrou-se nessa conclusão, que era apenas uma das etapas de avaliação da vacina.

Momento 2 – ontem, o anúncio da vacina 100% brasileira, comemorada como tal por Dória e Dimas Covas. Doria anunciou um “anúncio histórico para o Brasil e, sem hesitação, dizer que é para o mundo”. E anunciou a vacina integralmente desenvolvida no Brasil. Não se sabe se Dória pretendeu enganar a opnião pública, ou se foi enganado por Dimas Covas, o presidente do Instituto Butantã.

Peça 2 – as dúvidas de Fernando Reinach

As primeiras dúvidas sobre a nova vacina foram lançadas por Fernando Reinach, em artigo no Estadão – estragando, aliás, o editorial laudatório do jornal sobre a nova vacina. Embora tenha um histórico de implicância contra o Butantã e contra seu diretor, as dúvidas dele são claras.

  1. Se já tem uma vacina sendo produzida, a Coronavac, qual a razão para se fabricar uma nova vacina? Vai exigir esforço duplicado, atrapalhar os investimentos na primeira.
  2. A unica razão seria eventual falta de eficácia da Coronavac contra as novas cepas;

Não é uma indagação trivial. Pesquisas mostram que mais de 50% das novas infecções – em alguns estados superam os 70% – são devido às novas cepas. Se a Coronavac não for eficaz contra elas, e não houver nenhum alerta, haverá milhares de idosos desarmados e vulneráveis ao Covid.

Peça 3 – a opinião dos especialistas

Nas últimas semanas, a imprensa não especializada publicou diversos artigos falando da suposta eficácia da Coronavac contra as novas cepas. Todas baseadas em afirmações do Butantã.

Quase passou despercebida pesquisa conduzida por mais de 30 instituições científicas brasileira, sobre a eficácia da Coronavac contra as novas cepas

Métodos: Isolamos dois espécimes contendo P.1 de nasofaringe e broncoalveolar amostras de lavagem de pacientes de Manaus, Brasil. Medimos a neutralização do vírus P.1 após incubação com o plasma de 19 doadores de sangue convalescentes COVID-19 e receptores do vacina CoronaVac quimicamente inativada e comparou esses resultados com a neutralização de um SARS-CoV-2 B-lineage que circulava anteriormente no Brasil.83

Resultados: O plasma imune de doadores de sangue convalescentes COVID-19 tinha 6 vezes menos capacidade de neutralização contra o P.1 do que contra a linhagem B. Além disso, cinco meses depois reforço da imunização com CoronaVac, plasma de indivíduos vacinados não conseguiu neutralizar isolados de linhagem P.1.

Conversei há pouco com um cientista brasileiro que trabalha no Imperial College, o maior centro mundial de estudos sobre o Covid-19. Indaguei sobre a eficácia da Coronavac contra as novas cepas.

Diz ele:

“Nós não temos esse dado epidemiológicos pois:

1) poucos países usam coronavac

2) os que usam não vacinaram numero significativos de sua população

3) mesmo que tivessem vacinado, a nossa variante P1 não existe em grandes números em outras regiões do mundo.

Logo esse tipo de dado epidemiológico cai por terra a não ser que nos mesmos o geremos. No caso, a cidade de Serrana – SP é nossa mais esperança. Na ausência de tudo isso, o que sobram sao estudos laboratoriais de neutralização do vírus em células de cultura[No entanto não vi nenhum desses estudos ainda publicados ou com dados disponíveis.

Um dos estudos que analisou amostra de 8 pacientes vacinados gerou um resultado, mas esse resultado é incomparável com o resto da literatura

Em resumo: não sabemos. esperamos que sim.

Conversei, também, com um dos responsáveis pela coordenação da vacinação em São Paulo, sobre os resultados da Coonavac sobre as novas cepas. Resposta:”O Dimas disse que já há esses dados, mas eu ainda não tive acesso”.

O alerta mais pesado veio de Feigi-Ding, membro da Federação de Cientistas Americanos, em entrevista à CNN:

“A crise brasileira é um risco para a estabilidade global. O mundo não está entendendo ainda o quão grave é a variante P1, identificada primeiro em Manaus, e que já está em vários outros lugares do planeta. É mais transmissível que a variante britânica, de acordo com as pesquisas”

Em suma, o marketing e a mentira das meias verdades poderão colocar em risco a vida de milhares de pessoas”.

Aqui, os estudos sobre o Coronavac e as novas cepas.

Da Agência Fapesp

Na revista Lancet

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